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quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

sobre um romance que não existiu

Ela recebeu o sinal: estava nublado naquele domingo.

Mas algo nela achou que isso poderia ser bonito. Que poderia ser o dia 1 de uma longa história, mesmo que estivesse chegando no meio de outra. Ela foi lá, pegou seu melhor olhar, abriu seu peito, e jogou seu próprio Sol naquele domingo nublado. Ela se jogou.

Numa sacola, levou com ela suas melhores intenções, mesmo que escritas em linhas tortas. Levou também seu coração que, mesmo já meio ocupado, ainda tinha espaço. E com ele, ela o acolheu. Dividiu o peso que carregava o outro personagem dessa história (que eu já não me lembro o nome). Havia muito futuro nele. Um futuro que pesava toneladas. Pesava milhões. Pesava a liberdade dela.

As primeiras linhas dessa história já lhe contavam quase tudo que estava por vir. E era tudo nublado. Tão nublado… Que o que ela pensou ser uma longa história, na verdade teria um fim breve, e agressivo. Tanta neblina que teve, que ficou tudo branco na memória.

Teve o fim, e a partir desse fim, nada ficou. Teve o fim. E dessa história, ela nada levou.
Sorriu no seu novo dia 1, deu seu primeiro passo e caminhou.
Leve, livre, nova.

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

meteorologias

Fomos como o dia que nos conhecemos - um dia que tinha tudo pra ser bonito, mas nublou.
O sol estava lá, aquecendo e intensificando todas as cores ao nosso redor, mas a neblina se manteve pra umedecer nossos olhos. Os pássaros estavam lá, nos cantando melodias e chamando por amor, mas a neblina não permitiu que esse amor nos encontrasse.
Fomos como o dia que nos conhecemos - um dia que tinha tudo pra ser bonito, mas acabou.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

negar a si mesmo

esse doce que precisa de água
essa guitarra que precisa de silêncio
esse coração que precisa de tempo
essa guerra que precisa de flores
esse quadro que precisa de sentido
essa vida que precisa de destino
esse ponto que precisa de imensidão
essa minha terrível contradição.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

do fim

Eu pensava que estava na areia da praia, mas quando desprendi o meu corpo e perdi o equilíbrio já era tarde demais. Ajoelhei por de cima do concreto bruscamente, e sem êxito nenhum os meus joelhos começaram a sangrar. A dor parecia não ser sentida, a dor física havia abandonado o meu corpo há algumas horas. Anestesiada da minha tristeza, inerte de qualquer pensamento sobre o que eu tinha vivido até ali, eu só tinha aquele momento, e isso era tudo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

de porta aberta

Vou deixar você entrar. Só tome cuidado para não se perder, são infinitos os caminhos, e na sua maioria são escuros. Mas você pode pisar sem medo. Tem lá uma infinidade de coisas para que teus outros sentidos sejam aguçados. Entre, devagarinho, e te garanto que haverá um lugar para seu aconchego, onde descansarás numa tranqüilidade infinita - é o pequeno espaço que ainda não é escuro - e lá estando, sei que serei tomada por um calor absurdo, que vai pulsar o sangue por todo meu corpo, e com um sorriso ligeiro vai me passar pela cabeça que ainda há vida, e que no exato momento que você decidiu entrar, ela se fez mais presente do que nunca. E esse pequeno espaço de luz, invadido por sua luz, tomará outros e outros caminhos dentro de mim, clareando tudo.
Estou, neste exato momento, rompendo o meu constante estado de tédio.
Vem.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

poesia arranhada

Nem se eu houvesse escrito
todas as histórias que já recitei ao banho.
dos romances mais bonitos
e das aventuras que a vida me traria.

Nem se eu houvesse composto
todas as musicas que já ouvi ao sonho,
das melodias mais lindas
e das letras que meu coração dançaria.

Nem se eu houvesse pintado
todos os quadros que já mergulhei às cores,
das tonalidades mais quentes
e das pinceladas que minha boca sorria.

Nada superaria
a emoção que é
você.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

27 milésimos de segundo

Durou apenas o tempo de um piscar de olhos. Mas pareceu que durou mais do que aqueles últimos 27 dias. Ele foi embora. E ela sentiu cada passo que os distanciavam enquanto os ladrilhos sob os pés dela se desmanchavam. Olhando pra todo esse abismo que surgia logo abaixo dela, ela ficou ali, parada, paralisada. Seus olhos se fecharam, seus pulmões não seguravam o ar, e seus pés não obedeciam. Não entendia, 27 minutos atrás estava tudo bem. Não entendia. Tanto plano, tanto sonho, tanto sorriso. Não entendia. Tanta intensidade, tanta velocidade, tanta... impulsividade. Ele foi embora. E ela ficou ali, sem saber pra onde ir. O que restou dela, ficou ali.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

planetas

We’re made of stardust. And stardust may be made of infinity. (a.c)
















Você conhece pessoas pra quê? Porque eu... Eu conheço pessoas porque eu gosto de querer conhecer os gostos delas. Eu gosto da novidade que pessoas são na minha vida.
Afinal, eu vivo dentro de mim, certo? E dentro de mim tem os meus pensamentos, meus gostos e minhas vontades, conversando entre eles. Conhecer alguém no mundo real resulta em um viver o mundo dela, mesmo que em pequenos capítulos. Um aqui, outro ali. Você pode ver a vida de outro ângulo e aprender algo com isto. Algo que te faz bem também.
Eu ando escutando musicas de um determinado estilo, porque alguém que passou por aqui, gostava do mesmo. Então, eu tô aqui ouvindo estas musicas porque gosto de querer entender o porquê. E viver um pouco vendo a vida do angulo dela. É como se aproximar, de longe.

E algumas pessoas são como infinitos. Infinitos dançando com o seu.
(Pelo menos é isso que estas músicas estão me contando).

sábado, 30 de julho de 2016

Você é aquela mancha de café no meu vestido branco de domingo.
Um lembrete constante de quanto doce e amarga a vida pode ser.

segunda-feira, 7 de março de 2016

das coisas nossas

Segredos são desvendados quase em silêncio. Na pele que encosta e dá sinal de que gosta. No olho que fecha, na boca que escancara, no ar que circula entre o lado de dentro e o lado de fora. Segredos são sinfonias íntimas, sem letra, sem canto, sem dicas. Segredos são mudos, discretos e indiscretos. Segredos são quentes. Não se diz como é. Descobre-se. Tenta-se e ele se revela por si só. O corpo denuncia que arde, denuncia que vibra, que morde. O segredo escapa. As mãos procuram, vasculham. E as mãos não vêem. Elas traduzem. O braile dos poros, dos pêlos, dos pares. O segredo dispara, confunde-se entre o talvez eu morra e talvez eu nasça. O que acontece com o segredo quando o segredo acontece? Em quanto tempo se aquieta a alma dentro de um corpo que goza? O quanto se dilata sua pupila, seu pulmão, sua mente? Sem entorpecentes, sem álcool, sem anestesia. O quanto você suporta de caos para que então venha a ordem?

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

perguntas

Será que ter certeza de que um sentimento vai acontecer na gente, significa que ele já está acontecendo?

Afinal, como podemos saber qual o momento exato em que um sentimento nasce?