Tiveram dias em que eu dormia e acordava entre passos falsos.
Nesses dias pisava com segurança, dona do mundo e controladora dos que tivessem ao alcance dos meus olhos ferinos e cegos. Pior do que cega, estava míope e daltônica. Deixei de enxergar as cores e de olhar pra longe. Precisei colocar um limite na minha moral, e quando me limitei moralmente deixei de viver.
A vida, nesses dias, virou um abuso.
Com as minhas próprias mãos, por tantas vezes, estapeei o meu rosto. Eu tinha o prazer da ofensa, do sangue fervendo e da plena razão no que fazia. Ao mesmo tempo em que me feria com as minhas escolhas, e me destruía, porque ninguém fazia isso por mim.
Cultuei o humano, montado, maquiado, delineado e que de tão perfeito nem parecia real. Nos dias em que percebi que gostava mais do fantasioso do que do real, decidi me aventurar em qualquer coisa que me desse nojo mais na frente. Pois bem, fiz-me um nojo. Criei apreço em abusar de intenções egoístas, de mentiras caras-de-pau, de repetir á todo o mesmo sentimento e de me agredir, principalmente, cada dia mais. Fiz-me do nojo, virei o que preguei.
E houve dias em que os dias passaram.
Os passos de segurança viraram tropeços, os olhos ferinos começaram a se abrir e a vislumbrar de novos dias. Os novos dias vieram, o calendário não para de virar, página após página. Declarei os erros, cometi outros, sempre será assim. Mas hoje não vou me enganar. Nem a falsa felicidade é melhor do que uma dor verdadeira. Hoje prefiro arriscar de verdade, uma vida de verdade, prefiro sofrer uma verdade a cultuar uma mentira
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