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domingo, 27 de dezembro de 2009

e fim

2009 foi o ano da dúvida, do medo, da incerteza, da insegurança, do amor dilacerado, do coração destroçado, da dor, da dor intensa, da tristeza, do choro, da lágrima. E aí, o que era para ser uma coisa simples, se tornou um peso na vida, uma perna a mais para arrastar, um problema que não tinha solução.

2009 foi o ano da desmistificação do amor. Aos poucos, entendi que a vida não é de seriado. Se me tornarei alguém pior por isto, não sei, mas teve que ser assim.

2009 foi também o ano de sorrisos sinceros, experiências, pessoas incríveis, sentimentos intensos, festas, novos lugares e amigos mais amigos.

Não posso negar, teve até um pouco de equilíbrio.
Mas um lado sempre pesa mais.




Eu to indo ver o mar, pular as sete ondinhas e jogar flores pra Iemanjá, acreditando que meu sorriso de canto de boca pegue minha boca inteira de jeito no ano que vem.

sábado, 26 de dezembro de 2009

sobre a diferença

Atrasada, ela chegou com uma blusa linda, bem velha. Um shorts jeans curtíssimo e largo. O cabelo fora do lugar, que preso, até dava a impressão de estar arrumado. As unhas e os olhos estavam borrados na mesma proporção. Ela entrou, todo mundo olhou. Era uma hora da tarde, como alguém poderia sorrir naquele estado?! Ela acendeu um cigarro e todos pensaram...



Bom, sabe como são as pessoas... cada uma pensou uma coisa.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

sobre a separação

"Não, não precisa levantar. Pode ficar bem aí, no sofá, pra ouvir o que tenho pra dizer. Mas antes fecha esse teu sorriso, eu não estou de volta. Ouviu? Roubei o carro do meu pai, dirigi até aqui, passei pelo seu porteiro curioso, subi esse elevador cheirando mofo só pra te dizer exatamente isso: eu não estou de volta. Pode ficar com tudo. Seus livros empilhados seus discos mal guardados suas plantas semi-mortas que eu não rego mais. Pode ficar com tudo. Com esse vaso de flores amarelas e de plástico com esse seu apartamento minúsculo e com essa caixa de fósforos quase vazia. Não quero nada. E eu só achei que você deveria saber que você pode ficar com tudo. Com os meus beijos e meus apertos e meus carinhos feitos quando eu, tola, achava que era você o que eu andava precisando. Nada. Não quero nada e achei que você deveria saber que esta é a ultima vez que você me viu por este olho-mágico riscado, antes de me espiar por ele, já de costas, no rol com marcas de mãos pretas pelas paredes, indo embora de uma vez por todas ao entrar naquele elevador que demora pra chegar e demora pra descer e demora ate pra abrir aquela porta mofada pra que finalmente, eu vá embora. Eu só achei que devia lhe avisar que não quero mais nada. Que você precisava saber que esta é a ultima vez que estou pisando nesse seu carpete encardido e olhando pra todo esse caos que um dia chamamos de paraíso. Não, não precisa levantar, não. Você pode ouvir tudo daí, com essa bunda grudada no sofá. Eu só passei mesmo pra dizer que não quero nada de volta. Nem aqueles beijos todos que te dei. Eu poderia te fazer cuspir um por um agora mesmo, de joelhos sobre esse carpete encardido, mas eles não vão me fazer falta e eu estou com um pouco de pressa. Só passei mesmo pra lhe avisar que não, eu não estou de volta."


(desconhecido à mim)

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

desvantagem

Quando se trata do que mais amo, me afundo em intermináveis explicações primeiramente para tentar descrever o que é amar. Porque tanta gente como eu, como agora, passam longos dias em procura constante, meio que na contra mão, sem sentido na frase, sem sintaxe ou vírgula que separe (e sem aspas).
É pouca nobreza para estimáveis bilhões de pessoas, tantas, tantas.
O que Deus quer com todo mundo? Afinal, pares de olhos para os cegos, caolhos e até defeituosos. Todos do mesmo ciclo, que dizem que acaba da mesma forma. Uma pessoa tropeça na rua, rompe pequenos ligamentos e desaparecem com a sua vida. Ela se dissolve como açúcar na chuva, o açúcar é doce e a chuva o torna sem gosto algum. A árvore tem sangue de arvore, e o papel que escrevo quer dizer muito mais que uma árvore estática. O vento sopra essa arvore e a deixa em pé de guerra comigo. Estamos as duas em movimento, mas ela tem por si uma vantagem de ter alguém junto dela fazendo com que cada parte se mova. E seu eu, agora, parasse de respirar...

domingo, 20 de dezembro de 2009

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

estranho

A noite anda muito mais escura, o vento está muito mais frio, o mundo aos meus olhos está muito maior - agora que estou sozinha. As árvores estão muito altas, e eu estou me sentindo bem menor. A lua está duas vezes mais solitária e as estrelas estão com apenas metade do brilho.



Mas uma hora ou outra tudo volta ao lugar, eu sei.
E essa hora não irá tardar.

domingo, 13 de dezembro de 2009

estado de coma

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado para sempre à margem de nós mesmos."


por F. Pessoa

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

sábado, 5 de dezembro de 2009

sobre o coração

Na terra do coração passei o dia pensando - coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só com - cor, ação - repetido, invertido - ação, cor - sem sentido - couro, ação e não. Quis vê-lo, escapava. Batia e rebatia escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei. E como quem gira um caleidoscópio, vi: meu coração é um sapo rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

sobre o silêncio

Estou em um momento de introspecção, de reflexão com o propósito de avaliar na minha vida afetiva as coisas, hábitos e pessoas que não me servem mais. É um momento difícil, em que é melhor desistir do que martelar em cima de uma mesma tecla. Para que minha vida afetiva caminhe, talvez seja necessário abdicar voluntariamente de pessoas ou situações. Neste momento, as vontades do ego de nada valem e tenho que reconhecer que não se pode ter sempre tudo o que se quer. É um momento de escuridão da alma, não num sentido maléfico, mas como um processo necessário para que eu saia de uma fase de estagnação e evolua emocionalmente. O importante é compreender que desistir de algo não implica em perder. Muitas vezes, desistir é vencer...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Brighter Discontent - The Submarines

Got a brand new roof above my head
All the empty boxes thrown away
I rearranged the place
A hundred times today
But the ordering of objects
Couldn’t hide what’s missing

All these things should make me happy
Make me happy to be home again
All these things should make me happy
Make me happy to be alone again

Got myself a bottle of red wine
Got a night of nothing else to do
I think I might know
What I really want
But is a brighter discontent
The best that I could hope to find?

Got a big black television set
Now I can watch just what I want
But I’m here staring up
At pictures on the wall
And where are you,
You’re still stuck inside them all

All these things should make me happy
Make me happy to be home again
All these things should make me happy
Make me happy to be alone again

But love is not these belongings
That surround me
Though there’s meaning
In the memories they hold
A breaking heart in an empty apartment
Was the loudest sound I never heard

Got a desk I’ll write myself a note
Pretending that it came from you
On hotel stationary
From the time we first met
Whatever I can do cause
I won’t throw my hands up yet

All these things should make me happy
Make me happy to be home again
All these things should make me happy
Make me happy to be alone again

But love is not these belongings
That surround you
Though there’s meaning
In the memories they hold
A breaking heart in an empty apartment
Was the loudest sound I never heard

Well I’ll be fine if
I dont look around me now
Too much for what’s gone
If only I can wait here just a little while
And let time pass in my room...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

re-postagem

Eram quase nove horas quando ele atravessou a sala com tudo. Bateu a porta de um jeito que fez estremecer todas as paredes da casa. Encolhi os ombros, serrei os olhos com o barulho, e senti estremecer até os meus ossos. Não me arrependi. Talvez ele nunca fosse entender mesmo, e eu não precisava que ele entendesse. Para ser franca, nem queria. Quem sabe se eu devesse ter corrido atrás dele, gritado seu nome, se pelo menos lhe desse um pequeno abraço que seja. Um abraço não curaria nada! Eu sei disso porque anos atrás quando eu saí batendo a porta, a última coisa que queria era a porcaria de um abraço.


Olhei entusiasmada para a janela toda molhada de chuva, sempre achei que ela ficava mais bonita assim. Uma folha de árvore, bem grande, grudou no vidro por alguns segundos. Aproximei-me e vi que era seca, então caiu. Logo voltei meu pensamento nele, aquele que fiz sair feito um furacão tão furioso que destruiria uma cidade inteira só para aliviar sua raiva. Grande bosta, ele caiu como a folha, e de tão seco que era não fez falta. Caiu de seco que era. E acredito que seria impossível calcular quantos quilos aquele garoto pesava para mim.

O cigarro ainda queimava no cinzeiro, em cima da mesa de centro. Eu o acendi logo que resolvi falar tudo de uma vez. Foi tudo isso o que durou a nossa briga. O fim de meses inteiros, anos contadinhos dia por dia, resumiu-se nesse meio cigarro queimado. Uma pena, deve ser para ele. Uma pena deve ser para os olhos daqueles que nos acompanhavam como se fossemos uma novelinha. Uma pena para os tios, os primos, e os amigos que nos azucrinavam nas festinhas de família. Uma pena também deve ser para aqueles invejosos que tinham o que invejar e agora não sobrou mais nada. Na verdade eu não me importo muito mais.

Abri a geladeira, eu sempre faço isso para matar o tempo. Agora eu queria fazer alguma coisa com o tempo. Estava ficando deprimida. Acho que meu egoísmo me pegou severo demais. Mas toda vez que eu pensava na boca que eu já havia enjoado, subiam-me náuseas. Era um desgosto só imaginar tudo de novo, todo aquele tempo que hoje está morto. E eu falando em matar tempo. Nunca matei tanto tempo estando ao lado de alguém. Exatamente assim, acho que estávamos apenas matando o tempo. Matamos belos meses, um maravilhoso ano, muitos meses e poucos dias, doze horas e meio cigarro queimado. Bom, agora até o cigarro já havia apagado.

Fico pensando se algum dia eu o topar pela rua. Caminharíamos algumas quadras juntos, ele forçaria um sorriso escancarado e eu me encheria de tédio, mas seria bem agradável. Ele certamente perguntaria a quantas anda a minha vida, e comentaríamos de alguns conhecidos. Depois na esperança de me conquistar de novo, ele me convidaria para um encontro, só para quem sabe, algum dia, ter a chance de me massacrar como eu fiz anteriormente. Talvez eu até deixaria escapar um sorriso sincero. Nos despediríamos na próxima esquina e haveria mais um fim de um dia estúpido, daqueles que só servem para enxer sua vida de horas.

Entretanto, se eu acabar por me apaixonar novamente por ele, seria por algum detalhezinho que eu ainda não fui capaz de enxergar. E aí, ele seria uma outra pessoa, tão nova quanto uma daquelas que se vê pela primeira vez em um bar. Porém, esse futuro nem sequer existe, e eu não quero que venha a existir.

A realidade é que eu já o troquei, por alguém bem menor que ele. Mas que se encaixa perfeitamente nessa porção limitada que eu sou. Os seus braços se parecem mais com os meus. Simplesmente fui correr atrás dos meus interesses.


Deitei no sofá, brincando com controle remoto da televisão enquanto paquerava o telefone. Eu tinha para quem ligar, só não queria ainda...



[não tinha sentido, agora tem]

domingo, 29 de novembro de 2009

.

- Eu não sei nada.
- Te ensino a saber, não a sentir. Não sinto nada, já faz tempo.
- Eu só sinto, mas não sei o que sinto. Quando sei, não compreendo.
- Ninguém compreende...

sábado, 21 de novembro de 2009

sem fé eu vou

Ando colecionando discos que eu nunca vou ouvir.
Metaforicamente. Literalmente. Em tudo na vida.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

internal talk

É que quando eu tô sozinha, é assim que eu quero ficar. E quando tô com você, fico confusa. Mas e não quero escolher minhas vontades por freqüência de quereres.

Então, o que acontece agora?
Optamos por uma coisa que não sabemos como fazer ou como vai ser, mas optamos.
Ou foi eu que optei?
Não me pede pra mudar agora.

Esse ventinho batendo em meus cabelos ta servindo pra alguma coisa. Mas eu ainda me sinto afundando, não me pede pra falar aonde.

Será que o parcial consegue?



Será que eu ainda o consigo?
I don’t think so. Shit.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

4 a.m

Deitou-se no chão - para que não houvessem quedas - e naquele dia, chorou. Apenas isso. Deixou que escapassem dos seus olhos tudo aquilo que sonhava em não ver. Quando um momento era muito bom, já imaginava como seria a falta do que ainda tinha. Faltava-lhe as coisas que tinha; que tinha distante. E as que quase não tinha; já não tendo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

ferida

Odeio me sentir assim, com o coração na mão.
O pulsante e exangue órgão jaz em minhas mãos, apunhalado.

Apunhalado por uma vida desconhecida, previamente.
Dilacerado por uma frase de quatro letras e três pontos.

Ela pesa.
Petrificada, como um cadáver e cinza, como a rocha de calcário do Monte Calvário.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

despertar

É fácil se acomodar na rotina, oscilando entre sentimentos mornos. Mas ao sonharmos, somos assaltados pelo incomum. As mensagens estão devidamente escondidas em cenas ridículas, grotescas, banais ou engraçadas, mas o sentimento vem cru e indigesto.

Ao acordar, soando frio, inquieto, você faz o que há de mais normal: procura algo familiar, que não te deixe sozinho no escuro e no silêncio, atormentado pelas sensações oníricas, enquanto as imagens se dissipam devagar na consciência. Mas você acordou na hora em que o resto do seu mundo já foi dormir - e agora?

 
 
Me tira daqui.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

não-domesticado

E você despe suas roupas sujas, se lava com água fria e não encontra pedaço de pano que te seque.

Então, enquanto treme sozinho no escuro se lembra de todas as cores que já conheceu na vida, e de como todas elas fugiram como os ratos fogem dos gatos.

Depois, enquanto chora, percebe que as cores são, na verdade, as pessoas, e que mesmo em dois mil anos, elas não teriam fugido se você não as tivesse espantado.


Como um gato.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

terça-feira, 27 de outubro de 2009

do vazio

Então ela lambeu as lágrimas que escorriam,
manchando a língua de tristezas.
Quando o vazio é muito grande,
as lágrimas são transparentes.
 
- por Rita Apoena

domingo, 25 de outubro de 2009

prefiro assim

- Você tem ficado muito sozinha ultimamente.
- Prefiro assim.
- Não se sente solitária?
- Me sentiria se estivesse presa em uma caixa branca e vazia. Mas com tudo isso ao meu redor, não tem como.
- Estou falando sobre pessoas. Não sente falta?
- Sinceramente, não.
- ...
- Ultimamente não sinto vontade de acordar no dia seguinte e as pessoas só piorarem isso. Preciso de um tempo comigo para me acostumar com a idéia de viver mais um dia, para conseguir aguentar.
- Sim, um tempo... Uma hora ou um pouco mais. Mas você tem ficado muito sozinha ultimamente.
- Prefiro assim.

domingo, 18 de outubro de 2009

terça-feira, 13 de outubro de 2009

então vi,

toda a água escorrendo pelo ralo.

sobre o medo

Não sei. É que eu estou assustada há tanto tempo, que me esqueci do quanto estou assustada. Essa coisa de ter aquilo que me faz bem não costumava ser parte do meu dia-a-dia. Era raro, quase impossível. De repente, entrou na minha vida tão rápido e sem jeito, que eu me assustei. Estou assustada até hoje. Assusta-me meu medo e o modo que você reage ao seu. Como já reagiu. Como as coisas vivem assim? É realmente assustador... Como o ser humano pode conviver com dores tão intensas, conviver com o orgulho ferido, conviver assustado dessa maneira, e continuar a conviver, mesmo depois de tanta história, passando por cima de toda a rotina e tédio e lágrimas e mentiras e decepções e mágoas e dor, dor e mais dor... Como pode continuar querendo e sorrindo e sentindo falta e desejando e, amando, sendo assim tão assustador? Eu não sei. Não sei. Pra mim, ser feliz é a coisa mais aterrorizante do mundo.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

desabafo quase em palavras desconhecidas.

Não deixe quebrar, não deixe romper, não deixe virar grafite envelhecido e esquecido. Corra e cole os pedaços, corra e segure meus pés no chão porque eu estou quase voando, ou me faça voar novamente com você. Por favor, não espere o sanduíche ou a festa do ano, não espere a minha próxima assoada de nariz e a minha cara assustada perdida na sua ausência.
Venha logo, traga de volta a minha certeza, não deixe, por favor, não deixe. Traga um agasalho para esquentar a minha falta de amor e ganhe em troca um ingresso para a minha fidelidade. Não espere o horário do trânsito livre, não espere ouvir o que você não quer, não espere a vida dar merda para colocar a culpa na vida.
Eu ainda estou aqui por você, limpa, ilesa, sua. Mas cada milímetro do meu corpo me implora por vida, por magia, por encantamento. Por favor, me roube, não deixe, não esqueça do nosso pacto em não ser mais um daqueles casais que continuam juntos por inércia e reparam tristes nos outros.
Outro dia ouvi aquela musica e lembrei do quanto te amava. E eu lembrei que enxergar sem pretensões você dormindo, com o seu ombro caído pra frente fazendo bochechas de criança na sua cara feliz, é a visão do paraíso pra mim.
Eu preciso de força, eu preciso de ajuda, eu preciso que você me lembre de que eu não preciso de mais nada, que mais nada é tão perfeito e que podemos ser um casal imbatível.
Caso tudo isso seja um trabalho inconsciente para me perder, você está conseguindo. Mas se ainda existir dentro de você alguma esperança, eu preciso demais que você me abrace e me faça sentir aquilo novamente. É fácil, basta você querer, eu ainda quero tanto.
Venha agora, não espere o músculo, a piada, o botão, o calo, a saudade, o arrependimento, o vazio, a coragem, a chance, o medo. Eu preciso sentir que você ainda sente, eu preciso que o seu coração dê um choque no meu, eu preciso saber que seu peito ainda aperta um pouco quando eu vou embora e se espalha como borboletas nas veias quando eu chego. Eu quero que você grite dentro da minha cabeça que não precisamos disso e que, por alguma razão, quando a gente se afasta a dor é maior do que todo o mundo que nos espera.
Eu ainda preciso que você me ache bonita, se surpreenda, me comemore e esqueça um pouco de todo o resto pra se encantar sem medo do tempo.
Não me tire a razão, não me tire a honra, não me faça estragar tudo só para sentir o vento na cara de novo e a música alta. Berre e assopre em mim enquanto é tempo.
Venha agora, ganhe a corrida, passe todo o resto pra trás.
É você quem eu continuo eternamente esperando na linha final.'

briefly

'In time, I'll belong to you.
That's how it's meant to be,
And how it's always been.'

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

...então ela rasgou este pedaço de papel.

Querido,

a verdade é que nos recuperamos do vicio de viver entrelaçados.
Os carros não atravessas mais o reflexo de nossas mãos dadas, não flutuamos e nem rastejamos. Somos nada. Mergulhamos juntos em mar azul e voltamos à margem do esgoto, sem alegria alguma nos separamos. Fomos feitos para o mundo, sabe disso, mas vez ou outra algo me emociona, e meu amor sem esperança por você toma as páginas dessa carta, e agora...

sábado, 3 de outubro de 2009

incomensurável

É muito, muito sentimento mesmo. Que dissipa, que transborda, que sobra. Que falta, que quer. Que sim. Que não. Devasso, destrutivo e contido. Demasiado, excessivo e descomedido. Imoderado. Disparatado. Resguardado.

E deve continuar assim.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

destino

Entende que quando as coisas têm que ser a gente não precisa fazer nada?! Tudo que faremos, será feito sem esforço, sem perceber, naturalmente, seguindo o fluxo. A sincronicidade está aí, independente da gente acreditar ou não. É uma grande bola - ou quadrado, ou triangulo, não sei. Mas está ai, funcionando. Seja a mil ou a dois kilometros por hora. As coisas já nascem entrelaçadas e muitos acontecimentos estão fora do nosso alcance, não podemos fazer nada contra ou a favor. Se aconteceu, era pra acontecer. Se entrega, vive e entende: o fato de nós parecermos pequenos comparados ao universo, não significa que sejamos insignificantes.



O mundo inteiro é uma coisa só.

[eu acredito em destino quando me faz bem acreditar]

domingo, 27 de setembro de 2009

sem planos para amanhã

Ele andava com os olhos marejados de ondas secas. Fez o molhado chover e escorrer quente pelo o seu peito confuso. Os anéis, as toucas, os casaquetos de lã estocados aos montes nas gavetas de uma casa de poucos comodos, de uma rua manjada, de uma cidade ingrata e um casamento feito como um pedaço de papelão que aos poucos se desmancha na enchente.

Buscava nos pensamentos cansados a matriz do problema, a raiz podre de uma árvore que jamais daria frutos: o ventre daquela mulher não receberia o gene daquele homem.

"Jamais colocaria alguém nesse mundo". Cruel e definitivo.



Já ter se colocado no mundo era demais.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

como tudo ultimamente,

um impulso preciso.

Legião Urbana - Tempo perdido
[levemente modificado]


Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou.
Mas tenho muito tempo. Tenho todo o tempo do mundo.
E todos os dias, antes de dormir lembro e esqueço como foi o dia.

Sempre em frente. Não temos tempo a perder.

Veja o sol dessa manhã tão cinza.
A tempestade que chega é da cor dos teus olhos, castanhos.

Então me abraça forte, e diz mais uma vez que já estamos distantes de tudo.


Tenho o meu próprio tempo.


Temos nosso próprio tempo.


O que foi escondido,
é o que se escondeu.
E o que foi prometido
ninguém prometeu.
Nem foi tempo perdido
somos tão jovens...



Não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas agora.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

egoísmo

O que tem dentro de mim
o que tem de essêncial dentro de mim [e dor]
os meus maiores segredos mesmo [e mais caóticos]
são meus, só meus [por serem intoleráveis por alguns além de mim]
e eu não divido com mais ninguém.
[e você sabe, você não teria lido isso se nós não quiséssemos]


[eu nunca desejei ser compreensível]

terça-feira, 22 de setembro de 2009

"Não espero nenhum olhar, não espero nenhum gesto, não espero nenhuma cantiga de ninar. Por isso estou vivo. Pela minha absoluta desesperança, meu coração bate ainda mais forte. Quando não se tem mais nada a perder, só se tem a ganhar. Quando se pára de pedir, a gente está pronto para começar a receber. O futuro é um abismo escuro, mas pouco importa onde terminará a minha queda. De qualquer forma, um dia seremos poeira. Quem é você? Quem sou eu? Sei apenas que [estivemos] no mesmo barco furado, e nosso porto [era] desconhecido. Você tem seus jeitos de tentar. Eu tenho os meus. Não acredito nos seus, talvez também não acredite nos meus próprios. Não lhe peço que acredite em mim."


Caio F.

domingo, 20 de setembro de 2009

solta

Porque estar com alguém e ter alguém é maravilhoso. Mas dá trabalho e eu complico demais as coisas. Relacionar ainda é um verbo difícil pra mim e eu preciso parar. O meu coração só diz isso. Pára um pouco. Deixa um pouco. Vive um pouco. Vive por você.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

escuridão ilícita

Olhos bem fechados. Havia regras, dentre elas jamais desvendar a cor do olho do outro. Na escuridão as formas tomavam o que minha mão preenchia e nada mais. Nada de aspectos premeditados ou ensaiados, apenas a clarividência do negro. Cabelos soltos, pés descalços, sem nenhum tipo de amarra além das pessoais e secretas. Fui arrastada e a minha calça me fazia deslizar entre outros corpos, que os descobria apenas pela temperatura, a respiração e os estímulos de cegos. Nota por nota, a música nos levou a um cheiro novo. O cheiro nos levava a uma forma de pegar, de acariciar, abraçar, beijar e desmoronar no outro. O primeiro tinha a barba cerrada, a altura equivalente a minha e o jeito mais gostoso que alguém já pegou nos meus cabelos. Deslizou as mãos da minha nuca até o último fio. Trouxe-me para cima. Quis sentir que essência eu trazia, mesmo que manipulada por sabonete e perfume do boticário. Ainda era naturalista, ainda éramos um só. Perdi o tempo que passou. Não lembrei quem ele era, o que fazia, se tinha namorada e qual era a cor dos seus olhos. Esqueci que o via todo dia, esqueci sua idade e até seu sexo. Esqueci o realismo social, esqueci da sua postura, esqueci. Tirar ele de mim foi difícil, enquanto eu estivesse de olhos cerrados não podia ver mais ninguém. Ele. E até o momento do segundo final, antes de abrir os olhos era ele que pulsava dentro de mim. Mas depois os meus olhos se abriram e eu voltei a ter um nome, e um jeito politicamente correto de existir.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

deixo que falem por mim

"Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece..."

C. Lispector

domingo, 13 de setembro de 2009

Me?

-Você tem um cigarro?
-Estou tentando parar de fumar.
-Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
-Você tem uma coisa nas mãos agora.
-Eu?

-Eu.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

deixa|r

O Sol se manifestava sobre a minha meia de lã,
e de tão quente queimava a minha pele.
Ardeu por horas até que tirei a meia
e as pernas brancas respiraram a liberdade.
Enfentei os cabelos com borboletas pretas.
Voando.
Outra pessoa, outra semana.


Me sinto fresca agora.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

minoria privilegiada

"Amor implica depender, estar na mão da outra pessoa. Por isso, amar alguém que não nos transmite confiança é ser irresponsável para consigo mesmo.
Poucos são os casais que vivem em concórdia, num relacionamento que crie condições para que ambos cresçam emocional e intelectualmente. Mas, por existir alguns casais que vivem em harmonia, devemos nos empenhar para também fazermos parte dessa minoria privilegiada..."


[créditos à Karina Maldonado]

terça-feira, 1 de setembro de 2009

pergunta

- Se pudesse ter alguma coisa no mundo, qualquer coisa, o que seria?
- Você.
Sacudi a cabeça com impaciência.
- Algo que você não tenha.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

sobre-vida

Mesmo que ela precise inventar, bem lá dentro tem um escândalo a lhe empurrar, lhe obrigar a continuar. Os dias leves não lhe convencem, ela procura no drama os calores que quer encontrar. Mistura os sabores, confunde os dias que passam e sobe bem alto para depois se arrepender e doer e fazer tudo de novo e viver pedindo desculpas. Pode insinuar ternura e amor, mas não o faria sem perigo ou tragédia, sem a possibilidade vital de tremer, passional, sobre a finura em que se equilibra sem pender exatamente para lado nenhum.

Não pode ser pouco, não deve bastar.
Quer sobrar no excesso, nadar no que irá ser varrido depois.
Acumular.

Quem lhe socorre é ela mesma. Não faz apelos. Apenas grita em público. Mas o que soa alto nada quer pedir, só desejar, como forma de vida que não sufoque e não faça desistir. Na alegria impera também a exaustão, um disparate de dor às avessas.

Não pode ser menos, não deve faltar.
Ela quer empurrar o seu corpo e usar o que lhe veio a mais em seu próprio existir. Por vezes benéfico, por vezes estúpido.
Ela exagera, e sabe. Mas nunca se deu a menos.

A culpa faz parte disso, mas suporta, porque foi ela quem a inventou, e dá um jeito de fazer os dias correrem afastando isso do que há de vir. No escuro ela pendura seu casaco, sua máscara. Remói valores que não entende mas que lhe cobram porque lhe foram passados, depois toma um veneno para afastar da memória o que devem dizer por aí. Não se importa.

Só não pode mais estar no meio do caminho.

A medida é alta, só pode se mover se for até o fim, até onde pode caber e descansar na paz intranquila de quem nunca vai ter sossego. Isso não lhe foi prometido e ela também nunca pediu leveza alguma, pois serenidade nenhuma nunca lhe alcançaria. São apenas vultos os dias que se acolhem sem ardor. Não os considera. É preciso pesar, inchar, se não se dispersará de sí e quererá voltar e não ser. O que está resolvido é o que não se resolve, o que não vai encontrar e não sei.

domingo, 23 de agosto de 2009

sobre pensar

Eu não quero pensar no que virá: quero pensar no que é agora. No que está sendo. Pensar no que ainda não veio é fugir, buscar apoio em coisas externas a mim, que cuja consistência não posso duvidar porque não a conheço. Até pensar no que está sendo, ou o que antes era, também não. Pensar é ainda fuga: aprender subjetivamente a realidade de maneira a não se assustar. Entrar nela significa viver.

domingo, 16 de agosto de 2009

clareia

"Me explica, que às vezes tenho medo. Deixo de ter, como agora, quando o vento cessa e o sol volta a bater nos verdes. Mesmo sem compreender, quero continuar aqui onde está constantemente amanhecendo."


[créditos à Caio F.]

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

corte em carne viva

Portas de casco podre, que falam no oco, que desafiam com a pedra na mão a janela de vidro, intacta. Em fundo de quintal um jardim de espinhos coloridos, de se colher e entregar como presente romântico.

Chove, transborda e escorre casa a fora, rente ao asfalto quente, das chuvas de verão, das nuvens de passeio, pés de aquaplanagem e nós em contra mão. Granito em baixo de vaso de vidro, um gole de água, a cortina de renda toca de leve a menina que triste chora na casa vazia.

domingo, 9 de agosto de 2009

verdade de mentira

Parece muito como quando chove, porque é bem assim que ela chega: de surpresa. E justamente quando não espero... ai, esse é o jeito que dói mais!

domingo, 2 de agosto de 2009

good morning

E eu estava sem coragem de levantar da cama, com um medo terrível do que sentiria ao abrir meus olhos e não ver os seus cabelos esparramados pelo travesseiro. A vontade era de continuar deitada com o cheiro que eu sinto sempre que te alcanço um beijo. Queria dormir, e só dormir para acordar com você.

terça-feira, 28 de julho de 2009

o movimento do vento

A vista do último andar sempre me deu vertigem e deslumbramento. Pensar em quantos crânios você está esmagando naquele momento pela a diferença de alguns blocos de tijolo e cimento é excitante. Mas o abandono é continuo, espreme o coração e estoura fogos de artifício para o lado dentro. E do lado de dentro o colorido não toma o céu, não conhece o topo e não voa. Não ilude, não encanta e não toma a retina dos olhos que marejados suportam as lágrimas que insistem em descer.
As cortinas dos hotéis sempre foram douradas, sedosas e perfeitamente alinhadas. Mas não dançavam. Não se permitiam deixar que o vento entrasse, batesse e tirasse tudo fora de ordem. Triste as cortinas paradas e sedentas. Sozinhas, sem o próprio ar em movimento. E mesmo no último andar, aonde o vento deveria correr mais forte e mais denso eu não podia nem parar de respirar um pouco. Sempre fora uma vida perfeita como as das cortinas. Porém, nesse lugar aqui eles deixam o sol entrar. São cortinas de algodão, mal costuradas, mas felizes. Dançam para lá e cá, o dia todo, parecem tão leves e felizes.

Existe dentro desse quarto um contraste entre eu e as cortinas.

Até aqui minha vida foi feita de mãos. De tantos os tipos e todas sem um nome. Uma mão é uma mão, ainda mais quando você tem várias á disposição. Eu sempre tive medo de rostos, expressões, olhos. De mãos não! Sempre gostei, ainda mais quando me estendiam dinheiro, facilidades, presentes, revistas, contratos. Fiz das calçadas uma passarela, me descobriram com pé no chinelo, corpo em blusa rasgada e rosto sem maquiagem. Descobriram, e ao mesmo tempo jogaram em cima de mim um pano preto. E me cobriram. A partir de então foi um festival de mãos. Mão que entregou um cartão, mão que me ajeitou o cabelo, mão que me fez maquiagem, mão que passou na bunda, mão que me deu prêmio, mão que me ligou e pediu pelo amor de Deus uma entrevista, mão que deslizou o corpo, mão que me aplaudiu, mão que tirou foto, mão que me deu tapa na cara. Mão que me ofereceu. Mas só ofereceu, não jogou em cima de mim.

Existe nesse mundo de mãos uma semelhança gritante entre a mão que me cobriu com o pano preto e com a que me ofereceu cocaína. E suas diferenças.

A partir daí eu achei que a minha vida era boa demais. Dinheiro farto, homens lindos, festas regadas a bom estilo e bom gosto, amigos, amigos, amigos. Fama! A fama é como olhar pela a janela do último andar. Mas aí trancam a porta e te dão duas escolhas. Ou você se joga e tenta sair do prédio ou fica sempre dentro dele. A minha escolha ficou no meio termo. Fiquei pendurada, nem lá e nem cá. As coisas tomaram um rumo tão grande que eu nem lembrava meu próprio nome. Aliás, todos os dias eu penso se quando eu morrer quem vai ser enterrada. Ela ou eu?

Existe entre eu e ela um mesmo corpo destrinchado em duas essências opostas que insistem em se misturar na minha cabeça. Ela me assassina e eu me jogo do alto do último andar.

Eu tinha falta de gente. Pouca gente. Pra falar a verdade, eu tinha falta de gente nenhuma.
Sempre existiu fora de mim um nome. Um álbum com pedaços de papeis cheios de vidas momentâneas, registradas e congeladas. O problema é esse. A minha culpa é fazer com que esses momentos únicos permaneçam como unidade, e se dissolvam através do tempo até o dia que simplesmente não existam mais. Me chamam de ousada, dissimulada, promiscua, farsante. O meu coração me pede para ir, eu vou. Simples assim. Percebem o erro? Esse mundaréu de adjetivos pertence ao meu coração, e não á mim.

Existe entre a droga e as palavras o mesmo perigo. Podemos usar de ambas de forma errada. Nelas, ainda, em comum a mesma questão: existe forma certa?

Hoje meus pés não sustentam o peso de ser quem sou. Mesmo que pouco, ainda sou.
Me colocaram no último andar não por ser o lugar mais privilegiado, mas por ser longe da base, do chão, do real. As cortinas dançam por mim. Um tubo come por mim. Uma mão toma banho por mim. Engraçado, mas algemas às vezes nos libertam. Disseram baixinho que o meu caso é livrar da dependência longe da própria independência.

Existe em toda história a boa moral ou a forma mais realista de ver a vida.

E o que me salva nesse quarto de hospital é a minha capacidade de sempre enxergar o lado bom e ruim das coisas.

Pelo menos, aqui, eles deixam o ar entrar.
Eles me permitem, simplesmente, sentir calor e frio.

Sem ar condicionado.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

garoa

Entrou rápido no táxi porque quase chovia. No banco de trás, procurava o que olhar através do vidro, através das gotas que enfeitavam o vidro. Desistiu do vidro, levantou o fone até os ouvidos e aumentou o volume. Aquela música entristecia, e parecia que não vinha do fone, nem do aparelho de som. Estava mais para um som ambiente que casava muito bem com aquele momento esquisito. Recostou a cabeça, e ficou olhando o teto do carro que chacoalhava. Sentiu a lombada, sentiu a curva, e reconheceu sua rua sem ao menos olhar em volta, apenar sentiu que chegava.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

assim

Mal parecia. Nem de longe como Monet e pouco de perto com olhares clínicos.
Haviam, afinal, marcado o mesmo encontro ou tudo não tinha passado de uma real coincidência?
Frente a frente, olhavam-se de jeito minimalista o outro. Imperceptível.

- Tudo bem?
- Sim. E você?
- Tudo e você?
- Também, e você?
- To bem, e com você, tudo bem?
- Sim. E com você, tudo bem?
- ...

Daria, então, para escrever um livro em silêncio e sobre o silêncio.

Beijaram-se, como nunca com outra pessoa ou entre eles mesmos.
Foram três horas de beijos picados na casa.

domingo, 19 de julho de 2009

fuck

E da mesma forma que o vento gélido lhe corta o rosto petrificado em fúria, pode também lhe congelar as lagrimas no rosto e transformar seu corpo em mil, esvaindo os pedaços como cristal quebrado em uma nevasca. E é assim. Tempo atrás, o choro da menina caiu pelos ombros do rapaz. O choro dela escorreu em angustia de duvidas, incertezas e muito, mas muito amor mesmo, no meio daquela situação tão louca e tão delicada. Ninguém tem o direito de fazer mal a ninguém, mas alguém sempre sai ferido. Se não todos, alguém vai sair completamente despedaçado dessa situação de mau gosto. O tempo não quer passar. Ela não sabe o que fazer. Ela quer correr pra longe de tudo, ela quer sumir como seu corpo no vento. Ela quer que tudo fique bem. Ela não sabe o que fazer.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

gaiola

Ar de vítima, e vítima acuada, do tipo medrosa. Achou impossível manter os pés ainda dispostos a deslizar entre o térreo e o apartamento sessenta e tres. Acendeu o cigarro como se esfaqueasse alguém. Um golpe de filtro vermelho que ao invés de sangrar fazia fumaça, não tinha ponta de corte mais se sentia tão poderosa como se portasse realmente uma faca entre as mãos. Ao sair do prédio foi golpeada de uma só vez contra os graus abaixo de qualquer coisa. O vento lhe cortou três vezes o rosto, fez do frio chagas em seus ombros, e da beleza quente um rosto gélido, petrificado em sua fúria. Como se antes de morrer cada pessoa pudesse escolher a expressão na qual seria enterrada. Naquele dia, e somente nesse, ela escolheu morrer de liberdade.

ainda restava um pouco de café na xícara

Mãos trêmulas e coração disparado
a janela balança com a velocidade do vento
gosto demais de você pra te matar
nunca vou conseguir levantar dessa cama

nunca

segunda-feira, 13 de julho de 2009

até então, era só o tempo

Ainda tem muito que cicatrizar. Fechar por fechar, não ta sagrando e já não dói. Mas ainda ta o livro aberto em cima do criado mudo, os beijos, abraços, carinhos, telefonemas, paradas, músicas, faróis vermelhos e tudo assim, meio que na contra mão de tudo que eu sempre esperei.

Hoje eu percebi uma carência absurda... de ficar sozinha.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

a sorte há de te levar

Eu gosto de escrever durante a noite. Vou mudar, a luz do dia fez a lucidez apagar a nebulosidade em frente de tudo que existe. Olho para os lados. Não entendo o que a TV faz ligada. Talvez alguém estivesse ali. Foi embora sem se despedir, do mesmo jeito que chegou. Eu acordo e me sinto sozinha. Segurando firmemente meu travesseiro e os cobertores que me afastam do frio - e um pouco da soledade. Me vem a certeza de um lugar estranho. E essas pessoas não me entendem. Eu tento o meu melhor, até eles ficarem sem perguntas. Sacrifico tanto da minha vida para que isso funcione. Sim, talvez eles se esforcem também. Se eu fosse corajosa, fugiria. Só preciso de um lugar tranqüilo. Longe de casa. Um lugar onde não seja necessário esconder meus sonhos debaixo do colchão. Parece covardia. Mas já tem coragem naquele que sonha. Talvez isso baste. Acho que vou beber até morrer, beber a noite inteira. Ah, são pequenas coisas que me fazem falta, como acordar totalmente sozinha, sozinha de verdade. É, acabei de ouvir as notícias de hoje. E seguro minha vontade de chorar. Saiu sem se despedir, não tinha ninguém ali. Sentada na calçada. De volta onde as horas duram. O quanto mais longe você olha, mais longe você estará. São objetivos demais para medir o meu valor. Eles estão em busca do ouro.
Se nada é aventurado, nada é aprendido.

Apesar das probabilidades estarem contra, em tempo, eu ainda vou tirar meus sonhos debaixo do colchão. É como é para ser. Negligentemente crescendo, já passou da hora de eu ir embora.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

não ganhe cor, não, por favor

Queria que chovesse, e que a chuva te tirasse do meu cabelo. Acho que você assistiria as gotas escorrerem pelo vidro da janela do seu quarto. Não quero te topar pela rua, não quero que você me veja de pijamas. Preciso do espaço que você ocuparia na minha cama, preciso do ar que você me tiraria com seu beijo. Se eu ficasse, desapareceríamos aos poucos.

domingo, 5 de julho de 2009

vamos chamar de desabafo, então

Eu não sei... Parece que virou um hábito começar um parágrafo com um "eu não sei". É claro que eu sei. Pelo menos, eu sei muito bem tudo o que estou sentindo. Não acredito que um desabafo caiba aqui nesse blog, talvez eu nem tenha algo muito poético para dizer. Mas ainda assim são palavras, não é mesmo? E não tenho idéia de quanto tempo faz que não seguro em uma caneta, pra valer. Parece que fiquei assustada demais para falar claramente tudo aquilo que quis - e não duvido que esse seja o real motivo da minha garganta estar inflamada, já que um mundo de coisas queimou aqui dentro enquanto acobertadas pelo silêncio - E eu me sentia tão sortuda! Afinal de contas, tudo se ajeitou na faculdade, tenho saúde, e blá, blá, blá. Eu me sentia muito sortuda até a minha menstruação começar a atrasar, até a TPM estendida tomar conta de todos os meus ataques de duvidas e fúria que prefiro reservar ao meu quarto, a mim mesma e um pouco ao namorado (acredite, um pouco), e claro, até ter perdido aquela segurança de estar fazendo o que é certo porque não fechei a droga do meu bolso direito. Se ao menos eu conseguisse aprender a fechar meus olhos direito, e me deixasse ver somente o que eu consigo suportar, juro que nem ligaria para essa segurança! E de vez em quando, algumas coisas que eu escuto, doem tanto que chegam a ensurdecer meus ouvidos, a ponto de que eu apenas escute os meus próprios medos e maus-desejos, que acredite, não mudaram muito, acho que não mudarão nunca.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

goteira

Não sei... parece que um dia a verdade escorreu do teto e caiu bem na minha testa, virou uma goteira, e ficou lá, pigando por semanas, anos, a porra da minha vida inteira! Isso enquanto eu tentava ignorar essa dor de cabeça chata. Ela nunca passou. Fiquei seguindo os passos deles como uma criança que se perde dentro de um supermercado. Não queria admitir, nem acabar como eles. Só não queria acabar.

domingo, 28 de junho de 2009

pelos ares

Eu acho que ainda não aprendi como te dizer, é que esse silêncio sentou ao nosso lado desde o começo. Eu não sou do tipo que sabe adivinhar. Esse foi o mais perto que eu já cheguei de jogar tudo pelos ares por alguém. Por favor, ajude-me a esquecer da prudência. Cansei de ficar empregando meios - inexistentes - para colocar meus sentimentos dentro de uma fôrma racional. Eles simplesmente não são assim. Eu não sou assim.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

aleatório

O relâmpago é o dia querendo invadir a noite. Eu bato a caneta da carteira na tentativa de fazer melodia com as palavras. Chorar de alegria é final da linha refazendo começos. Meu nome de verdade contradiz a foto da minha identidade, os meus passos são impressões digitais e não o meu dedo no carimbo. Cansei de gente com cara de retrato, cansei de acordar no meio do dia, cansei da noite e preciso ver o clarão que é a vida.

sábado, 20 de junho de 2009

questão de paixão

Os dois não sabiam se conquistar de jeito que fosse ao mesmo tempo. Antes ele quis dos olhos da garota toda a erupção de seu jeito. Em sua posição de mulher foi difícil até que a nuvem não agüentou e derramou do céu todo aquele mar de lágrima misturado com o seu beijo diferente. Garoto que faria qualquer coisa por aquilo só teria quando não o quisesse mais. O mundo ao redor mal sabia dos caminhos que juntos os dois traçaram - parecia que se alguém descobrisse a mágica de nada valeria. Acostumada com aquilo, ela foi dançar para outros lados, dava e retirava como manda a lei natural dos amores. Urbana e iludida, cansava de esperar pelo o terceiro dessa história. O cenário não mudava, beijava-os no mesmo lugar, cada um no dia que o outro se ausentasse. Quando o fio de uma marionete se desmontava puxava a da outra e nunca ficara sozinha no palco. O personagem que não é o principal foi viver uma história de amor verdadeira e dita ao mundo todo. A garota só aceitou. Sobram então duas personagens. Há neste instante uma passagem de tempo, mudam-se as estações climáticas e a do rádio. O todo apaixonado se conforma e como última tentativa em sua desistência nunca declarada, foi amar outros olhos, outra boca, outro lindo sorriso de outra personagem que tem nome – mas que não aparece na peça da autora. Pode-se tocar uma melodia de transição. O menino de um extremo no palco joga um pedaço de pano vermelho simbolizando o seu amor á ela. Ela o recebe e os papeis se invertem – mas o público não deve perceber. No fim, enquanto os espectadores esperavam que a vilã da história se desse mal (como de habitual) ela simplesmente ficou parada e olhou para a boca de cena e viu que um quarto olhar que a prendia a prendeu de vez. Temo não ter sido clara: há na história um conto de quase amor dos dois dos personagens principais. Que de inicio ele a amava e que com o decorrer dos acontecimentos ela foi atrás de querer ele de verdade. As verdades dessas páginas querem dizer que as duas falas principais nunca foram ditas juntas e ao mesmo tempo. De cada um sobrou um drama, uma peça separada da outra. Atores e personagens foram viver diferentes experiências a fim de um dia compartilharem do mesmo monologo.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A la carte

Uma gota de perfume na ponta de seus delicados dedos, envolvidos na luva de seda lilás. Atrás das orelhas o cheiro, na frente deles um brinco de brilhantes esculpido por Deus. Arruma-se bem aquele que tem por quem se arrumar. Fita-se no espelho e ensaia o discurso de saudade, descobre os olhares que mais funcionam e se sente completamente amada. Encontro para as 10, debaixo da lua e acima das estrelas, restaurante caro e um gole de vinho para ir mais além. Ele chega, portando em sua mão esquerda uma aliança gigante que representa – pelo o que sabe – o amor incondicional, e uma união além da física. Ela se deparou com o modelo que não tinha igual em suas mãos, as mesmas mãos que ele apertava, beijava e dizia que eram as mais lindas do mundo. O espartilho em baixo do vestido começava a pressionar seu coração contra ela mesma. O ar faltava, a dignidade repudiava e os mandamentos não permitiam. Tentou se desligar do terno de linho que ele vestia elegantemente, da barba cerrada que na cama lhe era divindade e das promessas que a sua mão esquerda negavam. Levantou, deixou a cadeira cair e entendeu que aquilo não era direito dela. Andou de costas e pediu desculpa em lágrimas, anos de traição e um sentimento de culpa para o resto dos dias.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Perdendo a garantia

Perdeu o ônibus por alguns segundos, e se perdeu de alguém por um pouco de distração. E nem fazia qualquer diferença saber de tudo, quando se acostumou a fingir que não sabia de nada. Quem ela deixaria que partisse seu coração? Ninguém diria que não é chegada à hora de prender-se na perda da consciência do individual. Era tudo uma questão dela mesma, que ela mesma não fazia a mínima questão. Depois que amarrou seus cadarços e enfeitou alguns pensamentos, deixou que seus olhos se esparramassem pelo chão, desejando esparramá-los pelo rosto de quem realmente gosta. Quer correr atrás do atraso, porque não suporta esperar, mas também não sabe desistir. E o medo de ser egoísta demais para aceitar que talvez o melhor seja mesmo alguma coisa totalmente diferente, abraçou-a por trás. Como já sopraram aos seus ouvidos, é muito difícil abandonar um ideal.

terça-feira, 9 de junho de 2009

segunda-feira, 8 de junho de 2009

copo meio vazio

Estou seca - disse ela - seca de palavras.

O álcool começou a conquistar as veias, logo menos, alcançaria o sangue. Olhou para a rua na frente do bar, como se pedisse ajuda muda com os olhos, e o mundo não quis parar lá fora. Um rapaz passou de skate tão rápido que não se percebeu os detalhes.

Mas ele usava uma boina bege - pensou ela.

Um brinde, dois, três, quatro garrafas. Todos às drogas, ao sexo, ao amor inexplorável, inexplicável, inesgotável... E ela ainda sofre com a falta das palavras. Onde foi parar sua prática? Os pulsos tremem, é o coração pulsando forte.
So hard! - ela grita, ninguém ouve, ninguém liga.

Tropeça em goles, tragos, estragos. O buraco que ela cava não é tão fundo quanto sua cova, levaria outros tantos anos. Vamos deixar que o passado cante por ela as músicas que ela gosta porque ele adora. Só ele, e ele, e ele (...)

Depois outros tênis sujos de barro marcarão o mesmo caminho, abraçando o destino cansado e as mãos suadas. E ela só parará quando o sol desistir de nascer.

Ela sabe, mesmo que neguem e contestem: as melhores palavras ainda estão com ele. Quanto ciúme por nada! Ou tudo! Um perfeito que o mundo das garotas querem devorar. Nasce o orgulho. Se ela ficasse rica em um mês não saberia como gastar sua riqueza, e mesmo pobre, sente-se exatamente assim. Acontece que ele colore o mundo cinza dela, poluído, cheio de ruído... Tudo que coloca charme no urbano. Ela vai escorregar nas roupas do rapaz de perfume unitário. Ele é ele e mais ninguém.

domingo, 7 de junho de 2009

um parágrafo

Quando fogem as palavras da boca e os sinônimos não dão conta do significado verdadeiro; na falta de coragem, ou de voz; na ausência física, na ausência de destreza no improviso - ainda sobram as letras. A diferença está no poder de planejar, na estratégia de colocar as palavras certas na sua ordem favorita. É como medir a reação dos outros e determinar o que seus olhos poderão ler. Escrever é como filtrar idéias.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Só, assim - parte 2

Sem Sentidos

[...] guardando um ultimo suspiro, um ultimo impulso pro fim que se anunciava como uma nova tentativa de começo. Abrindo os olhos, mostrava as pupilas para alguém que a olhava por entre a alternância do obscuro e da luminosidade que incindia nos poros, nos pelos. Que invadia os cantos mais secretos, trazendo às mãos a vontade de dar carinho, trazendo à boca o desejo de receber um convite, quiçá, uma invasão. Chegando a manhã, os músculos relaxados, o cérebro oxigenado, os pulmões expandidos, pensara em dar mais uma chance a vida.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Sinônimo da mesma coisa

Sorriu para o chão como se sentisse vergonha e continuou andando. O sol aparecia, mas a sombra ainda segurava o frio. Foi então que ela, aversa à mudanças, quis voltar. Saiu pela porta dos fundos, disse que fugia da rotina. Mas ela estava lá, ela ainda estava lá.

domingo, 24 de maio de 2009

sobre minha desesperança

Sou livre: já não me resta nenhuma razão para viver, todas as que tentei cederam e já não posso imaginar outras. Ainda sou bastante jovem, ainda tenho força bastante para recomeçar. Mas recomeçar o quê? Só agora compreendo o quanto, no auge de meus terrores, de minhas náuseas, tinha contado com alguém para me salvar. Meu passado está morto. O Sr. Ilusões está morto, este só retornou para me tirar toda a esperança. Estou sozinho nesta rua branca guarnecida de jardins. Sozinho e livre. Mas essa liberdade se assemelha um pouco à morte.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

sobre a caixa vazia

Essa caixa vazia se assemelha ao estado de minha alma hoje. Essa caixa tão bonita por fora, tão bonita por dentro, mas vazia. Essa caixa cheia de nada. Essa alma tão bem cuidada por fora, pra que ninguém lhe fira, tão bem cuidada por dentro, pra quem adentrar não querer adentrar tão fundo. Cada porta da alma trancada com cuidado. Hoje minha alma parece um corredor cheio de portas. Fechadas. Hoje minha alma é vazia como essa caixa.Tão bela pela certeza de existir, e pela mesma beleza displicentemente arrogante de existir tão cheia de solidão.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

você me suga

Estes olhos frios, pretos se olham no espelho. Olhos sujos, olhos pesados de tanto cansaço. Tanto cansaço que fizeram questão de ter. Mas esses olhos brilham, e não querem se fechar jamais longe dos seus, não querem jamais que não seja pra suspirar lentamente. Os meus olhos hoje, já tão marcados pela vivência, só queriam mesmo não ter que esconder o caos que se faz por trás deles. Por trás de olhos distantes se esconde o que ninguém poderia ver nem de perto. Quando quiseram falar, estes olhos só puderam calar, quando quiseram ouvir, estes olhos só tiveram silêncio, estes olhos só souberam chorar. Agora que estes olhos só anseiam, só anseiam te ver.

terça-feira, 19 de maio de 2009

mãos dadas com a covardia

Eu só queria pegar uma carona para outro lugar, já não estou onde quero. Pouco do que tenho hoje tem alguma ligação direta com o que realmente quero ter, ser. E ter... ter é um problema. Um dos pensamentos mais antigos que carrego é o de que a gente nunca quer o que tem, uma maldição. Não! Droga! O que me desperta vontade é tão subjetivo e onírico, que me faz fugir. E sabe, eu até enxergo certa beleza na covardia.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

terça-feira, 12 de maio de 2009

espera

Não sei de quem é a culpa, mas vou culpar esse sentimento de desperdício. A sua não-presença tomou muito das minhas ações. E omitindo parágrafos, e as poucas idéias que pipocaram na minha cabeça. Falta de reação. Já não correspondo à minha idade. Para falar a verdade, é ela que não corresponde mais, e perdeu a maioria do significado assim.
Os dias passam lentamente e sem serem percebidos, da mesma forma que as minhas vontades, ignoradas uma a uma. Quero falar alto mesmo sem ao menos medir as palavras, quero tirar os sapatos parar sujar as meias, quero trocar meu armário, mas mais do que tudo, quero me esquecer naquele colchão. Eu só fiquei com o medo, e não tem tempo para querer. Tenho que ficar parada, assim, nessa direção que me colocaram. Até tentei me deixar enganar, mas o lado bom é o meu lado.
Antes do antes eu precisava de quase nada. Agora deixei a melhor parte de mim para alguém longe daqui. E mesmo longe eu não consigo ficar longe. Por mais que eu esteja onde estou, eu não estou mais presente.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

pensei, ponto

As promessas são feitas para serem quebradas. E o perigo delas é essa segurança - falsa, já digo logo. Existem coisas que só cabem nas palavras, como um sentimento eterno por alguns minutos. Porém, ainda existe o que só cabe nele mesmo, e quem caiba apenas no silêncio, escondido com o medo de perder por uma frase piegas.

sábado, 9 de maio de 2009

Só, assim

Depois a noite atrofiava os músculos, depois o tédio atrofiava o cérebro, e foi assim, depois que o pulmão virou fumaça. Bem, não era nada, nem era alguém. Já não era. E se fosse, no vai e vem dessas idéias cansadas, qualquer um perderia seus sentidos. Ia dando descaso à vontade de falar, fechando-se à vontade de ouvir, mostrava as pálpebras para não olhar, deitava de bruços para as palmas não tocar. Depois se afogando na preguiça, no mar de sono posto um travesseiro, foi o fim. Dormindo um tempo que não tinha, desistindo de desistir da desistência.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Por que vale sofrer?

Seja rápido, não perca tempo, chute a primeira resposta que vem a sua cabeça.
Tente agir direto no ponto crucial, seja direto, ou...
Ouça a mesma música incessantemente.
Leia aquele trecho do livro e desvende o que o deixa curioso.
Refresque a mente com doses fortes e doces da melhor qualidade.
Assista aquele filme que tanto te fez pensar sobre o sentido da vida.
Ande sozinho por aí, admirando seus gostos esquisitos.
Recomendo companhias agradáveis que lhe dê conselhos sábios.
Olhares sempre são um termômetro ágil para esses casos.
No fim das contas, você vai pensar que tudo isso foi uma bobagem, que se repetirá.

Só não esqueça o casaco, hoje faz frio lá fora.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A volta do subjetivo

Eu viro pro lado, me cubro, descubro, e não durmo. A janela ainda que fechada me traz vento, e eu sinto frio, um frio por dentro. Não me lembro dos sonhos, puro medo dos segredos que escondo de mim. A noite anestesia, e o dia... é só o dia. De tudo o que eu preciso, não quero mais precisar.

domingo, 26 de abril de 2009

é difícil continuar

Desliga essa porra, agora!

Não quero mais saber disso. Cansei. Meu cérebro não aguenta. Está exaurido, enxuto, seco. Como um lençol freático que murcha ao ser furado pela agulha cilíndrica de metal.

Ta demorando pra apagar porquê?
Será que vou ter que berrar implorando?
Apaga essa merda! Agora!

Ofusca demais essa visão. Me sinto carregando uma cruz de bronze, ao invés daquela de madeira que pregaram o pobre coitado que nada tinha a ver com a história toda.

Apaga. Por favor, apaga.
Da minha frente, da minha mente e dos meus olhos.

Essa luz de aleivosia que eu vejo, dentro da lâmpada das memórias. Apaga.

Preciso da escuridão de novo, para que a luz nasça novamente.

É só passar a mão pela parede e resvalar no interruptor...
Apaga? Por favor, apaga?

quinta-feira, 16 de abril de 2009

sem ponto

Título que é título não tem ponto. Vida que é vida não tem plano. Homem que é homem não dispensa uma mulher. Mulher que é mulher não vive sem comprar. Gente que é gente não tem vergonha. Amor que é amor machuca. Dor que é dor destroça. Sexo que é sexo é impossível. Carinho que é carinho é gostoso. Generalização que é generalização é mentira. Mentira que é mentira não dura. Relacionamento que é relacionamento tem você. Vitória que é vitória ganha aplausos. Derrota que é derrota é vaiada. Vingança que é vingança é fria. Abraço que é abraço é aconchegante. Orgulho que é orgulho é ferido. Eu que sou eu não sei nada de ninguém.

terça-feira, 14 de abril de 2009

citando Caio F.

"... Mas quando desvio meu olho do teu, dentro de mim guardo sempre teu rosto e sei que por escolha ou fatalidade, não importa, estamos tão enredados que seria impossível recuar para não ir até o fim e o fundo disso que nunca vivi antes e talvez tenha inventado apenas para me distrair nesses dias onde aparentemente nada acontece e tenha inventado quem sabe em ti um brinquedo semelhante ao meu para que não passem tão desertas as manhãs e as tardes buscando motivos para os sustos e as insônias e as inúteis esperas ardentes e loucas invenções noturnas, e lentamente falas, e lentamente calo, e lentamente aceito, e lentamente quebro, e lentamente caio cada vez mais fundo e já não consigo voltar à tona porque a mão que me estendes ao invés de me emergir me afunda mais e mais enquanto dizes e contas e repetes essas histórias longas, essas histórias loucas como esta que acabaria aqui, agora, assim, se outra vez não viesses e me cegasses e me afogasses nesse mar aberto que nós sabemos que não acaba assim nem agora nem aqui".



Uso das palavras dos outros
por não saber mais como usar as minhas.

domingo, 12 de abril de 2009

absolute beginners

contanto que estejamos juntos
o resto pode ir para o inferno
eu absolutamente amo você
(mas) nós somos principiantes absolutos.



- Bowie

domingo, 5 de abril de 2009

Zequinha

Costumo sorrir sozinha as vezes quando nada parece ter solução, nem que seja só para inspirar felicidade ou dizer ao universo que por mais que ele esteja o tempo todo me desconstruindo, consigo sorrir. Tanto 'ópio pra sarar a dor' criou um abismo para o encontrar-me-comigo-mesma de cara limpa. Agora ou me atiro ou busco ajuda, e esta ajuda bem ou mal, terei que buscar dentro de mim.S uponho que a enfermidade venha a tempo de refletir o quanto tento me matar pouco a pouco cada dia. Chove agora e Zeca Baleiro cai muito bem: "Consegue perceber que uma chuva, uma tristeza pode ser uma beleza, e o frio, uma delicada forma de calor".

quinta-feira, 2 de abril de 2009

sobre quem sou

Essa minha mania de estragar tudo. Por que eu simplesmente não aceito logo as coisas como elas são? Preciso ficar sempre me sabotando, para depois parar e rir no espelho. Na verdade, eu só queria ter certeza de que não sinto isso sozinha. Não posso mais viver mergulhada nessas ilusões, no perigo de me afogar a qualquer momento.
Às vezes, odeio ser desse signo. É que eu queria relaxar mais, e conseguir fazer as coisas andarem sem precisar ficar planejando a minha vida toda o tempo todo, sem ficar criando falas que ninguém nunca irá interpretar. Tenho que divorciar as expectativas da minha cabeça, parar de abraçar o pessimismo, e largar mão de me conformar com a montanha de coisas que tive preguiça de consertar. O que mais me cansa, é estar cansada.
Quer saber o que eu queria mesmo? Conseguir dormir agora e pensar em nada, sonhar com algo que não faz parte dessa minha vida, e acordar amanhã plena. Queria voltar a ter vontade de correr, mas me sinto estagnada demais para isso. Acho que preciso parar de ficar querendo tanto. Droga! Devo ter enlouquecido.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

pra que perguntas?

Desiste de vez da minha mão, se sou só eu que seguro na sua. Não existe mais reciprocidade, não existe mais nós dois. Existe eu e você, separadamente. Quando o amor começa a desbotar, ele não pára. E desbota, e desbota, e desbota, preto no branco. Perdeu suas cores e seus sentidos. Perdeu as esperanças e as boas vontades. Você se perdeu no caminho pra casa. Eu me perdi completamente.

Onde você esteve nesse tempo crucial? O que você estava fazendo? Com quem você andava? Porque eu ainda pergunto? Pedidos ajoelhados nem se quer foram considerados.

E eu querendo que você cuide de mim, se foi eu quem me deixei descuidar.

Cansei, abrir mão de algo já sem valor é mais fácil do que continuar jogando pedras na minha própria ferida. Não entenda, como sempre. A culpa é sua, mas é mais minha.




Eu te amo.

segunda-feira, 30 de março de 2009

sobre os dias desassossegados

Tiveram dias em que eu dormia e acordava entre passos falsos.
Nesses dias pisava com segurança, dona do mundo e controladora dos que tivessem ao alcance dos meus olhos ferinos e cegos. Pior do que cega, estava míope e daltônica. Deixei de enxergar as cores e de olhar pra longe. Precisei colocar um limite na minha moral, e quando me limitei moralmente deixei de viver.
A vida, nesses dias, virou um abuso.
Com as minhas próprias mãos, por tantas vezes, estapeei o meu rosto. Eu tinha o prazer da ofensa, do sangue fervendo e da plena razão no que fazia. Ao mesmo tempo em que me feria com as minhas escolhas, e me destruía, porque ninguém fazia isso por mim.
Cultuei o humano, montado, maquiado, delineado e que de tão perfeito nem parecia real. Nos dias em que percebi que gostava mais do fantasioso do que do real, decidi me aventurar em qualquer coisa que me desse nojo mais na frente. Pois bem, fiz-me um nojo. Criei apreço em abusar de intenções egoístas, de mentiras caras-de-pau, de repetir á todo o mesmo sentimento e de me agredir, principalmente, cada dia mais. Fiz-me do nojo, virei o que preguei.

E houve dias em que os dias passaram.

Os passos de segurança viraram tropeços, os olhos ferinos começaram a se abrir e a vislumbrar de novos dias. Os novos dias vieram, o calendário não para de virar, página após página. Declarei os erros, cometi outros, sempre será assim. Mas hoje não vou me enganar. Nem a falsa felicidade é melhor do que uma dor verdadeira. Hoje prefiro arriscar de verdade, uma vida de verdade, prefiro sofrer uma verdade a cultuar uma mentira

sábado, 28 de março de 2009

você

agora me dedico ao teu olhar,
a te olhar e ser olhada.

me dedico as tuas mãos sensatas e quase perigosas.

a suas risadas á toa,
chegando sempre a mostrar os mais lindos dentes.

as suas roupas pouco folgadas que dão margem para a imaginação
e a camisa sem bolsos dobrada no braço.

os cabelos na testa e a barba por fazer,
como que já nao ligasse para um corte.

quando eu era menina, sonhava com você
sendo assim...

não era sonho, era só um pensamento longe
de que eu podia viver assim.

viver... só de olhar de você.

quinta-feira, 26 de março de 2009

mulher desiludida

Tudo era azul sobre as nossas cabeças e sob nossos pés; percebia-se através do estreiro da costa africana. Ele me aperta em seus braços. "Se você me enganasse, eu me mataria" - "Se você me enganasse eu não teria necessidade de me matar. Eu morreria de tristeza." Isto faz quinze anos. Já? O que são quinze anos? Dois mais dois são quatro. Eu amo. Só amo você. A verdade é indestrutível, o tempo não altera.



(de dias atrás...)

confissão

Algumas horas eu tenho vontade de acabar com tudo, antes que isso tudo acabe comigo.





desculpa.

segunda-feira, 23 de março de 2009

uma pessoa só

Ela tem mania de sair e deixar a porta destrancada. Diz que é para que violem suas gavetas, para que mudem seu apartamento de lugar. Mas isso é um segredo. Desde que virou um depósito de coisas negadas, empilhadas umas as outras, prefere não pensar muito. Pensar machuca, e foi só o que sobrou.
Dos outros, continua duvidando. Duvidar afasta, faz do pior familiar. Foi aí que a sacada ficou grande demais para uma pessoa só.




(encontrei nos meus rascunhos, sem data)

sexta-feira, 13 de março de 2009

pálpebras

Vem e fala comigo, não quero ter que sentir falta da sua voz. Eu não sei quanto tempo a gente tem para deixar correr com esses quilômetros de problemas. Estica para mim, estica as únicas mãos que eu adoro segurar. E deita, deita que eu quero te ver dormir. Então dou meu ombro para sua cabeça, meus beijos para sua boca, e desisto do meu sono para olhar as suas pálpebras.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ao nosso amor

Há muito mais para se ver, das milhões de coisas que se perdem dentro dos nossos olhos. Então, se eu olho para você, e seus olhos se voltam para os meus, podemos ver o mundo, o mundo da nossa cor, da nossa vontade. E esse meu mundo gosta de ser seu.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Marca mascarada

Num motel qualquer, por aí, na cidade grande. Oh, um convite particular. Cheiro de mofo, antigo, nada mais que poucos reais tirados do bolso em desespero. De olhos atentos, grandes, brilhantes, faltavam minutos. Clichê demais, aquele espelho em cima da cama redonda. Fotos, poses, risadas, abraços, beijos, carinho, falta. Embaixo dos panos o grande movimento, desconhecido o talvez que virou certeza, um beijo, minha querida, e nada mais.

Coração palpita, balbúrdia nos sentimentos, vontade, arrependimento. Anda, sonha, é pra sempre tua! Depois do tempo curto de sensações inexplicáveis, sente-se na cama enquanto alguém se lava no banheiro ao lado. Foi mal, não deu. Na frente, outro espelho. Que imagem, que beleza. O corpo do rapaz nu, revestido pelo brilho do suor proporcionado pelos rápidos e passados movimentos, diferente, bonito, desejado. A garota já se foi, ficou ali sozinho, olhando-se pelo reflexo.

Caretas, expressões, longos sorrisos, poses. Adeus, já se deu o tempo. Agora é hora de se vestir, cobrir o peito depilado para aumentar o prazer do sexo oposto. Ainda sentado de frente à sua imagem, eis que surge o arrependimento, o desprezo, a cólera, o erro. Nada mais do que um monstro, tão copiado e reproduzido, nada mais do que um falso, um charlatão.

Ele resolveu deixá-la. Apagou os seus contatos, disse adeus pelos fios robóticos, foi-se, respirando novos ares, arrependido, humilhado. Sua mulher já estava com outro e ele sofria de amor. Sofria de ódio. Sofria de culpa. Dúbio, eita. Vai te catar, essa sua visão de que relacionamentos podem ser quebrados com certa exatidão, freqüência, compra-se nova liberdade, diga adeus às saudades; agora já foi. O erro do laço criado foi pensar que ele podia, ao mais rápido e fugaz dos momentos, ser quebrado e recuperado, mole mole, fácil.

O que se rasga, mesmo que por melhor costurado, na vida real, deixa a marca. Está ali, por mais invisível, mais revestida, mais disfarçada que seja, debaixo de tantos outros panos, rasgada, estraçalhada, lembrada, sensível, sólida.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Quase

Por qualquer tempo não determinado pela mecânica do relógio e tão pouco pela sistemática do dia e da noite, agente esteve lá pelos instantes que a vida reservou para nós. Eu não quero nada de você, eu só quis aquele momento que não se dissolveu por entre a chuva que caiu, e que não voou com o vento gelado que lá fora fazia. A ponta das nossas orelhas misturava-se com os sons quase silenciosos que as nossas bocas trocavam. Lindo. Por dentro, por fora, e até quando nossos olhares estavam fechados tentando dormir, eu senti a sua beleza porque os nossos joelhos estavam se encostando e eu pude sentir a sua forma. E mesmo que a gente nunca mais viva minutos como este, valeu por cada segundo pelo qual nós nos queremos. Tem coisas na vida que possuem maior sabor quando não passam do “se”. Nem sempre concretizar desejos é torna-los mais intensos.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Caindo

Eu estava nadando nas minhas dúvidas, e eu não sei por que a vida gosta de fazer isso comigo, brincar de ficar oscilando o meu estado de caindo de amores para caindo em pedaços. Deve ter alguma graça nisso tudo. Então, tem vezes que me deixo ficar calada esperando que alguém me ouça. Eu deveria ter passado a maior parte da minha vida dormindo, mas passei a maior parte caindo.
Agora já não sei mais o que faço. Parece que os dias fazem algumas coisas valerem menos a pena. Desgastam, nos colocam óculos, lente de aumento ou qualquer coisa que o valha para enxergarmos os detalhes escondidos em toda aquela euforia e ansiedade do começo. Vejo-te diferente. Vejo a porra do mundo todo diferente!
Vai, se é para ser qualquer coisa, eu posso ser qualquer coisa. E nem sei o que é que eu quero de mim agora, ou se eu ainda me quero. Juro que não consigo me entender. Quanto mais me conheço, menos me entendo. A confusão maior ta em que a parte mais bonita da minha vida é sua. Acho que sempre será. Você foi a coisa mais certa que eu já fiz em anos. Só que vez em quando, muitas vezes até, a coisa certa, pode parecer a mais errada. É tudo uma questão de percepção, de estar à vontade com isso, aquilo, com o que nos tornamos. Sei que você nem sabe disso, mas seu jeito sabe me irritar terrivelmente, e ao mesmo tempo, é ele que me deixa de atenção presa. Às vezes você me decepciona tanto, mas consegue me deixar te querendo como nunca quis antes. E ainda tem vezes que é só por vontade, mas existem aqueles minutos que me fazem te respirar, te sentir mais perto, assim, de um jeito calmo feito o sono.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Sabotagem

Eu sei que você pediu para que eu aguentasse mais um pouco, e é o que estou tentando fazer. Estou te segurando da melhor forma que consigo. O problema é que eu passei a ser mais sincera comigo do que com você. Mas isso era para ser uma coisa boa, né? Nesse tempo todo, o seu egoísmo se tratava de nós dois. Mas o meu não. O meu egoísmo se trata apenas de mim. E agora vendo sua mão, esticada para mim, como quem estica uma vida de planos, uma vida de melodia calma. Olha, fica bem difícil sair e abraçar o mundo, o meu mundo que me espera fora do que somos agora. Eu mentiria se não dissesse que às vezes, ele é tudo o que eu quero. Quanto mais eu me prendo na mesma coisa, mais as coisas mudam. Devo estar me sabotando. É, eu não duvido disso.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Guarda - Sonhos

Abri o guarda chuva colorido, que cobria o céu da cidade inteira. O cheiro de derrota compunha o vestido rodado da menina de cabelos jogados, que por ali passava, comendo pipocas, de todas as cores, formas e matrizes.

Continuei andando, eu e meu guarda chuva colorido. Tinha logo ali, uma estatua pintada de fracassos, e por isso estava fingindo ser de pedra, e seu coração batendo, batendo, batendo. Eu poderia ter lhe dado o meu coração, mas só tinha alguns trocados ali jogados.

Cidade pequena, de ruas sem ladrilhos, sem pedrinhas de brilhantes para o meu guarda chuva passar. Os meus sapatos tinham forma de boneca, o da mulher sentada tinha cheiro de doença, talvez pelo rosto pálido, e os chinelos surrados.

A groselha gelada, o casaquinho vermelho de crochê que em meu corpo se ajeitava, o guarda chuva que por ali caminhava, e queria caminhar.

Se fosse para rir, eu olharia para a criança gorda que espantava as pombas da pracinha, se fosse para chorar, eu encostaria delicadamente a minha cabeça nos ombros da velha cansada que usava cadeira de rodas.

Ah, se fosse para amar... Meu guarda chuva havia brilhado de cores, eu descobri. As unhas que se renovavam toda semana queriam apertar a sua nuca. Por exatos dez segundos, a cidade parou para ver o bonitão que só eu vi. Câmera lenta, aquela era a hora de tocar a música principal, o andar distraído, sem olhar para mim, foi deslizando pelo chão do mundo inteiro, o rapaz que de lindo é pouco, que de tão pouco, foi bastante para mim. Quando a groselha cai, os sapatos se distraem, eles tropeçam, juntos, em direção ao chão, o guarda chuva colorido voa para qualquer lugar, e de tão colorido, ficou desbotado. O garotão pega na minha mão – Está bem, querida?

Estou?

O meu sorriso assoprava ansiedade, e o meu olhar queria ir brincar de ser princesa em roda gigante.


repostando - 12.07.07

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Encalhada atrás da linha do horizonte

Ainda sinto os meus pés escorregarem pelo mar gelado de ressaca, que depois de um dia inteiro de turbilhões repousava em um sono tranqüilo. Lembro de ter imaginado o mar com a boca aberta, babando em cima de mim, como quem quisesse se apoiar em uma figura humana para conseguir dormir. Ele observou, entre as algas e palitos de sorvete, que próximo dele havia apenas uma figura avermelhada. Era eu. Sei que naquele instante o mar olhou pra mim, e me encarregou de cuidar de tudo enquanto ele descansava. Precisava certificar que nenhum objeto pudesse entrar no grande mar enquanto esse dormia. Nada deveria ser destruído e nem danificado. Além de observar o balé das ondas, os pequenos peixes e recolher o lixo na sua beirada. E me alertou, por último, que eu não deveria deixar de tomar conta da lua, não deveria deixá-la sair para nenhum lugar. Ela também não poderia ser fotografada, desenhada e muito menos alcançada. O grande mar disse, por último e em tom melancólico, que aquela lua era mais valiosa que os velhos tesouros que nele estavam perdidos. A lua era a única coisa acima dele, brilhante, enquanto todas as outras nadavam em seu estômago. Disse que a lua nada lhe custava, e que da lua nada se comprava. Ela dormia de dia, enquanto ele repousava de noite. Ele realmente a amava, porque sabia que enquanto dormia alguém esperava por ele, mesmo que em vão, mesmo que inutilmente. E foi dormir.

Pude ouvir o ronco em toda a extensão da praia, na qual caminhava enquanto exercia o meu novo trabalho, se assim posso dizer. Eu era ajudante do mar. Melhor, segurança do mar. Acontece que o mar nada disse, e quando tive certeza que ele estava dormindo, comecei a achar que eu era A dona do mar. Se ele ouvisse os meus pensamentos, certamente me engoliria em uma só onda para sempre dentro de seu estômago misterioso. A respiração dele acompanhava as ondas que batiam e saiam dos meus pés. Eu tentava respirar no mesmo ritmo, embora não com a mesma perfeição. Eu, com tamanho deslumbramento resolvi correr entre as inúmeras declarações de amor na areia e os pisoteados castelos de contos de fada. Eu era a dona do mar, e sabia que ele só acordaria quando a lua fosse embora. E como sabia que eles nunca se encontravam não me importei. Gargalhava a minha posição, gozava do maior dos privilégios na qual nenhum dinheiro do mundo pode possuir. Foi o mar que confiou em mim, um ser humano que não chega nem aos seus menores dedos. Se é que ele tinha dedos. Era tudo tão lindo e harmonioso, que resolvi fechar os olhos e sentir as baforadas que o mar soltava em direção à praia. A brisa, a verdadeira brisa era aquela. As toxinas me embriagavam, as que cheiravam peixe, as que cheiravam camarão e as que cheiravam simplesmente suas águas. Sempre me disseram que água não tinha cor e essa era mais um motivo para que eu acreditasse que eu realmente era a dona do mar. Eu via as cores, dezenas delas, milhares! Eu sabia todas as cores do mar, e ele sabia de que cor eu era. Eu era vermelha.

Entre pulos e danças, percebei com exaustão que a brincadeira já não estava tão gostosa. Os meus olhos pesavam mais que os meus pés, e os meus cabelos estavam grudados de pequenos grãos cor de bege. Avistei o último castelo de contos de fada em pé, e repousei a cabeça sobre ele. Nos últimos segundos que precediam o meu sono mais profundo, eu olhei sem querer para lua e lembrei a promessa que tinha feito ao mar. Que tomaria conta dela. Mas era tarde demais, o meu raciocínio ficou pela metade e adormeci.

Acordei com a falta de respiração, e o gelado em volta do meu corpo. Estava desnorteada e não conseguia gritar. Estava claro, lá ao longe o sol brilhava intensamente contra o meu desespero. Enquanto eu me afogava lentamente, o mar cessou com as ondas por um instante quase imperceptível e deixou as ondas deslizarem sem espuma até o fim. As ondas pararam e o sol brilhou no brilho mais forte que já tinha visto em toda a minha vida. Então vi as cores, as verdadeiras cores do mar. Não era nada do que eu tinha visto de noite, eram perfeitas e únicas. Formavam juntas as cores dos olhos do mar. Quando percebi tal fenômeno, o meu tempo já havia reduzido ao meu último pensamento:

Estava ali, a amada lua em forma de sol. Ela protegia o mar de noite, e deixava de brilhar por algumas horas apenas para que esse pudesse descansar. De dia, a lua virava sol, e o brilho era tanto que ofuscava as suas idéias, e o mar em retribuição ao amor a ele dedicado, refletia cores em tons azuis e verdes para que o sol se acalmasse enquanto não poderia virar de novo lua. E o ciclo continuava todos os dias, e de novo, de novo, de novo... Ele amava tanto a lua que pedia todas as noites para que alguém a observasse para que ela não se sentisse só. E são tão poucos aqueles que conseguem trocar o sono para uma observação nata do amor mais puro que já pode existir. São poucos os que abdicam de todos os poderes de castelos de contos de fada para não deixar a lua, tão generosa, escapar. Não consegui entender a mais simples das lições: Era a lua dona mar.

E nos meus últimos segundos, já não enxergava mais nada.

Por fim, para mim, nem azul e nem vermelho. A escuridão.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

"Só o dono da dor sabe o quanto dói"

A sala ainda parecia girar quando eu entrei, e um dos meus últimos desejos ao me sentar no sofá ainda era fazer as pazes com o meu coração. Eu queria colocar um pouco mais de significado nessas almofadas, nessas cortinas, nessa mobília toda! Na verdade, queria conseguir remobiliar a gente. Passamos do tempo, do nosso tempo, e você nos deixou passar.
Eu posso começar agora a falar do egoísmo, e de como ele estragou você. Não sei direito o que sobrou da gente, nem ao certo o que ainda se salvou no meio de tanta coisa que apodreceu. Suas mãos conseguiram rasgar a imagem tão bonita que eu tinha feito de você. Fazer o que?
É, nesses dias difíceis é capaz de se perder da própria sombra em qualquer esquina, porque as coisas e as pessoas se afastam, aí o sono não visita mais, o telefone poderia esquecer de tocar, e o rosto perde o interesse pelo espelho, onde se vê tão cheio de dores. Até acho que não deve ter sido fácil pra você deixar eu bater a porta, mas você não tinha o mínimo direito de me impedir de desistir de você pois você já havia desistido da gente. Quando eu me vi de costas, me afastando aos poucos no horizonte, eu me lembrei de como costumava me sentir ao te ver chegando lá de longe até bem perto da minha boca. É sempre assim, agora do fim, a gente pensa no começo.

Ah, difícil mesmo é começar a se reconstruir
quando alguns pedaços voaram tão longe,
e outros se dissiparam em alguma memória qualquer.


E tudo ta tão difícil agora!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Um tanto eu, outro tanto você.

Mentiras na solitária.

Agora você me deixou com medo, sabia? Acende a luz, por favor, juro que não te peço mais nada nessa vida. Sabe, você tem que entender que se estiver claro será mais fácil correr até os seus braços. No escuro eu posso tropeçar, esbarrar e cair de novo e nunca mais alcançar nem sequer os seus pés. Talvez eu corte o joelho. Talvez eu use band daid. Mas eu não vou me arriscar correr aqui, porque no escuro eu não consigo fazer os curativos adequados e sólidos o suficiente. (...) Parece que você não me ouve, parece que vai continuar se escondendo aonde quer que você esteja. Que saco, o escuro que estamos na minha mente já tem até forma física: Enorme, grande e imenso. Mas como um biscoito sem recheio, vazio. Entende agora porque você precisa acender a luz? Se eu conseguisse fazê-lo sozinha, eu faria. Mas você sabe que não... Tatear já está me cortando as mãos, ouvir está me tapando ainda mais os ouvidos e cheirar, ah, cheirar me enjoa. (...) Deixa eu te enxergar de novo, vai! Você não me responde, mas sei que ainda está aí. Eu sei que você tem medo do meu tamanho, mas sei que você não é nada pequeno. Juntos poderíamos encher essa sala de luz, mas é você que precisa pressionar o interruptor. (...) Parece que você vai desistir, prefere ficar escondido nesse escuro para sempre? É tão fácil. É só acender a luz. (...) Lembrei da luz que refletia nos nossos olhos quando nos olhávamos muito de perto. Talvez seja isso, talvez a claridade esteja aí! Vamos, olhe para mim meu amor. Por favor... Você não está olhando, eu sei disso, porque o mundo ainda parece estar mergulhado no molho inglês. Meu querido pense no colorido que vamos poder ver. Não sente falta dele? Eu sinto. Será que ainda lembra do contorno dos meus olhos e do branco dos meus dentes? É! Talvez seja isso. Talvez não seja a luz do olhar que nos falta, deve ser a brancura dos nossos dentes sinceramente felizes. Sorria, só um pouco. A escuridão é uma ótima oportunidade de rirmos sem parecermos ridículos (...) Nada? Será que eu tenho que fazer tudo sozinha sempre? Sei lá, eu sempre fazia você sorrir no silêncio do meu enorme amor por você e nas pausas entre os nossos melhores beijos. Você costumava sorrir pra mim, sem que eu dissesse nada. (...) Por que agora ta tudo diferente? Porque está jogando as trevas do seu incompreensível ser para cima de mim? Eu já não tinha dito uma vez que jamais faria suas cicatrizes voltarem a doer? Por que então, as minhas é que estão latejando? Por que, então, esconde tudo de mim? (...) Era no escuro que eu focava em apenas sentir o perfume, e tocar as suas partes mais loucas do corpo. Talvez esse tal de escuro não fosse tão mal assim. Não era, mas agora é! Eu sempre tive medo do escuro, mas depois que comecei a ficar com você ele me parecia tão bom quanto um dia de sol. Devo estar falando sozinha há horas, já não tenho tanta certeza se ainda está aí. Deve ter me deixado sozinha, é tão mais fácil fugir enquanto está escuro, mas presta atenção, você pode ter certeza que alguma hora entre tropeços e acertos eu vou achar a maldita luz e aí vou poder apontar pra você e dizer: Covarde! Você vai sentir meu dedo indicador te fuzilando. (...) Chega agora, chega de brincadeira. Acende a porra dessa luz agora, eu to ficando com muito medo. Oi? Ta aí ainda? Ai...

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

De pensar

Sinto que estamos fora de moda, desencaixados de nós mesmos. Juro, não quero te perder. Mas você parece que faz questão de se perder sozinho, de se perder daquilo que costumávamos ser. Tenho medo de não conseguir mais agüentar, de não conseguir mais te segurar. Sabe, você anda muito pesado, muito pesado...

As vezes, chego até a pensar que estou me desperdiçando, perdi o passo e a vontade de andar. Da saudade, eu já esqueci. E ainda não sei aonde se escondeu o sentido da necessidade de ter alguém, mas hoje estou livre de necessidades. Hoje, vou ficar livre para mim. E nada poderia me convencer do contrário, já que coisas como essas não se podem combinar. Não se combina um sentimento, ele é. É algo que se sente, e só.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

"Isso vai doer":

Desestimulante

Já lhe ocorreu que talvez eu realmente canse? Isso não é tão impossível assim, e eu não preciso disso, não mesmo. Odeio essa sua mania de diminuir o motivos que eu te falo, deixando-os bem menores do que são. E você confia demais para passar confiança em troca. Cansei do seu orgulho somado a essa segurança desmedida. Existem outras pessoas no mundo, e o que é melhor, não existem só no seu mundo.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Um pedaço meu da gente

Havia uma lua cheia e um céu estrelado. As nuvens também estavam lá para aquecer as estrelas. Olhei pra cima e tentei encontrar apenas uma estrela fora das nuvens, apenas uma esperando eu te pedir pra mim, de novo. E ela estava lá, tímida, mas brilhando nos meus olhos.

Há quase um ano atrás, um desejo meu se realizou.

A partir disso, eu sorri até doer meu maxilar, mesmo depois de você ter que partir. A partir disso, eu chorei lagrimas que até tinham cor, pois com elas escorriam um sentimento que nunca desbotou. A partir disso, passei noites inteiras tentando descrever os seus sorrisos e os seus olhares pro meu travesseiro. A partir disso, aprendi coisas que ninguém poderia ter me explicado. A partir disso, eu amei mesmo, de verdade, de peito, olhos e braços abertos...

Então, contei nossos meses como quem conta as estrelas, e contei a elas sobre você. Eu contei que você vem comigo. Eu contei também que eu quero que você venha comigo pra sempre.

sábado, 17 de janeiro de 2009

tododia

Depois que desliguei a televisão, dormi por apenas duas horas. Quando acordei, fiquei pensando em como é gostoso te ter, confortável, seguro. Sinto que com você respiro fundo, aliviada, todos os dias. É uma busca a menos para mim, o amor, já encontrei em você. E agora que meu peito aperta saudade, eu me sinto tão besta, porque te vi ainda agora, ainda a pouco apoiava minha mão na sua cintura, debaixo de um guarda-chuva.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

perdida

Nem tudo o que deixei passar estava realmente ao meu alcance. É nisso que o amor vive errando. Ele tem rachaduras, vaza e escorre, corre para outras pessoas. Às vezes nem volta, às vezes se divide. A questão é que depois que se encontra outra pessoa para pendurar os olhos, não há mais nenhum retorno seguro sem forçar. Alguma coisa sempre se perde, alguém sempre perde.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

a espera

Essa vida sempre foi uma sedução.
Bem que eu poderia ter esperado um dia menos quente para sair de casa, ou esperado um momento melhor para ter me apaixonado. Sei lá, alguma hora em que eu a visse mais de perto. Só que no fundo, sei que não seria diferente. E se fosse, jamais chegaria essa tal hora, jamais existira o perto. Hoje, por querer tanto, o perto existe nos sonhos, é comida da vontade, e cabe nas madrugadas de sono ou insônia.
Mas o que eu queria mesmo saber é o que se faz quando se espera. Eu quero dizer, qual é a ação que rege o verbo esperar? Não falo necessariamente de sentar-se em frente ao relógio, de braços cruzados, acompanhando os ponteiros andarem. Às vezes, acredito que ninguém espera de fato. E se espera, é porque sente. Esperar é sentir, sentir muito, ou sentir antecipadamente o que a gente quer pintar para o futuro. E se de repente eu espero, vou também esperar que tudo não seja apenas um grande desperdício.

sábado, 10 de janeiro de 2009

um pedaço do meu inferno

Eu quero que o sol venha secar meu rosto, e quero justo agora, que já é noite. Os dias bons não chegam nunca, e eu não sei até quando consigo esperar em segurança.
Nunca acreditei que esses títulos falassem tanto sobre alguém. Sabe, eu falo por mim, não monto discursos. E não tenho nada para barganhar caráter. Será que é nisso que eu perco?
É que dessa vez eu fiquei tão decepcionada. Já cheguei a ver isso antes, mas preferi não acreditar, fiz questão de esquecer. Agora, eu faço questão de abrir um espaço em destaque na memória para essa cena, eu quero me lembrar muito bem de cada frase, cada ameaça, cada agressão.
Acho tão fácil salvar só a sua parte boa para pendurar numa vitrine para os outros, mostrar só o que agrada. Quero ver alguém vencer a parte de aceitar os próprios defeitos, ser o que é sem esconder as fraquezas, os medos, as anormalidades. Posso não ser tanto, mas juro que prefiro não esconder o que sou, porque imagens montadas costumam cair, é a lei da gravidade. E um dia eu te vejo cair. Eu não tenho pressa, não se preocupe.