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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

prenúncio do fim

na rua gritam os cachorros perante o silêncio de um fim de tarde, um dia que o isolamento se deu por direito. quase todas as janelas de todos os andares em todos os prédios que cabem na minha paisagem já estão acesas. vista pra cá, janelas de casco podre, que falam oco, com vidros que pendem pra fora. um contexto bege, uma luz amarela acesa. na varanda um jardim de espinhos coloridos, de se colher e entregar como presente romântico.

correm esvoassantes no asfalto as folhas secas que marcam o outono, na calçada da esquerda um homem mascarado encara o vazio, na direita, abaixo do poste, dorme um cachorro (no pé de um corpo coberto de panos e de asfalto, invisível às quem decide não ver). 

na vitrola, o disco parado, a madeira molhada debaixo do vazo, um gole de água e a cortina que dança com o vento, tocando de leve a pele da que ali se fez menina e chora na casa vazia. 

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