Marcelle tinha ido para o banho. A noite prometia ser ótima, e ela prometia se arrumar à altura. Eu já previa que ficaria no seu quarto por intermináveis duas horas. Sozinha com todas as suas coisas, escolhi dar uma olhada no seu diário. Abri bem no meio, em uma folha marcada por um clips que segurava a embalagem do maço de um malboro vermelho.
"Tem vezes que o cigarro é o único que me acompanha, não perde o passo. Queima conforme o meu fôlego, queima o meu fôlego. Tem dias que é só ele quem me beija a boca e intimida a solidão. Odeio a solidão e, por isso, ao fim do último trago, enfim o salto do filtro ao asfalto, confiro o maço a procura de outro. Maltrata a minha garganta e os meus dentes, altera o meu perfume e a minha imagem, mas eu gosto mesmo assim."
Bom, ela gosta.
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