Às vezes, os medos nos abraçam forte; eles vêm por trás, de pés descalços, sem barulho algum para nos envolver. E quando isso acontece, a tendência nos leva pelas últimas dores, e um vazio imenso se abre por dentro. O medo sempre esteve comigo. No começo era de chegar a um ponto limite. Medo de se entregar. Medo de dizer mais do que a sensatez permite. Mas, depois que já se estava entregue, o medo era de tudo terminar. No fundo, o medo sempre era o mesmo. O medo é sempre o mesmo: da mudança depois que já se vê acostumado. Hoje eu tenho medo do novo. Tenho medo de me mudar. Depois, de chegar a um ponto limite, enfim me entregar completamente, e tudo acabar - mais uma vez.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
de mãos frias
O que me dói nessa hora são minhas mãos. Mãos de poeta, escritas e impulsivas. Letras feias, rabisco. Mãos de gente, que sentem mais que tudo, que alimentam e matam, que transam e que vendem. Que amam. Tudo pelas mãos. E as minhas me conhecem melhor do que eu própria. Doem e resistem falidamente aos textos e ao meu sentimentalismo bobo, assim como agora. E eu amo, sem querer e saber o porquê. Amo as dificuldades, amo a ilusão, a vida nas mãos e no papel, cada vez mais interessante e misteriosa que o próprio viver. E nego-me a qualquer outra maneira de seguir em frente. No momento.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
à impulsividade
Você é uma tremenda babaca, e é assim mesmo, sem um pingo de educação, que eu começo o meu recado. Por sua culpa, e somente sua culpa, eu me remôo por dias, sentindo arrependimento. Por sua culpa eu já disse muitas coisas que não deveria ter dito para muitas pessoas que não mereciam escutar. Você e a verdade fazem de mim uma pessoa pavorosa, que machuca os outros. Eu não gosto de vocês, eu não preciso de vocês, por que vocês ainda estão aqui? Só porque você existe eu me arrependo de ter feito muitas coisas, e eu odeio me arrepender, porque sou orgulhosa demais pra pedir desculpas. Eu te odeio, e é só por sua culpa que eu estou te mandando este recado. Vá pra longe de mim.
sábado, 16 de outubro de 2010
soma de dias
de todos que serão tantos
e a velocidade dos fatos multiplicado por filmes, cafés, estrelas
dividido por provas, trabalhos, correrias
menos alguns minutos de sono
somados a manteiga derretida em cima de um monte de pipocas,
e alguns chocolates,
desse modo, então
enfim
um infinito de você
e
mim.
e a velocidade dos fatos multiplicado por filmes, cafés, estrelas
dividido por provas, trabalhos, correrias
menos alguns minutos de sono
somados a manteiga derretida em cima de um monte de pipocas,
e alguns chocolates,
desse modo, então
enfim
um infinito de você
e
mim.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
primeira quase vez
Foi o beijo demorado que separou a cidade do calor do meio dia e o entardecer, que ia aos poucos apagando a intensidade das cores ao redor. Ela conseguiu sentir o aroma sutil que diferencia uma tarde no parque e um convite para subir ao apartamento misterioso. O tênis foi se travestindo de sapato agulha, preto, deslizado por causa da meia fina que nunca teve coragem de comprar. Foi subindo as escadas para o encontro íntimo - que de íntimo não tinha nada! - Ela sabia o que significava cada degrau deixado para trás, e se tinha a consciência não era íntimo, e nem digno.
Pois bem, ao lado dela na escada o rapaz não sabia que horas eram, não contou quantos degraus faltavam e arrastava os cadarços sem prestar atenção. Enquanto ela, fez e refez a lista mental do certo e do errado, segundo sua mente moralista. Já estavam a dois anos juntos. Tempo suficiente! Ambos maiores de idade e isso deve significar maturidade para encarar esse tipo de coisa. Amavam-se loucamente, e a poltrona do cinema tava ficando pequena pra tanto amor...
sábado, 2 de outubro de 2010
da minha janela
Queria conseguir deixar você saber tudo o que ainda precisa ser curado dentro de mim, com duas das suas palavras mais bonitas, e um dos seus beijos mais calmos. Às vezes, eu gostaria que você visse o mundo aqui da minha janela. Ai você saberia do que eu estou falando. Queria que entendesse meus acessos de seriedade quando alguma frase sua faz meu cérebro pifar. A verdade é que eu odeio esse meu vício crônico de não deixar nada passar, mas foi algo que eu aprendi com meu mundo, enquanto tentava me proteger de mim mesma. E esse é o meu jeito de acreditar em mim e agora em você. Em nós. Bom, talvez eu saiba, de alguma maneira estranha, que talvez nada disso vá funcionar como também eu acredito ser o mais bonito - e mesmo assim, eu acredito -.
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