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quarta-feira, 28 de julho de 2010

na terceira pessoa

Ela fez o que fez, e se sentou diante daquela situação errada. Independente do angulo que olhavam, aquela situação só se resumia a isso: estava errada. Não havia salvação de forma alguma. Ali. Ela chegou errado. Na hora errada. Ela fez do jeito errado. Aliás. Errado já foi fazer. Não era pra ter chegado. E não existe tempo correto. Existe alguém pra ocupar aquele lugar – e o lugar é daquela pessoa, e ninguém mais.
É, dizem sempre que ela não sabe amar. Ama errado. Repetitivamente errado. Ela não cansa dessa mania – de virar a esquina quando precisava ir reto, de ir reto quando precisava virar. Contornar o que deveria ser feito. É. Não só no amor. É assim em vários sentimentos. Mas é. É principalmente no amor. É ela, assim.

Mas não, não pense isso. Não pense que ela escolhe a pessoa errada, não. Não é esse o erro - a pessoa errada é ela. Na verdade, eu acho mesmo é que não é ela que não sabe amar - é o amor que não sabe ser dela.

terça-feira, 27 de julho de 2010

quando eu morar sozinha

Cores pastéis nas molduras dos quadros contrastando com as paredes vermelhas; a janela sempre aberta; uma vitrola tocando Beatles; vinho tinto em uma das mãos; pedaços de pão italiano em cima de uma toalha de mesa florida; um guarda roupa vintage; uma estante cheia de livros; adesivos divertidos nas paredes - pode ser de uma árvore com um casal de passarinhos namorando, ou outro, ainda não sei; um relógio gigantesco condenando o meu viver; um telão e um projetor; um armário só de filmes; um maine coon na mesa de centro; um laptop embaixo da janela sempre aberta; um pomar do lado de fora com algumas coisas que eu gosto - e que ficam bonitas juntas: caqui, tomate e morango; um balanço e um cachorro sentadinho do lado.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

tudo jogado

Quase que sexualmente um frio na espinha escalava a espinha dorsal de costas bem protegidas pelo frio. Barrado pelo medo, a sensação morria num desespero inútil por saber que nunca será totalmente único a quem, por quem, a modo de quem, por alguém. Tudo que você sentir agora, ou depois, é usurpado e ultrajado de outro momento. Todos que conheço já disseram "eu te amo mais" de uma vez. Mais de uma vez. E então, banalizado está o amor.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

primeiro semestre

Janeiro, enterro pra começar
Fevereiro, cinzas dançantes
Março, abrir de caminhos
Abril, abraços e despedidas
Maio, super size me
Junho, controle remoto
Julho, páginas com sol

segunda-feira, 19 de julho de 2010

com Sol e Lua no céu

A caixinha estava aberta de linha e agulha para celebrar a ocasião: haviam devolvido o meu coração, envolto em um pano branco e neutro. Assim, sem nenhuma digital, ninguém sabia por quais mãos ele havia transitado.

sábado, 17 de julho de 2010

relógio sem marca

Eu não queria mais sair dali, daquela situação, mesmo no seu limite. É como quando não se quer sair do carro só para ouvir mais da música que toca no rádio. E depois de todo esse asfalto que eu conquistei, aonde foi que eu cheguei?

terça-feira, 13 de julho de 2010

dos cabelos de pessoa louca

Hoje sonhei que um homem me disse exatamente isto: "De acordo com a segunda lei de Newton, a aceleração deste sistema é nula. De acordo com a primeira lei de Newton, todas as partes de um sistema em equilíbrio também estão em equilíbrio. Amanda, onde está o seu? Pra onde foi o seu equilibrio?"

Amanda? Você ainda esta aí?

quinta-feira, 8 de julho de 2010

vômito

Ela grita. O olhar indignado, ela chora. Não há nada mais frustrante que a sensação de impotência, e não poder fazer nada diante do que se quer mudar. Ela não. Ela recusa a frustração: é orgulhosa demais, tenta sempre justificar as falhas com argumentos positivos. Mas ainda chora escondida. Olha-se no espelho do banheiro e não se enxerga, não se reconhece em si. É toda uma máscara bem feita, e só o que sobra de verdadeiro é o olhar indignado, inquieto, ansioso. “Por quê, meu Deus, por quê?” – grita. Os olhos embebidos por água salgada, do mar calmo e silencioso, que pede vida, mais vida. As lágrimas saem na tentativa de expectorar o gosto amargo da boca. Como vômito que quer sair e se engole de volta, e de tanto engolir, sai com mais força – o gosto mais forte. Depois seca o rosto e engole o choro até a hora de vomitá-lo novamente.

Tem sido assim a algum tempo. Ela sai do banheiro para a vida: toda mulher que é, a expressão orgulhosa e a máscara bem presa à pele. Maquiagem que disfarçam os olhos vermelhos, pequenos vestígios da revolta recém-vomitada.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

compreensão

Hoje amanheci crua.

Meu café está muito quente e minha língua queima toda vez que bebo um pouco. E não me importo. Me queimo. Vai queimando dentro de mim todos os resquícios de fragilidade que ainda restavam. Eram resquícios apenas. Sobra a rigidez implacável de mulher. Sinto-me tão mulher hoje! Não menina: mulher. E minha pontuação nem sempre é compreensível. Aprendi com Clarice, que dizia que a pontuação é a respiração da frase.

Respiro assim. Pausadamente, cortadamente. E o ar que entra e sai dos meus pulmões também é assim. Cheio de fragmentos, cheio de grãos. E é arenoso. O que faz com que eu me queime mais com meu café, numa tentativa deplorável de acabar de vez com o que resta de mim.

Sou um ser inconstante. Se não souber conviver comigo, sugiro que afaste-se. Eu não mudo. Eu me respeito. E estou morrendo a cada segundo, morrendo dentro de mim mesma e das minhas veias que pulsam desesperadamente.
Aprendi que nesta vida o que nos resta é a morte.

quinta-feira, 1 de julho de 2010