Páginas

sexta-feira, 28 de março de 2008

Pensando bem...

Eu me apaixonei por uma nuca, e a noite fica difícil dormir com o meu travesseiro só falando sobre você. Eu me apaixonei por uma mão, e se você me der seus sentimentos, eu prometo apertá-los forte contra os dedos e nunca mais soltá-los; apesar de que o futuro não me atrai quando eu sei que você é o meu presente. Eu me apaixonei por um olhar, e o que eu mais gosto é de me ver perdida dentro do espelho redondo e castanho que fica no seu rosto. Eu me apaixonei por uma boca, e a minha música favorita se transformou nessa sua voz de menino. Eu me apaixonei por um nariz, e nem Paris poderia encontrar perfume tão doce quanto o seu cheiro. Eu me apaixonei por um cabelo, que tem a cor dos seus olhos brilhantes e é o mundo feito para os meus dedos. Eu me apaixonei por um pé, vezes vestido de grandes grifes, sempre compassado com o meu allstar velho. Eu me apaixonei por uma orelha, e se fez tão bom falar qualquer coisa, assim, só para você me escutar. Eu me apaixonei por um braço fino, e eu não consigo te largar quando o seu abraço é o mais confortável. Eu me apaixonei por um pôr-do-sol, às quatro da tarde, de mochila, que me confunde o seu jeito fofo com a sua criatividade. Eu me apaixonei por um cadarço, que só desamarrou para você se abaixar e amarrar para mim. Eu me apaixonei por um peito, e eu adoro ouvir as histórias que o seu coração conta no meu ouvido. Eu me apaixonei por um sorriso, e os meus dentes querem te morder o pescoço, sim, por quem eu também me apaixonei. Às vezes, eu acho mesmo é que eu me apaixonei por você.



(Dois meses). =)

quarta-feira, 26 de março de 2008

Baile

O divórcio do silêncio profundo com o mais bonito escuro de olhos fechados, se deu com uma nota de piano; ela vibrou até que morresse muda. Queria não conseguir escutar os passos deslizando bem longe de mim, no salão do baile de formatura que não fomos. Os saltos riscam os nossos nomes no chão enquanto eles dançam a nossa valsa. Roubaram a nossa música, ela não se encaixa na festa deles. Nem o nosso vazio caberia no peito deles. A umidade nas paredes do meu mundo apodreceram o meu cérebro. Se cai um cisco, aqui dentro é tempestade e o céu desaba à terra.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Eu me perdi... pra você.

As paredes, o teto, a cadeira e a mesa me prensavam, apertavam meu peito que ficava cada vez menor. E por mais que houvessem atribulações, por mais que a briga com os números do tempo ocupassem as minhas mãos, minha cabeça ainda era casa sua. Seu rosto colou nos fundo dos meus olhos e agora é só o que eu posso ver. Seus detalhes me dissolveram, me desarmaram inteira pra você.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Gotejou em mim

Sinto saudades da voz do grafite arranhando o papel. Nesses dias frios em que a chuva faz visita, vem junto a vontade de escrever. Mas receio ter perdido a prática. Eu estou mudando e o que eu escrevo já não me satisfaz e sempre que me volto para a ficção ela acaba ficando grande demais. Tenho visto tantas coisas. Esses dias mesmo dei de cara com uma aparência terrível, que me assustou, me entristeceu. E já faz mais de um mês que eu durmo ao lado de dois sentimentos. Pelo menos eles não pertencem a mesma pessoa, são tão diferentes. A questão é que um abafa o outro.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Roseli é quatro anos mais nova que Alberto, o que até os ajudou a se apaixonarem. Conheceram-se pouco tempo depois do carnaval de 1954 em Praia Grande. Quebraram dois ditados, pois o amor dos dois subiu a Serra e continuou mesmo depois de fevereiro. Eu não sei ao certo a história deles, sei que ela se formou em psicologia apesar de não ter atuado muito na área, trabalhou durante anos em uma lanchonete, e ele era técnico de eletrônica. Que eram felizes dava para ver em seus sorrisos. Casaram-se e compraram uma casa no “interior” de São Paulo, numa avenida com nome de idioma indígena. Teve uma noite em que se tornaram o casal mais feliz, o mundo era deles e o tempo também. Noite em que dois jovens brincaram de ser pais pela segunda vez, de mais uma menina, que nasceria no dia 08 do mesmo mês em que se conheceram, do signo de peixes igual aos da água do mar. Seu nome, que teria três sílabas muito em breve se tornaria o título da insônia de muitos garotos e até garotas. Seria apaixonada pela comunicação visual e teria a personalidade in/extrovertida, o desconhecido não a assustaria, apenas a prisão que de vez em quando ela criaria pra si mesma. Ela sentiria amizades e provaria de variados temperos de personalidades, seria difícil não conhecer alguém que não fosse com profundidade. Com seus oito anos, iria três vezes por semana dar comida aos peixes do seu primo, e os alimentaria de ilusões, mas ela saberia que nada duraria pra sempre. Começaria sua faculdade de design ao mesmo tempo em que se iniciaria a construção de sua prisão. Aos 24 anos se casaria com um farmacêutico futuro cozinheiro de sucesso, dono de um humor instável, e contendo toda tranqüilidade para aturar suas crises. Mas o que ela mais gostaria nele seria o jeito com que ele faria nenhum dia repetir o outro. Ele saberia lidar com ela, deixando-a sempre em dúvida. Acho que ela só ficaria com ele por tanto tempo por causa da curiosidade, e o que e o quanto ele sentia por ela, seria um mistério que ela nunca iria descobrir. O que seria mais interessante neles dois, seriam seus nomes, que ficariam bonitos, um seguido do outro, como se tivessem sido previamente combinados. Eles só se separariam depois de 8 anos por causa de uma viagem dele, devido a pós. Essa seria a única vez que ela sentiria muitas saudades de alguém, porque na sua vida inteira, só sentiria mesmo saudades do que nunca teve. Com 53 anos ela publicaria seu diário de adolescência. O livro não teria desfecho, assim como qualquer coisa que ela começasse. Seria bem-sucedida, mas isso não seria suficiente para a sua felicidade, talvez porque essa seria a época em que ela deveria estar trocando as fraudas de seus netos ou ajudando como presente de casamento na entrada da casa de um dos filhos. Desconfio que essa seria a sua maior prisão, a maior que iria construir. Na segunda-feira, dia 8 do mês depois do carnaval em 1964, morreria sem ao menos ter nascido... Ah! Pra que falar do fim se nem começo teve?
Na terça-feira do dia 8 do mês depois do carnaval de 1964 não nasceu nenhuma menina de olhos castanhos com bochechas diferentes, que tivesse o nome iniciado pela primeira letra do alfabeto. Roseli e Alberto só tiveram uma filha, que se chamava Natalia e nasceu no ano de 1959.

E o resto se perdeu em outra época. A errada, eu diria.