Ela é sem ritmo, é sem rima e é sem graça. Ela é estranha, é ruim e mal cantada. Ninguém sabe o que diz, mas sabem que ela é amarga. Dizem que chora, dizem que escorre lágrimas. Ela é assim, meio dúvida, meio certeza, meio dolorida, meio beleza. Ora soa gostosa, ora soa chorosa. A música se espalha pela casa como uma criança novata. Gosta dos vasos, desliza nos cantos, passa da mesa, pinga no banco. O homem, jogado no canto, pensando no amor, escuta com a certeza de que a música que toca não diz nada, não tem sentimento, não tem carinho, não tem bondade. O homem chora. O homem chora o passado, chora a vergonha, diz que é mal tratado. O homem sabe que está errado. O homem sabe que erra. O homem não arruma o passado. O homem desistiu de viver, desistiu do prazer, desistiu de querer. O homem percebeu que na sua vida, quem manda, são os outros. Seu amor, quem tem, é outrem. Sua dor, quem sente, é ninguém, senão ele, jogado na sala, sentado na mesa, com aquela velha incerteza... Será que um dia alguém vai saber o levar?
E a música toca, toca, toca sem parar.
E a música toca, toca, toca sem parar.
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