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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

prenúncio do fim

na rua gritam os cachorros perante o silêncio de um fim de tarde, um dia que o isolamento se deu por direito. quase todas as janelas de todos os andares em todos os prédios que cabem na minha paisagem já estão acesas. vista pra cá, janelas de casco podre, que falam oco, com vidros que pendem pra fora. um contexto bege, uma luz amarela acesa. na varanda um jardim de espinhos coloridos, de se colher e entregar como presente romântico.

correm esvoassantes no asfalto as folhas secas que marcam o outono, na calçada da esquerda um homem mascarado encara o vazio, na direita, abaixo do poste, dorme um cachorro (no pé de um corpo coberto de panos e de asfalto, invisível às quem decide não ver). 

na vitrola, o disco parado, a madeira molhada debaixo do vazo, um gole de água e a cortina que dança com o vento, tocando de leve a pele da que ali se fez menina e chora na casa vazia. 

segunda-feira, 20 de abril de 2020

aos poucos

Eu dei um tempo para escolher as palavras certas na minha cabeça. Dei espaço para respirar fundo. Reparei na paisagem. Eu refleti na mensagem do outro. No propósito das minhas escolhas. E o mais importante, eu desliguei o automático. Às vezes cansa viver intensamente cada segundo. O presente exige da gente foco total. Mas os pequenos sorrisos são tão genuínos. Desacelerar nos conecta com nós mesmos. Eu tenho me reparado melhor no espelho. Aos poucos tudo faz sentido.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

quarentena do sentir


Está em casa, ouvindo musicas (nas quais acaba pensando nele – muita coisa lembra-va ele ultimamente), com sua calça mais confortável e um sutiã bonito de tirar. (E com sua mente fantasiosa.) (Justo agora, um daqueles momentos que entra em uma realidade paralela, onde construíram - ela e ele - o planejado e estavam divindindo aquele apê antigo do centro.) Ela está lavando a louça, (uma tarefa diária e meio sem graça, ela pensa.) Mas lavar a louça tem graça quando é uma louça no apê antigo do centro que eles dividem, antes dela cozinhar um prato legal pra dividir com ele. Ele na sala, lendo alguma coisa que ela vai querer saber mais tarde, no almoço. Ela lava louça na sua cozinha espaçosa, pensando em que receita fazer. - O que você acha de milho assado? (Aquele que nunca foi colhido do milharal.) Ele aparece na porta, e a vê com o sutiã bonito de tirar. Se aproxima, fazendo graça com a musica que vem da sala. Segura sua cintura, contornando o ponto fraco dela. (Ela lembra o quanto seu coração é fraco quando se trata dele.) No instante do toque, sua mente voa, instantâneamente. Um vôo dentro do outro. Seu corpo esquenta na hora que o ar da boca dele sopra seu pescoço. Um sopro dentro de outro. (Começa uma música menos feliz lá na sala, e ela sente cheiro de incenso.) - O lugar que eu quero estar é sempre aqui, dentro dos seus braços. Ela diz, lá dentro dela. 

quinta-feira, 5 de março de 2020

dos dias bonitos

Esse céu me inspira. Aquele Sol radiante seguido de uma tempestade, que então volta a a radiar a luz do Sol por entre as nuvens, sabe? Meus olhos querem molhar toda vez que lembro dele, ou dos momentos que ele me deu de presente. Queria que ele pudesse vestir meu coração por alguns segundos, porque nem a melhor precisão conseguiria descrever a sensação que abraça todo o meu peito de dentro para fora. Não existia melhor presente do que sua companhia. Clichê, eu sei. Mas nada que ninguém faça muda isso aqui. Caminhar pra longe dele é como arrancar de mim uma parte, uma parte minha que deixo com ele.
Eu mal soube me despedir... É como se ele sempre estivesse perto de mim.

domingo, 8 de dezembro de 2019

impermanência

Que faz meu nome fora da tua boca?
Quisera eu enxergar o que observava teu olhar cansado, que não meu peito descompassado e meu colo ansioso. O que te prende em devaneios, e me embaça frente teus olhos? O que há detrás de minha nuca?

- minha voz soou como um eco: percebo o esforço em voltar e a tentativa de entender as palavras que estouram como um soluço agoniado - 

Desconexos. Bastou alguns segundos para que o silêncio se instaurasse entre nós, criando um vão que engolia as frases não ditas. Nos reconhecemos como dois desconhecidos. Perdidos um do outro e daquilo tudo que podíamos ser e não fomos. 

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

ex-carta

sou dessas que não sabe encerrar um assunto sem uma última conversa onde seja possível, aom enos, tentar clarear as coisas, tentar entender o porque e colocar um ponto final nas conversas que nunca aconteceram. pessoalmente não tivemos a chance, e por mensagens tudo saia errado, eu venho por Eu sou dessas que não sabe encerrar um assunto sem uma última conversa onde seja possível, ao

menos, tentar clarear as coisas, tentar entender o porque e colocar um ponto final nas discussões. E já

que pessoalmente não tivemos a chance, e por mensagens tudo saia errado, eu venho por meio desta

carta, organizar pensamentos, expirar o que sinto ser preciso, deixar ir. Talvez seja a escritora de

dentro de mim pedindo, também, pra sair.

Com você tive o relacionamento que desejei. Apesar de qualquer problema - porque sempre haverão

problemas -, eu fui muito feliz. Demorei te amar, porque, ainda, tenho medo do amor. Eu sei o quanto

amar é bom, mas não é tão fácil assim colar todos os pedacinhos quando alguma coisa quebra dentro

da gente. E em mim, o que quebrou foi o amor. Com você eu corri atrás de melhorar o tanto que

pude, no tempo que consegui, e quis muito te fazer feliz. Apesar de qualquer problema - porque

sempre haverão problemas.

De maneira sincera, lhe peço desculpas que, ao fim, tudo ficou tão pesado pra você. A intenção nunca

foi essa. Essa coisa ruim que me acompanhava, e que eu achava ter ido embora no momento que te

conheci, ela não é minha. Eu já tratei de mandar ela embora - antes tarde do que nunca. To me

conectando novamente com quem eu era, dia-a-dia, to chamando aquela Amanda, imatura porém

inteira, leve, que sorria por qualquer besteira, e que amava, de corpo e alma… Cada dia eu trago ela

mais pra perto. Acendi as sete velas azuis, fechei o olho e chamei a luz pra dentro de mim. E ela tava

lá, logo na primeira vez. Tem luz de todo lado agora.

Eu não entendia, porque, me trancar pra fora como você fez. Passei por todas as etapas: raiva,

indiferença, falta, raiva de novo, tristeza que parecia não ter fim, aceitação e, agora, acho que começo

a compreender. Sem isso, estaríamos ainda sem enxergar o que era preciso pra cada um. A fase agora

é de querer saber o que foi que você enxergou, mas sabendo que não me pertence perguntar. E não

to perguntando, mesmo. Mas precisei escrever, pra entender o que eu mesma to sentindo, aqui, e

agora. Encher o papel branco de palavras a fim de torna-las reais, fisicas, palpáveis.

Eu entendo você. E peço perdão por te machucar.

Você foi uma história de amor linda, que vou carregar comigo pra sempre, que tiro grandes lições, que

me reconstruiu, ao invés de sair ainda mais quebrada do que entrei.

Que vivamos. Que saibamos viver.

E que você possa ser feliz por ser você.

Obrigada por esse capítulo lindo.meio desta

carta, organizar pensamentos, expirar o que sinto ser preciso, deixar ir. Talvez seja a escritora de

dentro de mim pedindo, também, pra sair.

Com você tive o relacionamento que desejei. Apesar de qualquer problema - porque sempre haverão

problemas -, eu fui muito feliz. Demorei te amar, porque, ainda, tenho medo do amor. Eu sei o quanto

amar é bom, mas não é tão fácil assim colar todos os pedacinhos quando alguma coisa quebra dentro

da gente. E em mim, o que quebrou foi o amor. Com você eu corri atrás de melhorar o tanto que

pude, no tempo que consegui, e quis muito te fazer feliz. Apesar de qualquer problema - porque

sempre haverão problemas.

De maneira sincera, lhe peço desculpas que, ao fim, tudo ficou tão pesado pra você. A intenção nunca

foi essa. Essa coisa ruim que me acompanhava, e que eu achava ter ido embora no momento que te

conheci, ela não é minha. Eu já tratei de mandar ela embora - antes tarde do que nunca. To me

conectando novamente com quem eu era, dia-a-dia, to chamando aquela Amanda, imatura porém

inteira, leve, que sorria por qualquer besteira, e que amava, de corpo e alma… Cada dia eu trago ela

mais pra perto. Acendi as sete velas azuis, fechei o olho e chamei a luz pra dentro de mim. E ela tava

lá, logo na primeira vez. Tem luz de todo lado agora.

Eu não entendia, porque, me trancar pra fora como você fez. Passei por todas as etapas: raiva,

indiferença, falta, raiva de novo, tristeza que parecia não ter fim, aceitação e, agora, acho que começo

a compreender. Sem isso, estaríamos ainda sem enxergar o que era preciso pra cada um. A fase agora

é de querer saber o que foi que você enxergou, mas sabendo que não me pertence perguntar. E não

to perguntando, mesmo. Mas precisei escrever, pra entender o que eu mesma to sentindo, aqui, e

agora. Encher o papel branco de palavras a fim de torna-las reais, fisicas, palpáveis.

Eu entendo você. E peço perdão por te machucar.

Você foi uma história de amor linda, que vou carregar comigo pra sempre, que tiro grandes lições, que

me reconstruiu, ao invés de sair ainda mais quebrada do que entrei.

Que vivamos. Que saibamos viver.

E que você possa ser feliz por ser você.

Obrigada por esse capítulo lindo.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Eu queria te tocar agora. Da mesma forma que se toca uma música, acompanhando o ritmo com notas que se seguiriam compativelmente numa contínua melodia. Crescente, sempre crescente, até que se acalma para um fim tranquilo, de pernas e pés entrelaçados...

E assim, você e a gente...
ficou tudo preso na minha cabeça igual a um bom refrão.

domingo, 17 de setembro de 2017

como um gato

tem noite que fico como um gato, 
deitada na janela,
observando as luzes da cidade,
as estrelas no céu,
pensando sobre cada ponto,
cada virgula, 
cada letra,
cada palavra,
que toda aquela vida ali logo abaixo e acima de mim, 
me dava pra pensar na minha,

nessa minha vida de gato.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

about a part of love:


I wanna cook
whatever you feel like eating.
(when you’re high).

domingo, 2 de julho de 2017

Parte II.

Roadtrips.

“você é minha road trip favorita”. 
(pensou em usar essa frase em uma postagem de um futuro próximo).
antecipar alegrias tem sido seu passatempo favorito, 
desde que o conheceu.

aquele clichê:
moreno bonito, 
olhos verdes, 
sorriso que faz até apertar
no peito.

e tinha mais, ainda
flores, cartão, presentes
video-game, pipocas, conchinhas
madrugadas querendo, conversando, sorrindo
pinta de soldado, 
e uma cabeça no mundo da lua.

eita. 

houve um momento em que ela não acreditou.
“será que eu posso ter sorte assim?”

assim.

ela olha pra ele no carro,
ao lado dela
musicas escolhidas a dedo,
tocando alto

e o sol batendo por trás da silhueta dele.
“fica bem ai que essa luz tá tão bonita”

clic.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

das coisas que não se apagam

No fundo da tela a tal da mensagem:
minúscula em um celular
falava de um tal de amor imenso
nem pra ser em papel de carta
pra deixar amarelar

a mensagem piscava
pela luz escassa
rolando debaixo do meu dedo
essa tal de tela touch:
um toque e tudo pode desmanchar

E não haveria durex para remendos
nem papel picado no lixo
só um botão, e não haveria rastros
a tecnologia sem querer inventou amor etéreo:
a virtualidade deixou as palavras desnudas de corpos.

Posso deixar então, por ora
o amor amado
guardado na memória do aparelho
há outras coisas por dentro de mim
que precisaram ser arquivadas

Ah benzinho, de todas as palavras trocadas
de todos os exageros incontidos
de todo o silêncio confortável
essa mensagenzinha nanica
é a minha favorita.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

o homem mais alto do mundo

Ele era o homem mais alto que eu já havia visto na vida. Muito alto. Alto de não caber nos lugares, alto de ter que andar curvado no metrô, alto de tudo. Um gigante na terra de estaturas medianas. E como não ser notado? Aquela massona se deslocando pelos espaços, ocupando quase tudo, com sapatos quase irreais, imensos a pisar no chão, aquele olhar manso de bichão assustado, maldita indiscrição de tamanho. Tinha outros olhos diante do mundo, devia enxergar uma outra linha de horizonte, olhos que viam poucos olhos e muitos cucurucos, e sem querer, podia prever os futuros calvos. Ele devia ter também o maior coração do mundo - pra bombear tanto sangue, precisa de um super coração. Devia caber muita coisa naquele coração, naquele estômago, naquele corpo todo, caberiam uma de mim, 2 chineses, um cachorro e um canário, pra cantar, solitário na andança. Acho também que não podia pular, imagina? Perigosíssimo. Queria perguntar como era viver em um mundo que não fora feito pra ele, mas me contive para não ser mal educada. Mas é algo questionável, não? Como é estar em um mundo que não foi pensado pra ti. Ai tem que virar tatu, se achatar, tentar encontrar um desconfortável encaixe pra caber. Tem o mundo inteiro, mas tem que caber naquele espacinho que lhe rodeia por hora. Bom, acho que não é nada muito diferente do que fazemos todos os dias. Mas enfim, nossa, ele era o homem mais alto que eu já havia visto na vida.

sábado, 25 de março de 2017

Oferece-me suas mãos vazias
enquanto brinca no meu corpo
de cavocar o peito
com uma colher.
Engole todos os pedacinhos de mim
na sua fome de afeto:
foi consumindo tudo
e ficou com um estômago repleto de mim.
Enquanto eu fiquei com ausência 
esparramada na cama
na espera de algo que preenchesse
minhas vísceras 
vazias
como suas mãos oferecidas.

segunda-feira, 6 de março de 2017

Gosto de você 
até quando fecho os olhos
todos os dias
e todas as horas
preenchendo minuto por minuto
de candura e dor
de contrários avessos
de mudez crônica
de imenso e incorrigível
indelicado e mal-educado
amor.

(engulo arranhado: 
os olhos se embargam
não sei se de sede, fome ou falta
o corpo se esquece ali 
tudo desatina em sincero incômodo 
e tudo se confunde 
enquanto gesticulo frases mal resolvidas: 
balbucio nadas
grunho em mímica
pois não tenho coragem 
de romper o silêncio. 

outro dia eu me larguei encostada na janela do metrô, queria ser conduzida por caminhos retilíneos, queria observar as coisas fora de mim: espiava o mundo passar rápido, espiava o livro da mulher ao lado, eu
queria comer as páginas todas, meu estômago doía de fome, ele queria comer as páginas e me preencher de ecos alheios de um amor fictício. 
e que passa rápido. 


"pula no trem", "pula do trem".
deita na linha e espera. 
morreatropeladaeexplodeopeitooarrastandonochão.
para tudo virar a mesma coisa. 
os pedaços teriam gosto de choro.
daria para raspar
raspar tudo com uma colher 
e colocar em um pote: 
aflição em conserva
era só choro na vida, essa daí: 
o bom sempre me escorre
feito suor no corpo em dia de sol. 
brota dos poros e ensaia a queda
escapa na risada: 
por isso não estou muito de sorrisos
nem de risadas
nem de nada:
não sou de nada
tirando essa troglodice dita amor 
que insiste em me rasgar as paredes 
da boca
e do estômago).

sábado, 25 de fevereiro de 2017

sobre o peso das coisas

Navego sem saber se o que me embrulha o estômago é o curso do barco ou as sílabas que se agitam furiosamente querendo criar falas para sentimentos mal-entendidos. Brotam na garganta com uma voz estranhamente conhecida, mas saem do corpo como que em outro idioma - eu não entendo o que quero dizer a maior parte das vezes.