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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

sobre um romance que não existiu

Ela recebeu o sinal: estava nublado naquele domingo.

Mas algo nela achou que isso poderia ser bonito. Que poderia ser o dia 1 de uma longa história, mesmo que estivesse chegando no meio de outra. Ela foi lá, pegou seu melhor olhar, abriu seu peito, e jogou seu próprio Sol naquele domingo nublado. Ela se jogou.

Numa sacola, levou com ela suas melhores intenções, mesmo que escritas em linhas tortas. Levou também seu coração que, mesmo já meio ocupado, ainda tinha espaço. E com ele, ela o acolheu. Dividiu o peso que carregava o outro personagem dessa história (que eu já não me lembro o nome). Havia muito futuro nele. Um futuro que pesava toneladas. Pesava milhões. Pesava a liberdade dela.

As primeiras linhas dessa história já lhe contavam quase tudo que estava por vir. E era tudo nublado. Tão nublado… Que o que ela pensou ser uma longa história, na verdade teria um fim breve, e agressivo. Tanta neblina que teve, que ficou tudo branco na memória.

Teve o fim, e a partir desse fim, nada ficou. Teve o fim. E dessa história, ela nada levou.
Sorriu no seu novo dia 1, deu seu primeiro passo e caminhou.
Leve, livre, nova.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

enfim

Quem dera não mais me importasse.
Depois de tanto tempo e tantos muros, a lua se escondeu atrás de um breu desconhecido. O livro não conta mais história de amor e leitura sociológica define o que sentimos.
E como o vento, passa.
Passa tão dolorido e enfim imperceptível que quando me dei conta deixei os pássaros voarem.

Fiquei de mãos vazias.
E é por esse vazio que eu tenho vivido.
E desse viver vazio que me dei conta que não me importo mais.

Só.
Vazio.
Assim.
Enfim.

Eu venho me sentindo ótima.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

impermanência

Que faz meu nome fora da tua boca?
Quisera eu enxergar o que observava teu olhar cansado, que não meu peito descompassado e meu colo ansioso. O que te prende em devaneios, e me embaça frente teus olhos? O que há detrás de minha nuca?

- minha voz soou como um eco: percebo o esforço em voltar e a tentativa de entender as palavras que estouram como um soluço agoniado - 

Desconexos. Bastou alguns segundos para que o silêncio se instaurasse entre nós, criando um vão que engolia as frases não ditas. Nos reconhecemos como dois desconhecidos. Perdidos um do outro e daquilo tudo que podíamos ser e não fomos.