A sala ainda parecia girar quando eu entrei, e um dos meus últimos desejos ao me sentar no sofá ainda era fazer as pazes com o meu coração. Eu queria colocar um pouco mais de significado nessas almofadas, nessas cortinas, nessa mobília toda! Na verdade, queria conseguir remobiliar a gente. Passamos do tempo, do nosso tempo, e você nos deixou passar.
Eu posso começar agora a falar do egoísmo, e de como ele estragou você. Não sei direito o que sobrou da gente, nem ao certo o que ainda se salvou no meio de tanta coisa que apodreceu. Suas mãos conseguiram rasgar a imagem tão bonita que eu tinha feito de você. Fazer o que?
É, nesses dias difíceis é capaz de se perder da própria sombra em qualquer esquina, porque as coisas e as pessoas se afastam, aí o sono não visita mais, o telefone poderia esquecer de tocar, e o rosto perde o interesse pelo espelho, onde se vê tão cheio de dores. Até acho que não deve ter sido fácil pra você deixar eu bater a porta, mas você não tinha o mínimo direito de me impedir de desistir de você pois você já havia desistido da gente. Quando eu me vi de costas, me afastando aos poucos no horizonte, eu me lembrei de como costumava me sentir ao te ver chegando lá de longe até bem perto da minha boca. É sempre assim, agora do fim, a gente pensa no começo.
Ah, difícil mesmo é começar a se reconstruir
quando alguns pedaços voaram tão longe,
e outros se dissiparam em alguma memória qualquer.
E tudo ta tão difícil agora!
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