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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O mundo é tão pouco meu, que essa parcela insignificante do que me pertence as vezes parece se dissolver por completo. E essa parte tão pouco minha das coisas vai pra onde?

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

cala frio

Ele pressionava os dedos contra qualquer nota do piano, que se perturbava em notas pela dor que causava. Lá na última fileira, uma menina sentia os pelos se arrepiarem por debaixo de tantas blusas de frio, que inutilmente trançadas de tricô não seguraram um corpo faiscante.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

morde o lábio

Menina esparramada no sofá, beirando cair, pêndula nos braços de que nunca temeu a queda.

Cabelos dela preso em mãos tuas.

Menina desmanchava no sofá, compartilhando segundos de plenitude.

Eles se olhavam tão de perto, e na ótica da Menina os dois se misturavam e se tornavam par.

Beijavam em toques leves de lábios as mãos que chegavam ao seu rosto.

Menina de longe parecia estranha.

De perto Menina queria morder os olhos dele,
E em cima dos olhos o cabelo para todos os lados, em cima dos cabelos o teto, em cima do teto o céu e estrelas, e depois disso...

Menina não soube me explicar.

Cada abraço precisava de longos minutos de respiração, para rápidos segundos de inspiração.

Cada beijo que davam, diziam coisas sem palavras.

Perguntou à Menina o que sentia quando leu teu texto sobre eles.

Menina só pode abraçar e sussurrar:
- Isso.

A noite se estendeu para a madrugada, levantou o sol e virou dia.

Menina resolveu se explicar:

Quando meu coração leve bate lento, são os barulhos, os esbarrões e os sentidos de te ter ao meu lado. Parar você em algumas linhas é complicado, dá vontade de sair correndo de cada letra e chegar ao seu lado. O coração, também, bate forte e rápido na tentativa falha de te encaixar em qualquer coisa que já tenha existido pra mim. Não é porque os outros deram errado, é porque você parece ser o certo. Na descoberta do novo, do único, o coração vive em paz e alegria, toca notas desconexas e se torna música.

No compasso latejante Menina ainda não conseguiu dizer o que tanto precisa.

Mais do que dizer, ela precisa sentir tudo por ele.

E se sentir nele.

Para que ele se sinta nela.

Menina mandou dizer que sente, sente muito.
Sente você.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

sobre as maiores palavras do mundo

Engasgado, travado, quase sufocado. E sufocando. Não sai. Da garganta não passa. Ta entalado. Ele pensa em colocar tudo pra fora, arrancar de dentro da garganta – e do peito. Mas não sai. E olha no fundo dos olhos dela como se isso fosse um dedo na garganta, e nada. Nem um som. E ele sabe, ela ta lá pra isso. E ele sabe que tudo que ela mais quer é essas palavras vomitadas aos ouvidos dela. E ele sabe que ela engasgou junto com ele. Ta toda sufocada e as vezes chora pra aliviar a pressão que essas malditas – ou benditas? – palavras fazem na garganta. Ele chora junto. Deita no colo. Esperneia. Ela olha ele, de cara inchada, olho vermelho, e finalmente sente aquelas palavras enormes se soltarem da garganta e escorrerem pra ponta da língua... mas não solta. Segura firme, engole de novo. Respira fundo.
E se ela falasse, ele falaria. Mas ela só fala se ele falar. Respira fundo. 
Um dia desengasga.

outra vida

E Agosto nenhum diria que eu estaria aqui, inserida nesse contexto tão novo pra tão pouco tempo de transição. Por isso, as vezes quando eu fecho os olhos esqueço o que vou ver quando abrir. Assusto, caio nas minhas próprias armadilhas, confundo pessoas e repito velhos erros. As peças reestreiam, os velhos casais de amigos ainda estão juntos. Corta-se o cabelo um bilhão de vezes e chega-se a conclusão que no fundo falso do coração sempre há a marca amarelada de uma outra realidade que ficou por muito tempo estendida dentro dele.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

insônia

São altas horas da madrugada e eu não consigo dormir. Todo mundo ta dormindo. Na minha visão de mundo estão, pelo menos. Salvo os meus três contatos de MSN que estão online, dois deles compartilham comigo o porquê de estarem na mesma que eu.

 O primeiro é a biografia de seu próprio personagem. Estranho, mas nem foi ele que escreveu. Tem lá os seus vinte quatro anos de carcaça e uns duzentos de olhar. Não fuma, se droga muito raramentee pouco faz sexo. Brincando de Deus, ou de bala perdida, ou de ataque de nervos dou a ele mais dois anos de vida. Não, vai! Dois dias. Sem ser pessimista... Mas ele é o tipo de pessoa multi-atarefada, que corre o tempo todo atrás do que ele próprio fez correr mais rápido. Tá no trabalho, agora. As quatro quase cinco da manhã, me dizendo que queria sair comigo sábado. Mas sábado não posso. Então ele vai perguntar para os outros três (no máximo) amigos que tem, e em caso negativo, ele vai ficar em casa jogando PlayStation e tomando vitamina com canudinho. A outra fica acordada até essa hora porque o bichinho virtual dela ta apitando. Deve estar com fome. Ou melhor, deve tá carente/depressivo/chorão com crises iguais a minha e precisa, mais do que tudo, que alguém o alimente. E fome é foda. Quando é de verdade, devastadora, você mete goela abaixo qualquer coisa que te derem. Sejam promessas de filme, fotos que só mostram o rosto ou olhares que nunca se viram. Essa minha amiga deve estar colocando o bichinho virtual dela pra dormir, agora. Sabe como é, amanhã tem mais uma sessão de amor virtual, de distração momentânea.

 A outra pessoa sou eu. Mas desde o começo esse texto tem a principal função de me esquecer um pouco, antes que eu vomite.

domingo, 5 de agosto de 2012

quando explode

E toda a banda tocou intensamente naquela noite uma espécie de baile de carnaval. Cara, me esquece na balada, tô muito doido! Foi em novembro e as luzes coloridas dançavam no seu rosto de palavras meio ditas. Você acha que eu to suando assim por que? Você não tem idéia do que eu sinto por você. Fui ao banheiro acender um cigarro. Olha, quando eu voltar você vai me dizer o que é tudo isso aí que você sente por mim, pode ir criando coragem. E quando eu voltei pra pista, ele disse que me amava. Disse eu também amo você. Eu queria te dizer isso faz muito tempo e... Sei lá, eu to com vontade de chorar. Ele chorava pelo os poros do seu corpo, nunca pelo os olhos. Mas eu chorei ao usual. Não conseguíamos nos beijar, abraçar, ou parar o tempo. O tempo corria como nunca havia antes. Repetíamos as palavras, de novo e de novo. Eu te amo assim, pra caralho! Eu também te amo. Aliás, eu prefiro dizer que eu também amo você. Mas eu te amo faz uns três meses, mas eu não sabia se era recíproco. Eu tinha me esquecido de fumar, ele se esqueceu de beber, a festa nos esqueceu e eu não tenho idéia de que música estava tocando. Minha lágrima era discreta, e as palavras dele pareciam um canal com um coração que explodiam na boca. As minhas saiam com serenidade. Ficamos ali, equilibrados nas nossas diferenças e juntos em uma só expressão. Eu amo você.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Fato.

A vida é feita de abandonos.

no piscar da folha que cai

Se passa tanto tempo desejando a mudança que não se vê ela acontecendo. E quando se vê, estamos lá, com a nossa mão esquerda cruzando os dedos da mão direita de uma nova pessoa dentro daquele carro diferente, dirigindo em uma rua que a pouco tempo atrás você não conhecia, vindo de uma casa que a pouco tempo atrás você não frequentava e indo pra uma casa que a pouco tempo atrás não era a sua. Mas agora é. Nem café você toma mais, agora é chá. De camomila, erva doce, verde, leão. Cada dia prova um sabor novo pra adicionar a coleção.

Tudo muda, tão rápido, e a gente não nota. Mas, nesse de repente, desse piscar de olhos de quando aquela folhinha morta bateu no para-brisas do carro e você foi apreciar ela voando… é ai que você vê tudo novo, tudo lindo de novo. Outro capitulo pra você viver, novinho em folha. Várias e várias folhas branquinhas te esperando, num capítulo que você tem a chance de fazer tudo diferente. Mais claro. Mais limpo. Mais bonito. É, um capítulo novinho em folha… daquela folhinha que morreu e caiu pra outra folha novinha nascer no lugar dela.