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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Guarda - Sonhos

Abri o guarda chuva colorido, que cobria o céu da cidade inteira. O cheiro de derrota compunha o vestido rodado da menina de cabelos jogados, que por ali passava, comendo pipocas, de todas as cores, formas e matrizes.

Continuei andando, eu e meu guarda chuva colorido. Tinha logo ali, uma estatua pintada de fracassos, e por isso estava fingindo ser de pedra, e seu coração batendo, batendo, batendo. Eu poderia ter lhe dado o meu coração, mas só tinha alguns trocados ali jogados.

Cidade pequena, de ruas sem ladrilhos, sem pedrinhas de brilhantes para o meu guarda chuva passar. Os meus sapatos tinham forma de boneca, o da mulher sentada tinha cheiro de doença, talvez pelo rosto pálido, e os chinelos surrados.

A groselha gelada, o casaquinho vermelho de crochê que em meu corpo se ajeitava, o guarda chuva que por ali caminhava, e queria caminhar.

Se fosse para rir, eu olharia para a criança gorda que espantava as pombas da pracinha, se fosse para chorar, eu encostaria delicadamente a minha cabeça nos ombros da velha cansada que usava cadeira de rodas.

Ah, se fosse para amar... Meu guarda chuva havia brilhado de cores, eu descobri. As unhas que se renovavam toda semana queriam apertar a sua nuca. Por exatos dez segundos, a cidade parou para ver o bonitão que só eu vi. Câmera lenta, aquela era a hora de tocar a música principal, o andar distraído, sem olhar para mim, foi deslizando pelo chão do mundo inteiro, o rapaz que de lindo é pouco, que de tão pouco, foi bastante para mim. Quando a groselha cai, os sapatos se distraem, eles tropeçam, juntos, em direção ao chão, o guarda chuva colorido voa para qualquer lugar, e de tão colorido, ficou desbotado. O garotão pega na minha mão – Está bem, querida?

Estou?

O meu sorriso assoprava ansiedade, e o meu olhar queria ir brincar de ser princesa em roda gigante.


repostando - 12.07.07

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