Quem dera não mais me importasse.
Depois de tanto tempo e tantos muros, a lua se escondeu atrás de um breu desconhecido.
O livro não conta mais história de amor e leitura sociológica define o que sentimos.
E como o vento, passa.
Passa tão dolorido e enfim imperceptível que quando me dei conta deixei os pássaros voarem.
Fiquei de mãos vazias.
E é por esse vazio que eu tenho vivido.
E desse viver vazio que me dei conta que não me importo mais.
Só.
Vazio.
Assim.
Enfim.
Eu venho me sentindo ótima.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2015
quinta-feira, 27 de agosto de 2015
cuspe
Me contaram que se eu quiser muito muito mesmo parar de pensar muito numa coisa, é preciso botar ela pra fora e deixar escorrer pelo ralo. Mas e se eu for derramar por aqui frases como minha pele sente falta dos seus dedos ou meus pelos sentem falta dos seus toques ou minha cintura sente falta das suas marcas ou meus lábios sentem falta da sua lingua... Ai pensei que essas palavras me trariam poesia. Mas tudo que vem de você fica tão brega no papel.
Então sim.
To cuspindo você pra fora de mim.
To me esvaziando de você.
To deixando você escorrer.
Mas acontece que eu esqueci de comprar uma tampa pro ralo da pia naquela lojinha da esquina.
Então sim.
To cuspindo você pra fora de mim.
To me esvaziando de você.
To deixando você escorrer.
Mas acontece que eu esqueci de comprar uma tampa pro ralo da pia naquela lojinha da esquina.
quarta-feira, 29 de julho de 2015
próxima estação
As vezes eu acho que você só veio abrir uma porta para mim, com entrada para o verão. E quando eu me perco no reflexo do vidro de janela desse trem, olhando sem olhar para a paisagem se mexendo lá fora, é tudo dentro de uns sorrisos que ainda não visitei. Engraçado como as possibilidades chegam com as pessoas. Um abraço que eu imagino, olhos deitados, cheiro de edredom... É fácil, sabe? Ainda é tudo tão fácil na minha cabeça.
quarta-feira, 22 de julho de 2015
bus ride
Em prol da poesia, você narrou o que queria fazer comigo enquanto sentávamos nos fundos de um ônibus lotado. Você pressionou a palma da sua mão na minha coxa enquanto inúmeras pessoas que lotavam aquele ônibus falavam sobre como não conseguiriam pagar todas as contas do mês, ou o último capitulo da novela das nove, ou sobre as ultimas que sua vizinha aprontou.
Eu sabia que cada movimento seu era em prol da poesia. Sabia que cada palavra bonita e suja que você dizia era porque sabia que eu as tornariam ainda mais bonitas e sujas em meus textos.
O quão forte você enrolaria meu cabelo nos seus punhos, com quanta força você me puxaria pelas cintura, com qual frequência você arranharia minhas costas e chuparia meu pescoço.
Em prol da poesia, você me disse o que queria fazer comigo ali mesmo naquele ônibus lotado. E eu te amei ali porque você saberia o que fazer, o que tocar, como me transar. E cada palavra sua arrepiava uma parte diferente no meu corpo.
Eu mordi meu lábio, tentando não me afastar de você pra te fazer parar, tentando não te agarrar naquele ônibus lotado. E eu mordi meu lábio querendo mais dessas suas cenas, querendo mais você. Mas você... Você manteve sua mão pressionando minha coxa durante todo caminho pra casa. Descemos do ônibus, e acabou alí.
Eu sabia que cada movimento seu era em prol da poesia. Sabia que cada palavra bonita e suja que você dizia era porque sabia que eu as tornariam ainda mais bonitas e sujas em meus textos.
O quão forte você enrolaria meu cabelo nos seus punhos, com quanta força você me puxaria pelas cintura, com qual frequência você arranharia minhas costas e chuparia meu pescoço.
Em prol da poesia, você me disse o que queria fazer comigo ali mesmo naquele ônibus lotado. E eu te amei ali porque você saberia o que fazer, o que tocar, como me transar. E cada palavra sua arrepiava uma parte diferente no meu corpo.
Eu mordi meu lábio, tentando não me afastar de você pra te fazer parar, tentando não te agarrar naquele ônibus lotado. E eu mordi meu lábio querendo mais dessas suas cenas, querendo mais você. Mas você... Você manteve sua mão pressionando minha coxa durante todo caminho pra casa. Descemos do ônibus, e acabou alí.
quarta-feira, 15 de julho de 2015
abrangente unicidade
Não tentemos consertar nada. Se estou aqui agora, se escolhi isso antes, é porque parecia definitivamente interessante. Se me despeço de alguns amigos, se os vejo ficando enquanto procuro batimentos mais ordenados, é porque estou num processo árduo de cavar a terra e recuperar os instintos. E até agora, o que me dizem meus próprios ossos que encontrei escavando, é: não tentemos consertar nada.
E vou inventando em cima daquilo que já foi rabiscado. É uma questão de ver e de esmigalhar o passado. É uma questão de revisitar poços antigos. E ir percebendo a essência. Descobrir aos poucos porque será que vim parar justo aqui. Olhar de fora aquelas bifurcações nos caminhos, e traçar a linha por cima dos pontos para conferir o desenho que fiz.
Não nos desculpemos por nada. Eu teria sido um pouco infeliz. Foi preciso mesmo dar muitos passos descalços, sentir a sola dos pés no frio, no quente, no áspero, na areia. Foi preciso dançar ignorando dores no corpo, para que o corpo chegasse um pouco mais perto da alma. Deixar essas dores, as distensões, as inflamações de lado. Tudo isso para buscar alguma coisa que hoje parece um pouco mais nítida. Uma figura humana, feminina e à flor da pele – minha transparência.
Foi preciso estabilizar os tornozelos, tremendo de medo dos primeiros passos. Subir na ponta dos pés, dos muros, das estrelas que andei sonhando, e pular e arriscar o vôo para descobrir que eu gosto é da queda. Da terra, da superfície ampla e firme de um planeta. De abraçar o chão a cada gesto, de espalhar o corpo como numa cama a perder de vista.
E a cada processo, a cada movimento brusco ou mínimo, encontrar um motivo para fazê-lo. Associar a vida, para dar verdade à cena. Usar a cena, para a terapia da vida. Aprendi a dançar meus solos, tomar café sozinha numa manhã tranquila e ser minha própria companhia.
Não tentemos disfarçar nada. Cada palavra engolida pode ser mais uma peça a ser escavada.
E vou inventando em cima daquilo que já foi rabiscado. É uma questão de ver e de esmigalhar o passado. É uma questão de revisitar poços antigos. E ir percebendo a essência. Descobrir aos poucos porque será que vim parar justo aqui. Olhar de fora aquelas bifurcações nos caminhos, e traçar a linha por cima dos pontos para conferir o desenho que fiz.
Não nos desculpemos por nada. Eu teria sido um pouco infeliz. Foi preciso mesmo dar muitos passos descalços, sentir a sola dos pés no frio, no quente, no áspero, na areia. Foi preciso dançar ignorando dores no corpo, para que o corpo chegasse um pouco mais perto da alma. Deixar essas dores, as distensões, as inflamações de lado. Tudo isso para buscar alguma coisa que hoje parece um pouco mais nítida. Uma figura humana, feminina e à flor da pele – minha transparência.
Foi preciso estabilizar os tornozelos, tremendo de medo dos primeiros passos. Subir na ponta dos pés, dos muros, das estrelas que andei sonhando, e pular e arriscar o vôo para descobrir que eu gosto é da queda. Da terra, da superfície ampla e firme de um planeta. De abraçar o chão a cada gesto, de espalhar o corpo como numa cama a perder de vista.
E a cada processo, a cada movimento brusco ou mínimo, encontrar um motivo para fazê-lo. Associar a vida, para dar verdade à cena. Usar a cena, para a terapia da vida. Aprendi a dançar meus solos, tomar café sozinha numa manhã tranquila e ser minha própria companhia.
Não tentemos disfarçar nada. Cada palavra engolida pode ser mais uma peça a ser escavada.
quinta-feira, 11 de junho de 2015
um ano ago
A 365 dias atrás eu estava dando o meu primeiro passo na direção do meu maior desejo na vida: conhecer o mundo! Mal sabia eu o quanto, nesse período tão curto, minha vida, minha cabeça, meus planos, e eu inteira, mudaria.
A um ano atrás, uma Amanda inocente e cheia de sonhos observava o mundo com olhos brilhantes cheios de inseguranças. A cada passo que dava em direção ao avião, suas pernas balançavam e sua barriga se enchia das maiores borboletas que nenhum amor havia lhe dado. Tudo que eu vi e vivi a partir desse dia, a um ano atrás, foi novo, foi lindo, e foi vivido com toda a intensidade que uma garota pode querer. E como nem tudo são flores, foi então que eu cresci.
Levar tapa na cara da vida, quando você mora debaixo do teto dos seus pais, perto da sua família e dos seus amigos, é uma coisa. Mas experimenta levar tapas na cara e chutes no estômago quando você esta praticamente sozinho fora do ninho. Perrengue de boss machista autoritário, desespero de não saber de onde tirar dinheiro pra sobreviver a outro mês, ter três sub-empregos ao mesmo tempo, gossip de colegas no trabalho pra te derrubar, quebrar a cara no até então amor-da-sua-vida e reconhecer a banheira do seu bachelor como sua melhor e única amiga... Sinceramente? Foi a melhor coisa que podia me acontecer! E to aqui agora, lembrando dos maus bocados, porque dos bons eu já me lembro todo-dia-o-tempo-todo.
Eu, quando fecho os olhos, quase sinto a brisa fresquinha do pacífico de quando eu saia do prédio em que morava, a um quarteirão da praia e outro de um parque enorme. Eu visualizo cada árvore cada flor cada planta nas janelas da rua, e o quanto rosado era o sol batendo nas folhas que tomavam o hotel da esquina. Eu ainda sinto meu sorriso de canto de boca e a leveza do meu corpo em cada passo que dei naquela praia ao pôr do Sol.
Posso ser a dona de uma das piores memórias do mundo, mas os detalhes de tudo que vivi na minha extrema liberdade ficarão fincados em mim pra sempre. São nesses detalhes que a vida me mostrou o quanto pequena eu sou no mundo, e o quão maravilhoso isso é. Quanto menor eu sou, mais detalhes do mundo eu posso ver, eu posso viver.
A um ano atrás, uma Amanda olhou por cima do ombro ao embarcar na primeira melhor viagem da sua vida, e junto com seus pais e pessoas amadas chorando, ela se despediu dela mesma, pra poder ser uma Amanda maior.
segunda-feira, 1 de junho de 2015
dúzias de mim
Eu sou uma pessoa diferente segundo o olhar de cada um que me vê.
Alguns gostam de mim porque tudo o que eles notam são meus sorrisos, e eles enxergam o quanto meus olhos brilham quando eu falo sobre meus sonhos. Outros me detestam porque existem rumores de que eu estou perdida e tudo o que eu falo não passam de mentiras.
A beleza nisso tudo é que eu sou uma pessoa, mas como os outros me percebem torna-me dúzias e dúzias de pessoas distintas. Imagine só quantas vidas variadas eu posso estar vivendo na cabeça dessas pessoas? Eu sou todo mundo e tudo cuidadosamente composto em apenas um ser humano.
Eu estou viva.
Alguns gostam de mim porque tudo o que eles notam são meus sorrisos, e eles enxergam o quanto meus olhos brilham quando eu falo sobre meus sonhos. Outros me detestam porque existem rumores de que eu estou perdida e tudo o que eu falo não passam de mentiras.
A beleza nisso tudo é que eu sou uma pessoa, mas como os outros me percebem torna-me dúzias e dúzias de pessoas distintas. Imagine só quantas vidas variadas eu posso estar vivendo na cabeça dessas pessoas? Eu sou todo mundo e tudo cuidadosamente composto em apenas um ser humano.
Eu estou viva.
sexta-feira, 29 de maio de 2015
gratidão
É olhar pra sorte ao invés do azar. Pensar nos detalhes que compõe a minha vida e conseguir aceitar o que vai para abrir espaço ao que ainda vem.
É aprender a se despedir.
É aprender a se despedir.
Durante muito tempo eu evitei gostar muito de coisas ou pessoas porque tudo acaba. Acho que foi por isso que o luto sempre me atormentou tanto, e atormenta até hoje. Eu posso entender perfeitamente o processo pelo qual perpassa cada pessoa durante a perda e sua elaboração, no entanto sinto uma dificuldade indescritível em lidar com isso. Sei que não é como se houvessem pessoas preparadas para perder, mas eu me sinto a mais despreparada delas. Apenas pensar nisso envolve minha garganta num nó desatador. Sentir, então.
quarta-feira, 27 de maio de 2015
vida curta à todas as minhas paixões,
para que permaneçam na minha cabeça dando vazão aos sentimentos humanos que todos precisam sentir. Vida curta aos melhores sorrisos decrescentes e as palavras mais lindas que podem acabar em um curto espaço de tempo, antes de virarem pó e louça suja. Vida curta, do menos e do mais, do extremo e do quase apocalíptico que é beijar a boca de alguém que queremos muito, e depois do ato consumado descobrir que uma boca é só uma boca e o que vem depois é o verdadeiro desafio. Vida curta ao momento em que nos tornarmos bilíngües, daltônicos e hemofílicos, aprendidos a voar, pular para baixo e cavar a terra com os dentes. Vida longa ao breve estar apaixonado, e a sua real beleza de ser passageiro.
quarta-feira, 1 de abril de 2015
terça-feira, 24 de março de 2015
epifania
Aceitar que tem coisas na vida que eu nunca vou entender porque simplismente não aconteceram dentro de mim.
domingo, 8 de março de 2015
sobre envelhecer
um vestido novo fica velho quando se arrasta pelo chão,
varrendo toda a falta de cuidado.
varrendo toda a falta de cuidado.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015
parece conformismo, mas é só ponto de vista
A nossa maior prisão ainda é o tempo, e só através do seu movimento é que se faz possível enxergar os reais motivos dos acontecimentos como o da dor, da agonia, do medo, do terror, das alegrias, daquilo tudo que nos moldou até aqui.
Talvez eu tivesse de ser traída por uma pessoa que muito amei para nunca me deixar ser traída por mais ninguém. E talvez eu tivesse mesmo que perder um amigo para pedir perdão a outro. E ainda, talvez eu tivesse que perder as melhores oportunidades porque elas não eram as melhores oportunidades.
É impossível vislumbrar o futuro, e é da limitação do presente que fazemos o nosso melhor juízo falho. Que me aconteça o melhor, mas o melhor que eu não sei, nunca soube e sempre me surpreendeu, porque até as maiores dores tem de reflexo as suas alegrias.
Talvez eu tivesse de ser traída por uma pessoa que muito amei para nunca me deixar ser traída por mais ninguém. E talvez eu tivesse mesmo que perder um amigo para pedir perdão a outro. E ainda, talvez eu tivesse que perder as melhores oportunidades porque elas não eram as melhores oportunidades.
É impossível vislumbrar o futuro, e é da limitação do presente que fazemos o nosso melhor juízo falho. Que me aconteça o melhor, mas o melhor que eu não sei, nunca soube e sempre me surpreendeu, porque até as maiores dores tem de reflexo as suas alegrias.
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