Páginas

domingo, 29 de agosto de 2010

por todo o quarto

Uma melodia pode começar pela cortina, balançando e entrando por todo o quarto. Quando eu escuto uma música que me faça te lembrar, é como se você entrasse pela janela mesmo, me convidando para fugir dessa cidade. Mas eu posso fugir com você por outros lados, nos cantos profundos dos meus pensamentos. Eu sei que vai ser sempre essa mesma luta: todo domingo vai ser sempre igual, essa tristeza percorrendo todo meu corpo porque acabou o fim de semana, e uma ansiedade angustiada a espera do próximo. E ate lá, vou te escrever e fazer tudo para tentar entrar e ficar cada dia mais próxima do seu coração. Assim como quero que você fique cada dia mais próximo das minhas palavras - mas cada vez mais distante de ser possível ser descrito nelas. E você sabe, eu posso te fazer sonhar. E você sabe, que se você deixar, eu posso te acompanhar... Como uma melodia, que começa pela cortina, balançando e entrando por todo o quarto.

domingo, 22 de agosto de 2010

será que to ficando apaixonado?

Anestesia local. Pulso acelerado, respiração escassa, mãos trêmulas. Estado terminal, doente condenado. Na cama, antes de dormir, perdeu a noção do agora e depois. Tudo segue uma linha desgovernada, correndo para todos os lados, sobe e desce, cai em resistência e ressurge pouco depois. Os lençóis flutuam por todo quarto, o quente parece mais quente e o gelado não vive ali. Os olhos brilham para mostrar que está vivo. Cada detalhe é melhor do que qualquer outra coisa. Agora não tem jeito, e nem que o quisesse. Vem e desvem, rostos em comum, datas que se cruzam, pais e parentes que ainda não se conhecem. Aprendeu a ser sozinho para aprender quanto bom é estar com alguém. Hora da visita programada para os finais de semana. Hospício, diagnostico de maluco, problema mental rente à região correspondente ao coração. Na cadeira de balançar, a madeira faz barulho. Não tem televisão, nem grande paisagem, tão pouco trilha sonora. Os olhos quase sangram de ansiedade, a paz interna luta com o rosto que insiste em mostrar o quanto é vulnerável. A doença de que melhor existe, sem remédio em farmácia, homeopatia ou terapia. A doença não existe porque não pode ser descrita, dentro do coração o sentimento de que melhor já inventaram começa a pulsar novamente.

Caminha pelo corredor e sente a brisa que lhe diz:
- Sim, você está apaixonado novamente.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

outra vida

E Agosto nenhum diria que eu estaria aqui, inserida nesse contexto tão novo pra tão pouco tempo de transição. Por isso, às vezes quando eu fecho os olhos esqueço o que vou ver quando abrir. Assusto, caio nas minhas próprias armadilhas, confundo pessoas e repito velhos erros. As peças reestréiam, os velhos casais de amigos ainda estão juntos. Corta-se o cabelo um bilhão de vezes e chega-se à equivocada conclusão que no fundo falso do coração sempre há a marca amarelada de uma outra realidade que ficou por muito tempo estendida dentro dele. Havia já me acostumado. Pensava que não ia ser de novo e ser assim rápido, nem queria que fosse. Eu estava confortável, acostumada e muito bem até tudo começar a mudar e a mudar e mudar, de novo. Mas agora, agora... Eu to do jeito que eu não queria estar e nunca estive mais feliz.

sábado, 7 de agosto de 2010

tic-tac

O verão foi. O outono foi. O inverno aqui e agora varrendo o pó debaixo da cama. O chá de frutas silvestres. Os amigos que morrem de overdose. Outros entram com o carro de baixo do caminhão. Toma-se vinho chileno. Lê-se Virgínia Woolf. Vira alguém perante a lei. Muda hábitos. Corta o cabelo. Volta atrás. Volta atrás. Traça planos. Vai no cinema. Come menos. Come mais. Volta atrás. Um passo a diante.

E num segundo, o verão de novo.

domingo, 1 de agosto de 2010

alguém

Quando eu penso em você, e que isso não soe piegas: quando a gente tá vivo a gente não fica lembrando que tá vivo, apenas vive. Quando se morre é que se lembra de quando se vive. Você é meu "apenas vive". Todos os dias e não se pula um. Você poderia ser um pouco mais odioso ou um pouco menos amoroso, assim te veria mais ser humano, e não esse sonho que é. Eu poderia nunca mais ver você? Poderia, mas eu não quero.

Por isso eu gosto.