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sexta-feira, 7 de março de 2008

Roseli é quatro anos mais nova que Alberto, o que até os ajudou a se apaixonarem. Conheceram-se pouco tempo depois do carnaval de 1954 em Praia Grande. Quebraram dois ditados, pois o amor dos dois subiu a Serra e continuou mesmo depois de fevereiro. Eu não sei ao certo a história deles, sei que ela se formou em psicologia apesar de não ter atuado muito na área, trabalhou durante anos em uma lanchonete, e ele era técnico de eletrônica. Que eram felizes dava para ver em seus sorrisos. Casaram-se e compraram uma casa no “interior” de São Paulo, numa avenida com nome de idioma indígena. Teve uma noite em que se tornaram o casal mais feliz, o mundo era deles e o tempo também. Noite em que dois jovens brincaram de ser pais pela segunda vez, de mais uma menina, que nasceria no dia 08 do mesmo mês em que se conheceram, do signo de peixes igual aos da água do mar. Seu nome, que teria três sílabas muito em breve se tornaria o título da insônia de muitos garotos e até garotas. Seria apaixonada pela comunicação visual e teria a personalidade in/extrovertida, o desconhecido não a assustaria, apenas a prisão que de vez em quando ela criaria pra si mesma. Ela sentiria amizades e provaria de variados temperos de personalidades, seria difícil não conhecer alguém que não fosse com profundidade. Com seus oito anos, iria três vezes por semana dar comida aos peixes do seu primo, e os alimentaria de ilusões, mas ela saberia que nada duraria pra sempre. Começaria sua faculdade de design ao mesmo tempo em que se iniciaria a construção de sua prisão. Aos 24 anos se casaria com um farmacêutico futuro cozinheiro de sucesso, dono de um humor instável, e contendo toda tranqüilidade para aturar suas crises. Mas o que ela mais gostaria nele seria o jeito com que ele faria nenhum dia repetir o outro. Ele saberia lidar com ela, deixando-a sempre em dúvida. Acho que ela só ficaria com ele por tanto tempo por causa da curiosidade, e o que e o quanto ele sentia por ela, seria um mistério que ela nunca iria descobrir. O que seria mais interessante neles dois, seriam seus nomes, que ficariam bonitos, um seguido do outro, como se tivessem sido previamente combinados. Eles só se separariam depois de 8 anos por causa de uma viagem dele, devido a pós. Essa seria a única vez que ela sentiria muitas saudades de alguém, porque na sua vida inteira, só sentiria mesmo saudades do que nunca teve. Com 53 anos ela publicaria seu diário de adolescência. O livro não teria desfecho, assim como qualquer coisa que ela começasse. Seria bem-sucedida, mas isso não seria suficiente para a sua felicidade, talvez porque essa seria a época em que ela deveria estar trocando as fraudas de seus netos ou ajudando como presente de casamento na entrada da casa de um dos filhos. Desconfio que essa seria a sua maior prisão, a maior que iria construir. Na segunda-feira, dia 8 do mês depois do carnaval em 1964, morreria sem ao menos ter nascido... Ah! Pra que falar do fim se nem começo teve?
Na terça-feira do dia 8 do mês depois do carnaval de 1964 não nasceu nenhuma menina de olhos castanhos com bochechas diferentes, que tivesse o nome iniciado pela primeira letra do alfabeto. Roseli e Alberto só tiveram uma filha, que se chamava Natalia e nasceu no ano de 1959.

E o resto se perdeu em outra época. A errada, eu diria.

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