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segunda-feira, 15 de março de 2010

dividir-se

- A questão é a seguinte, o que você vai fazer o dia que acordar e sua vida não ter mais sentido? Vai se desesperar e cometer uma loucura? Ou vai recolher os pedaços que sobrou dela e dar graças por essa ‘chance’, que muitos têm esperança de receber?
Pare e reavalie tudo que já passou. Avalie suas amizades, seus objetivos, suas alegrias e tristezas, medos e inseguranças. Suas prioridades. Avalie você mesmo. Uma vez, duas vezes, sete vezes. Se for preciso, sete vezes sete vezes sete.
Pode parecer bobagem falar isso dessa maneira, nesse lugar. Mas eu falo o que penso e o que bem entendo. Se te ofendeu, me perdoe.
Mas agora a bola está nas suas mãos.


- Eu não quero me avaliar. Que se foda o que eu fui ontem, antes de ontem, do lado avesso, de quatro, de oito. Pode parecer bobagem, mas meia dúzia de palavras podem sim definir uma pessoa. Meia dúzia de beijos, de flores, de paisagens. Mas a paisagem continua intacta, sempre a mesma. Eu não falo o que eu penso, e esse filtro de verdades parece um muro entre nós dois. Eu vomito amores e canto palavrões, cada dia como qual, cada dia único.
Lá vão seis palavras pra você! Se quiser engole, se não rejeita: Quer ir comigo no shopping quarta? Quem sabe lá a gente troca mais de meia dúzia de palavras doces, e as multiplicas por sete. Ou sete vezes sete.



- Fácil falar quando um fio encapado todo cortado pelo arrastar dos móveis nos separa. Na realidade, falar é muito fácil. O difícil sempre é o fazer. Dizem que um gesto vale mais que mil palavras. Mentira. Nem que me paguem eu acredito nisso. Porque mil palavras podem atingir muito mais do que um gesto se forem bem escritas. Então não me venha dizer de lugares que nos encontramos, quantas vezes nos beijamos ou passeios no shopping para multiplicar tudo por sete vezes sete. Já me teve uma vez, e não soube valorizar devidamente. Tudo bem, eu compreendo.
Quem sabe um dia partilharemos das mesmas paisagens, mas não da mesma paisagem, eu saberei a sua flor favorita, e se você não tiver uma, não tem problema, eu compro os parques e as lojas, os canteiros e as praças pra descobrir qual delas faz você sorrir.


- Você odeia gerúndio, eu odeio passado. Dizem que o imperfeito não participa do passado. Mentira. Nem que me paguem eu acredito nisso. Mas confesso: você me conhece muito bem com meia dúzia de palavras. Sabe que eu não tenho uma paisagem favorita, não tenho uma flor favorita, e não tenho, principalmente, um jeito meigo de manter as coisas no seu curso normal.
Quer ir comigo no shopping sexta? Mas não de carro, nem de trem, nem de metrô. A gente iria de balão, de skate, de barco, de mãos dadas. E de jeito nenhum, nem que passassem correndo entre nós dois eu soltaria dela. Não naquele dia. O que vem depois não me diz mais respeito.
Chega de pensar o contrário. Todo mundo muda! E muda diariamente. Às vezes minha mão, no dia seguinte, queira apenas te pegar os cabelos, ou o rosto, ou as costas. E quer saber, queria te mandar comentar, e não reclamar. Seja mais passiva, sussurre, abrace, fale bem, não julgue. 



Pra que a sua vida siga adiante.

5 comentários:

  1. eu amei o texto,foi um dialogo serio,mas ao mesmo tempo cheio de poesia,acho que eles foram sim ao cinema,e multiplicaram sorrisos,dividiram afetos...

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  2. Olá Amanda, parabéns pelo espaço! Tem estilo! A escrita é muito legal....o visual é clean, você deve mexer com arte! Adorei e voltarei para acompanhar. O ambiente aqui é leve, gostoso! Abração.

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  3. Eu entendi que as duas "pessoas", é na verdade, a mesma pessoa.



    Errei muito?

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  4. Vim agradecer "a frase"!
    Faz arte com as palavras também?!
    Abração.

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  5. [b]muito bem escrito, gostei. bem contraditório por diversas vezes, assim como realmente acontece...rs

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