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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

carta de despedida

Eu abri a janela para que o ar arejasse as palavras difíceis que vou te escrever. Desesperada, tentei despejá-las ao vento para desviar o destinatário. Tentativa falha essa de querer separar do remetente o que se preparou durante meses para dizer. Nada é invenção, não quero fazer essa história virar poesia. Não tenho mar para descrever um encontro, só água suja indo para o ralo, agora.

Meu desejo era que você não me reconhecesse pela a caligrafia, e lesse essa carta como a de um desconhecido com o coração estraçalhado. No fim vou selar o envelope comigo na parte de fora dele, na tentativa de afastar a pessoa que um dia você conheceu, a fim de me tornar apenas mais uma página da sua vida, literalmente.

Tomei o cuidado para que por dentro você estivesse mais confortável, quando essa hora chegasse. De todas as outras cartas, essa é a única que não comecei com a habitual saudação. Troquei as canetas, o papel e não coloquei data. Tome-a como eterna, porque resolvi que assim vai ser. Só de sentir uma fresta de sol no meu olho esquerdo eu sei que nem te escrevo mais do mesmo lugar. O que quero dizer, desde o início, é que essa é uma carta de despedida definitiva. Tomei a liberdade de me despedir por você e por mim. De você, e de mim.

Um comentário:

  1. Pois as vezes é preciso se despedir, pra voltarmos a nós, pra sermos mais 'eu' que 'tu', pra sermos mais 'eu' que o 'nós', dói, machuca, mas não há ferida imperecível, nem dor perpétua.

    Te deixo o tempo.

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