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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

colecionando quases

Os dois estavam abraçados e a cena toda parecia muito bonita, muito calma, muito tranquila, mesmo. Eles se olhavam de forma carinhosa e sorriam tímidos um pro outro. Ele segurava a não dela e ela então, em uma explosão emotiva resolveu falar. – Já cansei de segurar quem eu sou só pra não te assustar. Cansei de escrever sobre a minha intensidade e impulsividade e blá blá blá, mas se tanto falo, é porque não sei ser de outro jeito. Sei menos ainda viver de outro jeito. E já tô cansada de tentar. Cansei dos seus quases e dos seu meio termos, meio mornos. Eu sei que você me quer, tanto quanto eu te quero. Eu sei. Então me deixa sentir liberdade de me ser com você. Para com esse bloqueio que você nem sabe que me dá. Eu tô mesmo doida por você. Deixa eu me jogar, me derramar. E vê se me segura direito. Ou me solta de vez. – Mas então, ele puxou um outro assunto qualquer e ela resolveu ficar quieta. Deixa pra lá.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

let it rain

Pensar em você me esquenta, mesmo nesse friozinho que a chuva trouxe. Queria ouvir sua voz baixinho agora, seria ainda mais gostoso do que esse som da água batendo na minha janela. Às vezes eu acho que sou terrivelmente romântica. Ou, às vezes, deve ser só vontade de você.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

sem título

Dessa vergonha que sentou do nosso lado, eu nem lembrava mais. Vem, me resolve essa vontade que eu tenho de te descobrir, esse gostar sem possuir, sem sofrer, nos braços da infância. E cada olhar bobo, fim de assunto tímido, comentário que chega de alguém que conta, vira grande coisa, fica repetindo na cabeça. Então eu quero ouvir com euforia, de novo e de novo o mais mínimo detalhe que te escapou de mim. A gente vem vindo devagarzinho e devagarzinho, sem ficarmos tontos. Que de apontar para a nuvem, te vi no céu, de um azul bem azul como a água da piscina nos seus olhos. Nesses eu mergulho sem bóia nem nada. Que me afogue. E que seja bem fundo, porque de rasos eu já me cansei.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

questão de gosto

Pega no meu braço, mastiga a minha vida e cospe suas respostas. Da dor que sobra na minha angústia se fez o combustível da sua fuga, e dentro daquele buraco que ninguém colocou em mim, ainda se perdem gestos. Não tenho mais forças para escalar o muro de dificuldades que você construiu. O tempo envelhece as pessoas e os seus hábitos. Se desfez o impacto, e o tempo passa descontraído, quase sempre distraído para oque queríamos de nós. Não decidi escolher de um só para falar, se todos tem um restinho do mesmo; os atraentes cabelos bagunçados, as vidas e personalidades tortas, e os defeitos que me interessam.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

como um peixe

Chegou em seu quarto e chorou tudo o que guardava a seco dentro do peito. E sufocava, e virou água, e deixou que escorressem os dias. As bolhas levaram todo o seu fôlego para a superfície, quando então, acabou por se afogar. E a dor não morre por falta de ar.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

É, esperar cansa.

sem título

O "não sei" sempre me caiu bem. Não que eu goste, mas ele simplesmente faz parte de mim e escorre da minha boca quando me encostam na parede dos meus sentimentos. Sinceramente eu não sei o que pode ser feito com isso. Sei que a muito tempo, algo emaranhado dentro de mim foi desfeito. Livrou-me tão perfeitamente de um amor que começou torto e continuou crescendo assim, fim. Mas me livrou também da facilidade de comunicar, demonstrar, expor tudo que cresce dentro de mim. O problema é que eu preciso de garantias, ando precisando muito disso. Eu tenho algumas, e pretendo continuar com elas, como um amuleto ou quem dirá uma bússola. E essas dizem para eu ficar aqui, exatamente aqui. Parada, e também calada, guardada. Olha, eu não alcanço aonde vão meus sonhos. Eles me levariam longe, tão tão longe. Mas quisera eu agora aprender a estar em dois lugares ao mesmo tempo. É, eu devaneio assuntos e faço rodeio com meus objetivos, sempre, e cá estou eu. Sabe que eu odeio ter as mãos atadas para te provar as coisas enfeitadas que vivo dizendo? Isso quando justamente estou sendo tão eu. Mesmo sem esperanças - ou assustadoramente cheia delas - continuo esperando.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

sobre o modo de olhar

As vezes eu acho que você só veio abrir uma porta para mim, com entrada para a primavera. E quando eu me perco no reflexo de um vidro de janela, olhando sem olhar para a paisagem se mexendo, é dentro de uns sorrisos que ainda não visitei. Engraçado como as possibilidades chegam como presente das pessoas. Viver aquilo que a gente quer não deveria sem complicado, não quando é assim, sereno. Não quando encaixa tudo tão bem. E um abraço que eu imagino, e olhos deitados, e bocas sorrindo, cheiro de edredom... É fácil, sabe? É tudo tão fácil na minha cabeça.

domingo, 14 de outubro de 2012

asfixia

Era como ter um saco plástico envolto em meu rosto, ouvir as palavras tocarem meus ouvidos sem cuidado. O som amargo. O gosto áspero. O cheiro mudo. Tudo do meu mundinho imaginário, recolhido em pedaços no chão. Perdi-me nas palavras secas e na falta de emoção daqueles instantes gélidos. Sufoquei-me na esperança, maldita esperança que tá sempre aí, esperando pra iludir e se despedaçar.
Mas é que esperar virou rotina, e da vergonha fingir não saber, fingir tudo bem. Da vergonha fingir, porque eu não sou assim.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

de nanquim

Do capítulo novinho em folha, tanto que quis que pedi que falei, implorei, tanto cuidado receio ou estupidez, escrevi com a minha melhor letra e no meio da história a caneta estourou. Borrou tudo dalí pra frente, páginas que eram brancas estão respingadas de incertezas do que vai caber alí, afinal? Respingos que pedem para ser contornados de palavras bonitas que aquela mão escritora não consegue gesticular. Do capítulo novinho em folha passada branca e com cheirinho viciante de papel fresco, sobrou um começo de história seguido por medos e incertezas e mais receios que dominam aquele buraco negro vazio e angustiante que a tinta derramou e aqueles respingos que se dizem consequências das palavras talvez erradas escritas anteriormente. É tanta ansiedade que dá nisso, desastre desatento dessa mão que hoje só sabe tremer, perdida que está.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

de mim

Sempre fui do tipo que se joga, de cabeça, se dedica por inteira em tudo que vive. Nunca soube entrar de mansinho, reconhecer o ambiente e me adaptar aos poucos. Se é pra ser, vou com tudo. E se não for, dou de cara no chão. E gosto, mesmo assim. Aquela dor de ir até o fundo, sem ninguém pra me acolher, bater no chão, sangrar... isso sempre me deu algum tipo de prazer. E entre tudo que vou de cabeça, tenho em mim essa fúria principalmente por amor. Sempre vivi amores intensamente do começo ao fim. E a culpa não é minha se eles morrem. Se suicidam. Ou são mortos rápido ou lentamente por mãos alheias. Já dei culpa ao fato de me chamarem de estrela - sim, estrela, "raio de sol" e essas coisas que brilham, brilham e brilham, mas que também caem ou apagam ou são substituídos. E não me diga que nada substitui. Ninguém é eternamente insubstituível por ninguém. De um jeito ou de outro, o espaço que fica vazio um dia é preenchido por alguma outra coisa. Afinal, até coisas vazias contém o vazio. Só não pode ser preenchido de escuridão. Mas se for, que seja, e que seja uma escuridão tão intensa, que acabe. Exploda.
Porque nenhuma intensidade é eterna, ainda bem.
Mas é sempre substituível por outras coisas, intensas, porque essa sou eu... Uma sucessão de intensidades.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

sob a chuva

Deus riscou o céu de cores que cegam, de raios e relâmpagos ensurdecedores. Em meio á cidade cinza os passos se tornaram gigantes, em busca do ultimo metrô a menina corria contra a brisa de chuviscos leves, que levavam a maquiagem embora, mas que em troca lhe dava um resfriado. Corria sem olhar para os lados, até o momento que se achou patética o suficiente para cair no riso que mesmo solitário, fora cumprido e prazeroso. Era bom se sentir linda quando estava na verdade esquisita. Do lado de fora do mundo, ela sentou no meio da calçada e de braços bem abertos quis que cada parte do seu corpo compartilhasse a água decorrente do sol antes forte. Estava tomando chuva de sol, de noite, sem lua, sem estrelas. Os bueiros vomitavam o que de ruim engoliam, e sem escolha, enchiam a cidade proibindo o transito, retirando a luz das lâmpadas e trazendo para todos o calor das chamas das velas que por toda as ruas se acendiam. A menina se dizia menina, mas todos já sabiam que era moça. Seu RG dizia dezoito, ela respondia vinte e dois. Brigavam sempre, ele com razão, ela com vontade de ter nascido antes, mesmo que morresse antecipadamente também. Quando o caos atingiu a sua realidade distante, tudo voltou a ser apático e o pânico de estar bem longe de casa lhe dava um ar desesperador, quase sufocante. Seus sapatos á arrastavam de jeito pesado e lento até algum abrigo. A memória lhe puxou até a bolsa, que sem nenhum trocado respondera a ela o quanto estava em apuros. Já não sabia o que fazer. Não era a primeira vez aquele ano que algo extraordinário acontecia. Estava se acostumando com a desgraça, a chuva aumentava, o frio rebatia, as pessoas não importavam e o celular foi esquecido quando sentara na calçada. Todo prazer uma hora vira prejuízo, e se um supera o outro pouco sabia – ela só tinha dezoito anos, e tudo que se lembrava quando realmente precisava era desses poucos momentos de loucura, uma quase rebeldia instantânea. Um desânimo gigante se estendia, aquela preguiça de segunda feira dava-se agora em uma sexta de noite. Fome, sede, sono, sozinha. Uma menina de blusa vermelha no meio da cidade branco e preto. Aquele choro de saudade da mãe quando dormia na casa da colega, agora, sentia falta de estar rodeada das pessoas feias e desconhecidas que pouco a pouco iam entrando em suas casas. O último metrô já havia ido embora há tempos, outro só de manhã. Uma noite fora de casa pode remeter e trazer muitas coisas na vida de alguém, mas para ela lhe trouxe mais do que isso. Lhe trouxe o futuro, que começaria pouco tempo depois...