Gosto de você
até quando fecho os olhos
todos os dias
e todas as horas
preenchendo minuto por minuto
de candura e dor
de contrários avessos
de mudez crônica
de imenso e incorrigível
indelicado e mal-educado
amor.
(engulo arranhado:
os olhos se embargam
não sei se de sede, fome ou falta
o corpo se esquece ali
tudo desatina em sincero incômodo
e tudo se confunde
enquanto gesticulo frases mal resolvidas:
balbucio nadas
grunho em mímica
pois não tenho coragem
de romper o silêncio.
outro dia eu me larguei encostada na janela do metrô, queria ser conduzida por caminhos retilíneos, queria observar as coisas fora de mim: espiava o mundo passar rápido, espiava o livro da mulher ao lado, eu
queria comer as páginas todas, meu estômago doía de fome, ele queria comer as páginas e me preencher de ecos alheios de um amor fictício.
e que passa rápido.
"pula no trem", "pula do trem".
deita na linha e espera.
morreatropeladaeexplodeopeitooarrastandonochão.
para tudo virar a mesma coisa.
os pedaços teriam gosto de choro.
daria para raspar
raspar tudo com uma colher
e colocar em um pote:
aflição em conserva
era só choro na vida, essa daí:
o bom sempre me escorre
feito suor no corpo em dia de sol.
brota dos poros e ensaia a queda
escapa na risada:
por isso não estou muito de sorrisos
nem de risadas
nem de nada:
não sou de nada
tirando essa troglodice dita amor
que insiste em me rasgar as paredes
da boca
e do estômago).
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