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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

não-domesticado

E você despe suas roupas sujas, se lava com água fria e não encontra pedaço de pano que te seque.

Então, enquanto treme sozinho no escuro se lembra de todas as cores que já conheceu na vida, e de como todas elas fugiram como os ratos fogem dos gatos.

Depois, enquanto chora, percebe que as cores são, na verdade, as pessoas, e que mesmo em dois mil anos, elas não teriam fugido se você não as tivesse espantado.


Como um gato.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

terça-feira, 27 de outubro de 2009

do vazio

Então ela lambeu as lágrimas que escorriam,
manchando a língua de tristezas.
Quando o vazio é muito grande,
as lágrimas são transparentes.
 
- por Rita Apoena

domingo, 25 de outubro de 2009

prefiro assim

- Você tem ficado muito sozinha ultimamente.
- Prefiro assim.
- Não se sente solitária?
- Me sentiria se estivesse presa em uma caixa branca e vazia. Mas com tudo isso ao meu redor, não tem como.
- Estou falando sobre pessoas. Não sente falta?
- Sinceramente, não.
- ...
- Ultimamente não sinto vontade de acordar no dia seguinte e as pessoas só piorarem isso. Preciso de um tempo comigo para me acostumar com a idéia de viver mais um dia, para conseguir aguentar.
- Sim, um tempo... Uma hora ou um pouco mais. Mas você tem ficado muito sozinha ultimamente.
- Prefiro assim.

domingo, 18 de outubro de 2009

terça-feira, 13 de outubro de 2009

então vi,

toda a água escorrendo pelo ralo.

sobre o medo

Não sei. É que eu estou assustada há tanto tempo, que me esqueci do quanto estou assustada. Essa coisa de ter aquilo que me faz bem não costumava ser parte do meu dia-a-dia. Era raro, quase impossível. De repente, entrou na minha vida tão rápido e sem jeito, que eu me assustei. Estou assustada até hoje. Assusta-me meu medo e o modo que você reage ao seu. Como já reagiu. Como as coisas vivem assim? É realmente assustador... Como o ser humano pode conviver com dores tão intensas, conviver com o orgulho ferido, conviver assustado dessa maneira, e continuar a conviver, mesmo depois de tanta história, passando por cima de toda a rotina e tédio e lágrimas e mentiras e decepções e mágoas e dor, dor e mais dor... Como pode continuar querendo e sorrindo e sentindo falta e desejando e, amando, sendo assim tão assustador? Eu não sei. Não sei. Pra mim, ser feliz é a coisa mais aterrorizante do mundo.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

desabafo quase em palavras desconhecidas.

Não deixe quebrar, não deixe romper, não deixe virar grafite envelhecido e esquecido. Corra e cole os pedaços, corra e segure meus pés no chão porque eu estou quase voando, ou me faça voar novamente com você. Por favor, não espere o sanduíche ou a festa do ano, não espere a minha próxima assoada de nariz e a minha cara assustada perdida na sua ausência.
Venha logo, traga de volta a minha certeza, não deixe, por favor, não deixe. Traga um agasalho para esquentar a minha falta de amor e ganhe em troca um ingresso para a minha fidelidade. Não espere o horário do trânsito livre, não espere ouvir o que você não quer, não espere a vida dar merda para colocar a culpa na vida.
Eu ainda estou aqui por você, limpa, ilesa, sua. Mas cada milímetro do meu corpo me implora por vida, por magia, por encantamento. Por favor, me roube, não deixe, não esqueça do nosso pacto em não ser mais um daqueles casais que continuam juntos por inércia e reparam tristes nos outros.
Outro dia ouvi aquela musica e lembrei do quanto te amava. E eu lembrei que enxergar sem pretensões você dormindo, com o seu ombro caído pra frente fazendo bochechas de criança na sua cara feliz, é a visão do paraíso pra mim.
Eu preciso de força, eu preciso de ajuda, eu preciso que você me lembre de que eu não preciso de mais nada, que mais nada é tão perfeito e que podemos ser um casal imbatível.
Caso tudo isso seja um trabalho inconsciente para me perder, você está conseguindo. Mas se ainda existir dentro de você alguma esperança, eu preciso demais que você me abrace e me faça sentir aquilo novamente. É fácil, basta você querer, eu ainda quero tanto.
Venha agora, não espere o músculo, a piada, o botão, o calo, a saudade, o arrependimento, o vazio, a coragem, a chance, o medo. Eu preciso sentir que você ainda sente, eu preciso que o seu coração dê um choque no meu, eu preciso saber que seu peito ainda aperta um pouco quando eu vou embora e se espalha como borboletas nas veias quando eu chego. Eu quero que você grite dentro da minha cabeça que não precisamos disso e que, por alguma razão, quando a gente se afasta a dor é maior do que todo o mundo que nos espera.
Eu ainda preciso que você me ache bonita, se surpreenda, me comemore e esqueça um pouco de todo o resto pra se encantar sem medo do tempo.
Não me tire a razão, não me tire a honra, não me faça estragar tudo só para sentir o vento na cara de novo e a música alta. Berre e assopre em mim enquanto é tempo.
Venha agora, ganhe a corrida, passe todo o resto pra trás.
É você quem eu continuo eternamente esperando na linha final.'

briefly

'In time, I'll belong to you.
That's how it's meant to be,
And how it's always been.'

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

...então ela rasgou este pedaço de papel.

Querido,

a verdade é que nos recuperamos do vicio de viver entrelaçados.
Os carros não atravessas mais o reflexo de nossas mãos dadas, não flutuamos e nem rastejamos. Somos nada. Mergulhamos juntos em mar azul e voltamos à margem do esgoto, sem alegria alguma nos separamos. Fomos feitos para o mundo, sabe disso, mas vez ou outra algo me emociona, e meu amor sem esperança por você toma as páginas dessa carta, e agora...

sábado, 3 de outubro de 2009

incomensurável

É muito, muito sentimento mesmo. Que dissipa, que transborda, que sobra. Que falta, que quer. Que sim. Que não. Devasso, destrutivo e contido. Demasiado, excessivo e descomedido. Imoderado. Disparatado. Resguardado.

E deve continuar assim.