Ela grita. O olhar indignado, ela chora. Não há nada mais frustrante que a sensação de impotência, e não poder fazer nada diante do que se quer mudar. Ela não. Ela recusa a frustração: é orgulhosa demais, tenta sempre justificar as falhas com argumentos positivos. Mas ainda chora escondida. Olha-se no espelho do banheiro e não se enxerga, não se reconhece em si. É toda uma máscara bem feita, e só o que sobra de verdadeiro é o olhar indignado, inquieto, ansioso. “Por quê, meu Deus, por quê?” – grita. Os olhos embebidos por água salgada, do mar calmo e silencioso, que pede vida, mais vida. As lágrimas saem na tentativa de expectorar o gosto amargo da boca. Como vômito que quer sair e se engole de volta, e de tanto engolir, sai com mais força – o gosto mais forte. Depois seca o rosto e engole o choro até a hora de vomitá-lo novamente.
Tem sido assim a algum tempo. Ela sai do banheiro para a vida: toda mulher que é, a expressão orgulhosa e a máscara bem presa à pele. Maquiagem que disfarçam os olhos vermelhos, pequenos vestígios da revolta recém-vomitada.
e assim eu gosto menos ainda.
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Interessante! Tem escrito com muita criatividade e originalidade! Parabéns!!
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