quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Ao nosso amor
Há muito mais para se ver, das milhões de coisas que se perdem dentro dos nossos olhos. Então, se eu olho para você, e seus olhos se voltam para os meus, podemos ver o mundo, o mundo da nossa cor, da nossa vontade. E esse meu mundo gosta de ser seu.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
Marca mascarada
Num motel qualquer, por aí, na cidade grande. Oh, um convite particular. Cheiro de mofo, antigo, nada mais que poucos reais tirados do bolso em desespero. De olhos atentos, grandes, brilhantes, faltavam minutos. Clichê demais, aquele espelho em cima da cama redonda. Fotos, poses, risadas, abraços, beijos, carinho, falta. Embaixo dos panos o grande movimento, desconhecido o talvez que virou certeza, um beijo, minha querida, e nada mais.
Coração palpita, balbúrdia nos sentimentos, vontade, arrependimento. Anda, sonha, é pra sempre tua! Depois do tempo curto de sensações inexplicáveis, sente-se na cama enquanto alguém se lava no banheiro ao lado. Foi mal, não deu. Na frente, outro espelho. Que imagem, que beleza. O corpo do rapaz nu, revestido pelo brilho do suor proporcionado pelos rápidos e passados movimentos, diferente, bonito, desejado. A garota já se foi, ficou ali sozinho, olhando-se pelo reflexo.
Caretas, expressões, longos sorrisos, poses. Adeus, já se deu o tempo. Agora é hora de se vestir, cobrir o peito depilado para aumentar o prazer do sexo oposto. Ainda sentado de frente à sua imagem, eis que surge o arrependimento, o desprezo, a cólera, o erro. Nada mais do que um monstro, tão copiado e reproduzido, nada mais do que um falso, um charlatão.
Ele resolveu deixá-la. Apagou os seus contatos, disse adeus pelos fios robóticos, foi-se, respirando novos ares, arrependido, humilhado. Sua mulher já estava com outro e ele sofria de amor. Sofria de ódio. Sofria de culpa. Dúbio, eita. Vai te catar, essa sua visão de que relacionamentos podem ser quebrados com certa exatidão, freqüência, compra-se nova liberdade, diga adeus às saudades; agora já foi. O erro do laço criado foi pensar que ele podia, ao mais rápido e fugaz dos momentos, ser quebrado e recuperado, mole mole, fácil.
O que se rasga, mesmo que por melhor costurado, na vida real, deixa a marca. Está ali, por mais invisível, mais revestida, mais disfarçada que seja, debaixo de tantos outros panos, rasgada, estraçalhada, lembrada, sensível, sólida.
Coração palpita, balbúrdia nos sentimentos, vontade, arrependimento. Anda, sonha, é pra sempre tua! Depois do tempo curto de sensações inexplicáveis, sente-se na cama enquanto alguém se lava no banheiro ao lado. Foi mal, não deu. Na frente, outro espelho. Que imagem, que beleza. O corpo do rapaz nu, revestido pelo brilho do suor proporcionado pelos rápidos e passados movimentos, diferente, bonito, desejado. A garota já se foi, ficou ali sozinho, olhando-se pelo reflexo.
Caretas, expressões, longos sorrisos, poses. Adeus, já se deu o tempo. Agora é hora de se vestir, cobrir o peito depilado para aumentar o prazer do sexo oposto. Ainda sentado de frente à sua imagem, eis que surge o arrependimento, o desprezo, a cólera, o erro. Nada mais do que um monstro, tão copiado e reproduzido, nada mais do que um falso, um charlatão.
Ele resolveu deixá-la. Apagou os seus contatos, disse adeus pelos fios robóticos, foi-se, respirando novos ares, arrependido, humilhado. Sua mulher já estava com outro e ele sofria de amor. Sofria de ódio. Sofria de culpa. Dúbio, eita. Vai te catar, essa sua visão de que relacionamentos podem ser quebrados com certa exatidão, freqüência, compra-se nova liberdade, diga adeus às saudades; agora já foi. O erro do laço criado foi pensar que ele podia, ao mais rápido e fugaz dos momentos, ser quebrado e recuperado, mole mole, fácil.
O que se rasga, mesmo que por melhor costurado, na vida real, deixa a marca. Está ali, por mais invisível, mais revestida, mais disfarçada que seja, debaixo de tantos outros panos, rasgada, estraçalhada, lembrada, sensível, sólida.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
Quase
Por qualquer tempo não determinado pela mecânica do relógio e tão pouco pela sistemática do dia e da noite, agente esteve lá pelos instantes que a vida reservou para nós. Eu não quero nada de você, eu só quis aquele momento que não se dissolveu por entre a chuva que caiu, e que não voou com o vento gelado que lá fora fazia. A ponta das nossas orelhas misturava-se com os sons quase silenciosos que as nossas bocas trocavam. Lindo. Por dentro, por fora, e até quando nossos olhares estavam fechados tentando dormir, eu senti a sua beleza porque os nossos joelhos estavam se encostando e eu pude sentir a sua forma. E mesmo que a gente nunca mais viva minutos como este, valeu por cada segundo pelo qual nós nos queremos. Tem coisas na vida que possuem maior sabor quando não passam do “se”. Nem sempre concretizar desejos é torna-los mais intensos.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Caindo
Eu estava nadando nas minhas dúvidas, e eu não sei por que a vida gosta de fazer isso comigo, brincar de ficar oscilando o meu estado de caindo de amores para caindo em pedaços. Deve ter alguma graça nisso tudo. Então, tem vezes que me deixo ficar calada esperando que alguém me ouça. Eu deveria ter passado a maior parte da minha vida dormindo, mas passei a maior parte caindo.
Agora já não sei mais o que faço. Parece que os dias fazem algumas coisas valerem menos a pena. Desgastam, nos colocam óculos, lente de aumento ou qualquer coisa que o valha para enxergarmos os detalhes escondidos em toda aquela euforia e ansiedade do começo. Vejo-te diferente. Vejo a porra do mundo todo diferente!
Vai, se é para ser qualquer coisa, eu posso ser qualquer coisa. E nem sei o que é que eu quero de mim agora, ou se eu ainda me quero. Juro que não consigo me entender. Quanto mais me conheço, menos me entendo. A confusão maior ta em que a parte mais bonita da minha vida é sua. Acho que sempre será. Você foi a coisa mais certa que eu já fiz em anos. Só que vez em quando, muitas vezes até, a coisa certa, pode parecer a mais errada. É tudo uma questão de percepção, de estar à vontade com isso, aquilo, com o que nos tornamos. Sei que você nem sabe disso, mas seu jeito sabe me irritar terrivelmente, e ao mesmo tempo, é ele que me deixa de atenção presa. Às vezes você me decepciona tanto, mas consegue me deixar te querendo como nunca quis antes. E ainda tem vezes que é só por vontade, mas existem aqueles minutos que me fazem te respirar, te sentir mais perto, assim, de um jeito calmo feito o sono.
Agora já não sei mais o que faço. Parece que os dias fazem algumas coisas valerem menos a pena. Desgastam, nos colocam óculos, lente de aumento ou qualquer coisa que o valha para enxergarmos os detalhes escondidos em toda aquela euforia e ansiedade do começo. Vejo-te diferente. Vejo a porra do mundo todo diferente!
Vai, se é para ser qualquer coisa, eu posso ser qualquer coisa. E nem sei o que é que eu quero de mim agora, ou se eu ainda me quero. Juro que não consigo me entender. Quanto mais me conheço, menos me entendo. A confusão maior ta em que a parte mais bonita da minha vida é sua. Acho que sempre será. Você foi a coisa mais certa que eu já fiz em anos. Só que vez em quando, muitas vezes até, a coisa certa, pode parecer a mais errada. É tudo uma questão de percepção, de estar à vontade com isso, aquilo, com o que nos tornamos. Sei que você nem sabe disso, mas seu jeito sabe me irritar terrivelmente, e ao mesmo tempo, é ele que me deixa de atenção presa. Às vezes você me decepciona tanto, mas consegue me deixar te querendo como nunca quis antes. E ainda tem vezes que é só por vontade, mas existem aqueles minutos que me fazem te respirar, te sentir mais perto, assim, de um jeito calmo feito o sono.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Sabotagem
Eu sei que você pediu para que eu aguentasse mais um pouco, e é o que estou tentando fazer. Estou te segurando da melhor forma que consigo. O problema é que eu passei a ser mais sincera comigo do que com você. Mas isso era para ser uma coisa boa, né? Nesse tempo todo, o seu egoísmo se tratava de nós dois. Mas o meu não. O meu egoísmo se trata apenas de mim. E agora vendo sua mão, esticada para mim, como quem estica uma vida de planos, uma vida de melodia calma. Olha, fica bem difícil sair e abraçar o mundo, o meu mundo que me espera fora do que somos agora. Eu mentiria se não dissesse que às vezes, ele é tudo o que eu quero. Quanto mais eu me prendo na mesma coisa, mais as coisas mudam. Devo estar me sabotando. É, eu não duvido disso.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Guarda - Sonhos
Abri o guarda chuva colorido, que cobria o céu da cidade inteira. O cheiro de derrota compunha o vestido rodado da menina de cabelos jogados, que por ali passava, comendo pipocas, de todas as cores, formas e matrizes.
Continuei andando, eu e meu guarda chuva colorido. Tinha logo ali, uma estatua pintada de fracassos, e por isso estava fingindo ser de pedra, e seu coração batendo, batendo, batendo. Eu poderia ter lhe dado o meu coração, mas só tinha alguns trocados ali jogados.
Cidade pequena, de ruas sem ladrilhos, sem pedrinhas de brilhantes para o meu guarda chuva passar. Os meus sapatos tinham forma de boneca, o da mulher sentada tinha cheiro de doença, talvez pelo rosto pálido, e os chinelos surrados.
A groselha gelada, o casaquinho vermelho de crochê que em meu corpo se ajeitava, o guarda chuva que por ali caminhava, e queria caminhar.
Se fosse para rir, eu olharia para a criança gorda que espantava as pombas da pracinha, se fosse para chorar, eu encostaria delicadamente a minha cabeça nos ombros da velha cansada que usava cadeira de rodas.
Ah, se fosse para amar... Meu guarda chuva havia brilhado de cores, eu descobri. As unhas que se renovavam toda semana queriam apertar a sua nuca. Por exatos dez segundos, a cidade parou para ver o bonitão que só eu vi. Câmera lenta, aquela era a hora de tocar a música principal, o andar distraído, sem olhar para mim, foi deslizando pelo chão do mundo inteiro, o rapaz que de lindo é pouco, que de tão pouco, foi bastante para mim. Quando a groselha cai, os sapatos se distraem, eles tropeçam, juntos, em direção ao chão, o guarda chuva colorido voa para qualquer lugar, e de tão colorido, ficou desbotado. O garotão pega na minha mão – Está bem, querida?
Estou?
O meu sorriso assoprava ansiedade, e o meu olhar queria ir brincar de ser princesa em roda gigante.
repostando - 12.07.07
Continuei andando, eu e meu guarda chuva colorido. Tinha logo ali, uma estatua pintada de fracassos, e por isso estava fingindo ser de pedra, e seu coração batendo, batendo, batendo. Eu poderia ter lhe dado o meu coração, mas só tinha alguns trocados ali jogados.
Cidade pequena, de ruas sem ladrilhos, sem pedrinhas de brilhantes para o meu guarda chuva passar. Os meus sapatos tinham forma de boneca, o da mulher sentada tinha cheiro de doença, talvez pelo rosto pálido, e os chinelos surrados.
A groselha gelada, o casaquinho vermelho de crochê que em meu corpo se ajeitava, o guarda chuva que por ali caminhava, e queria caminhar.
Se fosse para rir, eu olharia para a criança gorda que espantava as pombas da pracinha, se fosse para chorar, eu encostaria delicadamente a minha cabeça nos ombros da velha cansada que usava cadeira de rodas.
Ah, se fosse para amar... Meu guarda chuva havia brilhado de cores, eu descobri. As unhas que se renovavam toda semana queriam apertar a sua nuca. Por exatos dez segundos, a cidade parou para ver o bonitão que só eu vi. Câmera lenta, aquela era a hora de tocar a música principal, o andar distraído, sem olhar para mim, foi deslizando pelo chão do mundo inteiro, o rapaz que de lindo é pouco, que de tão pouco, foi bastante para mim. Quando a groselha cai, os sapatos se distraem, eles tropeçam, juntos, em direção ao chão, o guarda chuva colorido voa para qualquer lugar, e de tão colorido, ficou desbotado. O garotão pega na minha mão – Está bem, querida?
Estou?
O meu sorriso assoprava ansiedade, e o meu olhar queria ir brincar de ser princesa em roda gigante.
repostando - 12.07.07
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
Encalhada atrás da linha do horizonte
Ainda sinto os meus pés escorregarem pelo mar gelado de ressaca, que depois de um dia inteiro de turbilhões repousava em um sono tranqüilo. Lembro de ter imaginado o mar com a boca aberta, babando em cima de mim, como quem quisesse se apoiar em uma figura humana para conseguir dormir. Ele observou, entre as algas e palitos de sorvete, que próximo dele havia apenas uma figura avermelhada. Era eu. Sei que naquele instante o mar olhou pra mim, e me encarregou de cuidar de tudo enquanto ele descansava. Precisava certificar que nenhum objeto pudesse entrar no grande mar enquanto esse dormia. Nada deveria ser destruído e nem danificado. Além de observar o balé das ondas, os pequenos peixes e recolher o lixo na sua beirada. E me alertou, por último, que eu não deveria deixar de tomar conta da lua, não deveria deixá-la sair para nenhum lugar. Ela também não poderia ser fotografada, desenhada e muito menos alcançada. O grande mar disse, por último e em tom melancólico, que aquela lua era mais valiosa que os velhos tesouros que nele estavam perdidos. A lua era a única coisa acima dele, brilhante, enquanto todas as outras nadavam em seu estômago. Disse que a lua nada lhe custava, e que da lua nada se comprava. Ela dormia de dia, enquanto ele repousava de noite. Ele realmente a amava, porque sabia que enquanto dormia alguém esperava por ele, mesmo que em vão, mesmo que inutilmente. E foi dormir.
Pude ouvir o ronco em toda a extensão da praia, na qual caminhava enquanto exercia o meu novo trabalho, se assim posso dizer. Eu era ajudante do mar. Melhor, segurança do mar. Acontece que o mar nada disse, e quando tive certeza que ele estava dormindo, comecei a achar que eu era A dona do mar. Se ele ouvisse os meus pensamentos, certamente me engoliria em uma só onda para sempre dentro de seu estômago misterioso. A respiração dele acompanhava as ondas que batiam e saiam dos meus pés. Eu tentava respirar no mesmo ritmo, embora não com a mesma perfeição. Eu, com tamanho deslumbramento resolvi correr entre as inúmeras declarações de amor na areia e os pisoteados castelos de contos de fada. Eu era a dona do mar, e sabia que ele só acordaria quando a lua fosse embora. E como sabia que eles nunca se encontravam não me importei. Gargalhava a minha posição, gozava do maior dos privilégios na qual nenhum dinheiro do mundo pode possuir. Foi o mar que confiou em mim, um ser humano que não chega nem aos seus menores dedos. Se é que ele tinha dedos. Era tudo tão lindo e harmonioso, que resolvi fechar os olhos e sentir as baforadas que o mar soltava em direção à praia. A brisa, a verdadeira brisa era aquela. As toxinas me embriagavam, as que cheiravam peixe, as que cheiravam camarão e as que cheiravam simplesmente suas águas. Sempre me disseram que água não tinha cor e essa era mais um motivo para que eu acreditasse que eu realmente era a dona do mar. Eu via as cores, dezenas delas, milhares! Eu sabia todas as cores do mar, e ele sabia de que cor eu era. Eu era vermelha.
Entre pulos e danças, percebei com exaustão que a brincadeira já não estava tão gostosa. Os meus olhos pesavam mais que os meus pés, e os meus cabelos estavam grudados de pequenos grãos cor de bege. Avistei o último castelo de contos de fada em pé, e repousei a cabeça sobre ele. Nos últimos segundos que precediam o meu sono mais profundo, eu olhei sem querer para lua e lembrei a promessa que tinha feito ao mar. Que tomaria conta dela. Mas era tarde demais, o meu raciocínio ficou pela metade e adormeci.
Acordei com a falta de respiração, e o gelado em volta do meu corpo. Estava desnorteada e não conseguia gritar. Estava claro, lá ao longe o sol brilhava intensamente contra o meu desespero. Enquanto eu me afogava lentamente, o mar cessou com as ondas por um instante quase imperceptível e deixou as ondas deslizarem sem espuma até o fim. As ondas pararam e o sol brilhou no brilho mais forte que já tinha visto em toda a minha vida. Então vi as cores, as verdadeiras cores do mar. Não era nada do que eu tinha visto de noite, eram perfeitas e únicas. Formavam juntas as cores dos olhos do mar. Quando percebi tal fenômeno, o meu tempo já havia reduzido ao meu último pensamento:
Estava ali, a amada lua em forma de sol. Ela protegia o mar de noite, e deixava de brilhar por algumas horas apenas para que esse pudesse descansar. De dia, a lua virava sol, e o brilho era tanto que ofuscava as suas idéias, e o mar em retribuição ao amor a ele dedicado, refletia cores em tons azuis e verdes para que o sol se acalmasse enquanto não poderia virar de novo lua. E o ciclo continuava todos os dias, e de novo, de novo, de novo... Ele amava tanto a lua que pedia todas as noites para que alguém a observasse para que ela não se sentisse só. E são tão poucos aqueles que conseguem trocar o sono para uma observação nata do amor mais puro que já pode existir. São poucos os que abdicam de todos os poderes de castelos de contos de fada para não deixar a lua, tão generosa, escapar. Não consegui entender a mais simples das lições: Era a lua dona mar.
E nos meus últimos segundos, já não enxergava mais nada.
Por fim, para mim, nem azul e nem vermelho. A escuridão.
Pude ouvir o ronco em toda a extensão da praia, na qual caminhava enquanto exercia o meu novo trabalho, se assim posso dizer. Eu era ajudante do mar. Melhor, segurança do mar. Acontece que o mar nada disse, e quando tive certeza que ele estava dormindo, comecei a achar que eu era A dona do mar. Se ele ouvisse os meus pensamentos, certamente me engoliria em uma só onda para sempre dentro de seu estômago misterioso. A respiração dele acompanhava as ondas que batiam e saiam dos meus pés. Eu tentava respirar no mesmo ritmo, embora não com a mesma perfeição. Eu, com tamanho deslumbramento resolvi correr entre as inúmeras declarações de amor na areia e os pisoteados castelos de contos de fada. Eu era a dona do mar, e sabia que ele só acordaria quando a lua fosse embora. E como sabia que eles nunca se encontravam não me importei. Gargalhava a minha posição, gozava do maior dos privilégios na qual nenhum dinheiro do mundo pode possuir. Foi o mar que confiou em mim, um ser humano que não chega nem aos seus menores dedos. Se é que ele tinha dedos. Era tudo tão lindo e harmonioso, que resolvi fechar os olhos e sentir as baforadas que o mar soltava em direção à praia. A brisa, a verdadeira brisa era aquela. As toxinas me embriagavam, as que cheiravam peixe, as que cheiravam camarão e as que cheiravam simplesmente suas águas. Sempre me disseram que água não tinha cor e essa era mais um motivo para que eu acreditasse que eu realmente era a dona do mar. Eu via as cores, dezenas delas, milhares! Eu sabia todas as cores do mar, e ele sabia de que cor eu era. Eu era vermelha.
Entre pulos e danças, percebei com exaustão que a brincadeira já não estava tão gostosa. Os meus olhos pesavam mais que os meus pés, e os meus cabelos estavam grudados de pequenos grãos cor de bege. Avistei o último castelo de contos de fada em pé, e repousei a cabeça sobre ele. Nos últimos segundos que precediam o meu sono mais profundo, eu olhei sem querer para lua e lembrei a promessa que tinha feito ao mar. Que tomaria conta dela. Mas era tarde demais, o meu raciocínio ficou pela metade e adormeci.
Acordei com a falta de respiração, e o gelado em volta do meu corpo. Estava desnorteada e não conseguia gritar. Estava claro, lá ao longe o sol brilhava intensamente contra o meu desespero. Enquanto eu me afogava lentamente, o mar cessou com as ondas por um instante quase imperceptível e deixou as ondas deslizarem sem espuma até o fim. As ondas pararam e o sol brilhou no brilho mais forte que já tinha visto em toda a minha vida. Então vi as cores, as verdadeiras cores do mar. Não era nada do que eu tinha visto de noite, eram perfeitas e únicas. Formavam juntas as cores dos olhos do mar. Quando percebi tal fenômeno, o meu tempo já havia reduzido ao meu último pensamento:
Estava ali, a amada lua em forma de sol. Ela protegia o mar de noite, e deixava de brilhar por algumas horas apenas para que esse pudesse descansar. De dia, a lua virava sol, e o brilho era tanto que ofuscava as suas idéias, e o mar em retribuição ao amor a ele dedicado, refletia cores em tons azuis e verdes para que o sol se acalmasse enquanto não poderia virar de novo lua. E o ciclo continuava todos os dias, e de novo, de novo, de novo... Ele amava tanto a lua que pedia todas as noites para que alguém a observasse para que ela não se sentisse só. E são tão poucos aqueles que conseguem trocar o sono para uma observação nata do amor mais puro que já pode existir. São poucos os que abdicam de todos os poderes de castelos de contos de fada para não deixar a lua, tão generosa, escapar. Não consegui entender a mais simples das lições: Era a lua dona mar.
E nos meus últimos segundos, já não enxergava mais nada.
Por fim, para mim, nem azul e nem vermelho. A escuridão.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
"Só o dono da dor sabe o quanto dói"
A sala ainda parecia girar quando eu entrei, e um dos meus últimos desejos ao me sentar no sofá ainda era fazer as pazes com o meu coração. Eu queria colocar um pouco mais de significado nessas almofadas, nessas cortinas, nessa mobília toda! Na verdade, queria conseguir remobiliar a gente. Passamos do tempo, do nosso tempo, e você nos deixou passar.
Eu posso começar agora a falar do egoísmo, e de como ele estragou você. Não sei direito o que sobrou da gente, nem ao certo o que ainda se salvou no meio de tanta coisa que apodreceu. Suas mãos conseguiram rasgar a imagem tão bonita que eu tinha feito de você. Fazer o que?
É, nesses dias difíceis é capaz de se perder da própria sombra em qualquer esquina, porque as coisas e as pessoas se afastam, aí o sono não visita mais, o telefone poderia esquecer de tocar, e o rosto perde o interesse pelo espelho, onde se vê tão cheio de dores. Até acho que não deve ter sido fácil pra você deixar eu bater a porta, mas você não tinha o mínimo direito de me impedir de desistir de você pois você já havia desistido da gente. Quando eu me vi de costas, me afastando aos poucos no horizonte, eu me lembrei de como costumava me sentir ao te ver chegando lá de longe até bem perto da minha boca. É sempre assim, agora do fim, a gente pensa no começo.
Ah, difícil mesmo é começar a se reconstruir
quando alguns pedaços voaram tão longe,
e outros se dissiparam em alguma memória qualquer.
E tudo ta tão difícil agora!
Eu posso começar agora a falar do egoísmo, e de como ele estragou você. Não sei direito o que sobrou da gente, nem ao certo o que ainda se salvou no meio de tanta coisa que apodreceu. Suas mãos conseguiram rasgar a imagem tão bonita que eu tinha feito de você. Fazer o que?
É, nesses dias difíceis é capaz de se perder da própria sombra em qualquer esquina, porque as coisas e as pessoas se afastam, aí o sono não visita mais, o telefone poderia esquecer de tocar, e o rosto perde o interesse pelo espelho, onde se vê tão cheio de dores. Até acho que não deve ter sido fácil pra você deixar eu bater a porta, mas você não tinha o mínimo direito de me impedir de desistir de você pois você já havia desistido da gente. Quando eu me vi de costas, me afastando aos poucos no horizonte, eu me lembrei de como costumava me sentir ao te ver chegando lá de longe até bem perto da minha boca. É sempre assim, agora do fim, a gente pensa no começo.
Ah, difícil mesmo é começar a se reconstruir
quando alguns pedaços voaram tão longe,
e outros se dissiparam em alguma memória qualquer.
E tudo ta tão difícil agora!
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Um tanto eu, outro tanto você.
Mentiras na solitária.
Agora você me deixou com medo, sabia? Acende a luz, por favor, juro que não te peço mais nada nessa vida. Sabe, você tem que entender que se estiver claro será mais fácil correr até os seus braços. No escuro eu posso tropeçar, esbarrar e cair de novo e nunca mais alcançar nem sequer os seus pés. Talvez eu corte o joelho. Talvez eu use band daid. Mas eu não vou me arriscar correr aqui, porque no escuro eu não consigo fazer os curativos adequados e sólidos o suficiente. (...) Parece que você não me ouve, parece que vai continuar se escondendo aonde quer que você esteja. Que saco, o escuro que estamos na minha mente já tem até forma física: Enorme, grande e imenso. Mas como um biscoito sem recheio, vazio. Entende agora porque você precisa acender a luz? Se eu conseguisse fazê-lo sozinha, eu faria. Mas você sabe que não... Tatear já está me cortando as mãos, ouvir está me tapando ainda mais os ouvidos e cheirar, ah, cheirar me enjoa. (...) Deixa eu te enxergar de novo, vai! Você não me responde, mas sei que ainda está aí. Eu sei que você tem medo do meu tamanho, mas sei que você não é nada pequeno. Juntos poderíamos encher essa sala de luz, mas é você que precisa pressionar o interruptor. (...) Parece que você vai desistir, prefere ficar escondido nesse escuro para sempre? É tão fácil. É só acender a luz. (...) Lembrei da luz que refletia nos nossos olhos quando nos olhávamos muito de perto. Talvez seja isso, talvez a claridade esteja aí! Vamos, olhe para mim meu amor. Por favor... Você não está olhando, eu sei disso, porque o mundo ainda parece estar mergulhado no molho inglês. Meu querido pense no colorido que vamos poder ver. Não sente falta dele? Eu sinto. Será que ainda lembra do contorno dos meus olhos e do branco dos meus dentes? É! Talvez seja isso. Talvez não seja a luz do olhar que nos falta, deve ser a brancura dos nossos dentes sinceramente felizes. Sorria, só um pouco. A escuridão é uma ótima oportunidade de rirmos sem parecermos ridículos (...) Nada? Será que eu tenho que fazer tudo sozinha sempre? Sei lá, eu sempre fazia você sorrir no silêncio do meu enorme amor por você e nas pausas entre os nossos melhores beijos. Você costumava sorrir pra mim, sem que eu dissesse nada. (...) Por que agora ta tudo diferente? Porque está jogando as trevas do seu incompreensível ser para cima de mim? Eu já não tinha dito uma vez que jamais faria suas cicatrizes voltarem a doer? Por que então, as minhas é que estão latejando? Por que, então, esconde tudo de mim? (...) Era no escuro que eu focava em apenas sentir o perfume, e tocar as suas partes mais loucas do corpo. Talvez esse tal de escuro não fosse tão mal assim. Não era, mas agora é! Eu sempre tive medo do escuro, mas depois que comecei a ficar com você ele me parecia tão bom quanto um dia de sol. Devo estar falando sozinha há horas, já não tenho tanta certeza se ainda está aí. Deve ter me deixado sozinha, é tão mais fácil fugir enquanto está escuro, mas presta atenção, você pode ter certeza que alguma hora entre tropeços e acertos eu vou achar a maldita luz e aí vou poder apontar pra você e dizer: Covarde! Você vai sentir meu dedo indicador te fuzilando. (...) Chega agora, chega de brincadeira. Acende a porra dessa luz agora, eu to ficando com muito medo. Oi? Ta aí ainda? Ai...
Agora você me deixou com medo, sabia? Acende a luz, por favor, juro que não te peço mais nada nessa vida. Sabe, você tem que entender que se estiver claro será mais fácil correr até os seus braços. No escuro eu posso tropeçar, esbarrar e cair de novo e nunca mais alcançar nem sequer os seus pés. Talvez eu corte o joelho. Talvez eu use band daid. Mas eu não vou me arriscar correr aqui, porque no escuro eu não consigo fazer os curativos adequados e sólidos o suficiente. (...) Parece que você não me ouve, parece que vai continuar se escondendo aonde quer que você esteja. Que saco, o escuro que estamos na minha mente já tem até forma física: Enorme, grande e imenso. Mas como um biscoito sem recheio, vazio. Entende agora porque você precisa acender a luz? Se eu conseguisse fazê-lo sozinha, eu faria. Mas você sabe que não... Tatear já está me cortando as mãos, ouvir está me tapando ainda mais os ouvidos e cheirar, ah, cheirar me enjoa. (...) Deixa eu te enxergar de novo, vai! Você não me responde, mas sei que ainda está aí. Eu sei que você tem medo do meu tamanho, mas sei que você não é nada pequeno. Juntos poderíamos encher essa sala de luz, mas é você que precisa pressionar o interruptor. (...) Parece que você vai desistir, prefere ficar escondido nesse escuro para sempre? É tão fácil. É só acender a luz. (...) Lembrei da luz que refletia nos nossos olhos quando nos olhávamos muito de perto. Talvez seja isso, talvez a claridade esteja aí! Vamos, olhe para mim meu amor. Por favor... Você não está olhando, eu sei disso, porque o mundo ainda parece estar mergulhado no molho inglês. Meu querido pense no colorido que vamos poder ver. Não sente falta dele? Eu sinto. Será que ainda lembra do contorno dos meus olhos e do branco dos meus dentes? É! Talvez seja isso. Talvez não seja a luz do olhar que nos falta, deve ser a brancura dos nossos dentes sinceramente felizes. Sorria, só um pouco. A escuridão é uma ótima oportunidade de rirmos sem parecermos ridículos (...) Nada? Será que eu tenho que fazer tudo sozinha sempre? Sei lá, eu sempre fazia você sorrir no silêncio do meu enorme amor por você e nas pausas entre os nossos melhores beijos. Você costumava sorrir pra mim, sem que eu dissesse nada. (...) Por que agora ta tudo diferente? Porque está jogando as trevas do seu incompreensível ser para cima de mim? Eu já não tinha dito uma vez que jamais faria suas cicatrizes voltarem a doer? Por que então, as minhas é que estão latejando? Por que, então, esconde tudo de mim? (...) Era no escuro que eu focava em apenas sentir o perfume, e tocar as suas partes mais loucas do corpo. Talvez esse tal de escuro não fosse tão mal assim. Não era, mas agora é! Eu sempre tive medo do escuro, mas depois que comecei a ficar com você ele me parecia tão bom quanto um dia de sol. Devo estar falando sozinha há horas, já não tenho tanta certeza se ainda está aí. Deve ter me deixado sozinha, é tão mais fácil fugir enquanto está escuro, mas presta atenção, você pode ter certeza que alguma hora entre tropeços e acertos eu vou achar a maldita luz e aí vou poder apontar pra você e dizer: Covarde! Você vai sentir meu dedo indicador te fuzilando. (...) Chega agora, chega de brincadeira. Acende a porra dessa luz agora, eu to ficando com muito medo. Oi? Ta aí ainda? Ai...
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
De pensar
Sinto que estamos fora de moda, desencaixados de nós mesmos. Juro, não quero te perder. Mas você parece que faz questão de se perder sozinho, de se perder daquilo que costumávamos ser. Tenho medo de não conseguir mais agüentar, de não conseguir mais te segurar. Sabe, você anda muito pesado, muito pesado...
As vezes, chego até a pensar que estou me desperdiçando, perdi o passo e a vontade de andar. Da saudade, eu já esqueci. E ainda não sei aonde se escondeu o sentido da necessidade de ter alguém, mas hoje estou livre de necessidades. Hoje, vou ficar livre para mim. E nada poderia me convencer do contrário, já que coisas como essas não se podem combinar. Não se combina um sentimento, ele é. É algo que se sente, e só.
As vezes, chego até a pensar que estou me desperdiçando, perdi o passo e a vontade de andar. Da saudade, eu já esqueci. E ainda não sei aonde se escondeu o sentido da necessidade de ter alguém, mas hoje estou livre de necessidades. Hoje, vou ficar livre para mim. E nada poderia me convencer do contrário, já que coisas como essas não se podem combinar. Não se combina um sentimento, ele é. É algo que se sente, e só.
domingo, 1 de fevereiro de 2009
"Isso vai doer":
Desestimulante
Já lhe ocorreu que talvez eu realmente canse? Isso não é tão impossível assim, e eu não preciso disso, não mesmo. Odeio essa sua mania de diminuir o motivos que eu te falo, deixando-os bem menores do que são. E você confia demais para passar confiança em troca. Cansei do seu orgulho somado a essa segurança desmedida. Existem outras pessoas no mundo, e o que é melhor, não existem só no seu mundo.
Já lhe ocorreu que talvez eu realmente canse? Isso não é tão impossível assim, e eu não preciso disso, não mesmo. Odeio essa sua mania de diminuir o motivos que eu te falo, deixando-os bem menores do que são. E você confia demais para passar confiança em troca. Cansei do seu orgulho somado a essa segurança desmedida. Existem outras pessoas no mundo, e o que é melhor, não existem só no seu mundo.
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