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domingo, 28 de junho de 2009

pelos ares

Eu acho que ainda não aprendi como te dizer, é que esse silêncio sentou ao nosso lado desde o começo. Eu não sou do tipo que sabe adivinhar. Esse foi o mais perto que eu já cheguei de jogar tudo pelos ares por alguém. Por favor, ajude-me a esquecer da prudência. Cansei de ficar empregando meios - inexistentes - para colocar meus sentimentos dentro de uma fôrma racional. Eles simplesmente não são assim. Eu não sou assim.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

aleatório

O relâmpago é o dia querendo invadir a noite. Eu bato a caneta da carteira na tentativa de fazer melodia com as palavras. Chorar de alegria é final da linha refazendo começos. Meu nome de verdade contradiz a foto da minha identidade, os meus passos são impressões digitais e não o meu dedo no carimbo. Cansei de gente com cara de retrato, cansei de acordar no meio do dia, cansei da noite e preciso ver o clarão que é a vida.

sábado, 20 de junho de 2009

questão de paixão

Os dois não sabiam se conquistar de jeito que fosse ao mesmo tempo. Antes ele quis dos olhos da garota toda a erupção de seu jeito. Em sua posição de mulher foi difícil até que a nuvem não agüentou e derramou do céu todo aquele mar de lágrima misturado com o seu beijo diferente. Garoto que faria qualquer coisa por aquilo só teria quando não o quisesse mais. O mundo ao redor mal sabia dos caminhos que juntos os dois traçaram - parecia que se alguém descobrisse a mágica de nada valeria. Acostumada com aquilo, ela foi dançar para outros lados, dava e retirava como manda a lei natural dos amores. Urbana e iludida, cansava de esperar pelo o terceiro dessa história. O cenário não mudava, beijava-os no mesmo lugar, cada um no dia que o outro se ausentasse. Quando o fio de uma marionete se desmontava puxava a da outra e nunca ficara sozinha no palco. O personagem que não é o principal foi viver uma história de amor verdadeira e dita ao mundo todo. A garota só aceitou. Sobram então duas personagens. Há neste instante uma passagem de tempo, mudam-se as estações climáticas e a do rádio. O todo apaixonado se conforma e como última tentativa em sua desistência nunca declarada, foi amar outros olhos, outra boca, outro lindo sorriso de outra personagem que tem nome – mas que não aparece na peça da autora. Pode-se tocar uma melodia de transição. O menino de um extremo no palco joga um pedaço de pano vermelho simbolizando o seu amor á ela. Ela o recebe e os papeis se invertem – mas o público não deve perceber. No fim, enquanto os espectadores esperavam que a vilã da história se desse mal (como de habitual) ela simplesmente ficou parada e olhou para a boca de cena e viu que um quarto olhar que a prendia a prendeu de vez. Temo não ter sido clara: há na história um conto de quase amor dos dois dos personagens principais. Que de inicio ele a amava e que com o decorrer dos acontecimentos ela foi atrás de querer ele de verdade. As verdades dessas páginas querem dizer que as duas falas principais nunca foram ditas juntas e ao mesmo tempo. De cada um sobrou um drama, uma peça separada da outra. Atores e personagens foram viver diferentes experiências a fim de um dia compartilharem do mesmo monologo.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A la carte

Uma gota de perfume na ponta de seus delicados dedos, envolvidos na luva de seda lilás. Atrás das orelhas o cheiro, na frente deles um brinco de brilhantes esculpido por Deus. Arruma-se bem aquele que tem por quem se arrumar. Fita-se no espelho e ensaia o discurso de saudade, descobre os olhares que mais funcionam e se sente completamente amada. Encontro para as 10, debaixo da lua e acima das estrelas, restaurante caro e um gole de vinho para ir mais além. Ele chega, portando em sua mão esquerda uma aliança gigante que representa – pelo o que sabe – o amor incondicional, e uma união além da física. Ela se deparou com o modelo que não tinha igual em suas mãos, as mesmas mãos que ele apertava, beijava e dizia que eram as mais lindas do mundo. O espartilho em baixo do vestido começava a pressionar seu coração contra ela mesma. O ar faltava, a dignidade repudiava e os mandamentos não permitiam. Tentou se desligar do terno de linho que ele vestia elegantemente, da barba cerrada que na cama lhe era divindade e das promessas que a sua mão esquerda negavam. Levantou, deixou a cadeira cair e entendeu que aquilo não era direito dela. Andou de costas e pediu desculpa em lágrimas, anos de traição e um sentimento de culpa para o resto dos dias.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Perdendo a garantia

Perdeu o ônibus por alguns segundos, e se perdeu de alguém por um pouco de distração. E nem fazia qualquer diferença saber de tudo, quando se acostumou a fingir que não sabia de nada. Quem ela deixaria que partisse seu coração? Ninguém diria que não é chegada à hora de prender-se na perda da consciência do individual. Era tudo uma questão dela mesma, que ela mesma não fazia a mínima questão. Depois que amarrou seus cadarços e enfeitou alguns pensamentos, deixou que seus olhos se esparramassem pelo chão, desejando esparramá-los pelo rosto de quem realmente gosta. Quer correr atrás do atraso, porque não suporta esperar, mas também não sabe desistir. E o medo de ser egoísta demais para aceitar que talvez o melhor seja mesmo alguma coisa totalmente diferente, abraçou-a por trás. Como já sopraram aos seus ouvidos, é muito difícil abandonar um ideal.

terça-feira, 9 de junho de 2009

segunda-feira, 8 de junho de 2009

copo meio vazio

Estou seca - disse ela - seca de palavras.

O álcool começou a conquistar as veias, logo menos, alcançaria o sangue. Olhou para a rua na frente do bar, como se pedisse ajuda muda com os olhos, e o mundo não quis parar lá fora. Um rapaz passou de skate tão rápido que não se percebeu os detalhes.

Mas ele usava uma boina bege - pensou ela.

Um brinde, dois, três, quatro garrafas. Todos às drogas, ao sexo, ao amor inexplorável, inexplicável, inesgotável... E ela ainda sofre com a falta das palavras. Onde foi parar sua prática? Os pulsos tremem, é o coração pulsando forte.
So hard! - ela grita, ninguém ouve, ninguém liga.

Tropeça em goles, tragos, estragos. O buraco que ela cava não é tão fundo quanto sua cova, levaria outros tantos anos. Vamos deixar que o passado cante por ela as músicas que ela gosta porque ele adora. Só ele, e ele, e ele (...)

Depois outros tênis sujos de barro marcarão o mesmo caminho, abraçando o destino cansado e as mãos suadas. E ela só parará quando o sol desistir de nascer.

Ela sabe, mesmo que neguem e contestem: as melhores palavras ainda estão com ele. Quanto ciúme por nada! Ou tudo! Um perfeito que o mundo das garotas querem devorar. Nasce o orgulho. Se ela ficasse rica em um mês não saberia como gastar sua riqueza, e mesmo pobre, sente-se exatamente assim. Acontece que ele colore o mundo cinza dela, poluído, cheio de ruído... Tudo que coloca charme no urbano. Ela vai escorregar nas roupas do rapaz de perfume unitário. Ele é ele e mais ninguém.

domingo, 7 de junho de 2009

um parágrafo

Quando fogem as palavras da boca e os sinônimos não dão conta do significado verdadeiro; na falta de coragem, ou de voz; na ausência física, na ausência de destreza no improviso - ainda sobram as letras. A diferença está no poder de planejar, na estratégia de colocar as palavras certas na sua ordem favorita. É como medir a reação dos outros e determinar o que seus olhos poderão ler. Escrever é como filtrar idéias.