Beatriz percebeu os sinais, aquelas premissas que preenchem os segundos antes do primeiro beijo. Mas não reagiu, apenas esperou com a boca entre aberta. Claro, o seu coração reagiu: passou a correr assim que os lábios se encontraram. Parecia que fugia desesperadamente, que já sabia que tentavam apanhá-lo, roubá-lo para a insensatez apaixonada.
O cérebro de Beatriz ainda não havia processado toda aquela coisa de razão, a razão estava de férias na verdade, só voltaria quando a merda toda já estivesse feita. Porém, processou muito bem as sensações, e fez com que a mão da outra garota deslizando pelo seu braço arrepiasse todos os seus pelos, e permitiu ainda, que ela sentisse a mão da garota apertar os seus dedos. Foi como apertar um botão, e o amor aconteceu diante dos olhos de Beatriz. Mas seus olhos estavam fechados enquanto sua língua sentia um novo sabor. Se ela tivesse visto, quem sabe até desse tempo de vestir uma armadura, pegar o escudo, desembainhar a espada e lutar contra. Que bobagem! Ninguém consegue ver o tal do amor aparecer. E quando se vê, já se está rendido, ele já lhe roubou o corpo, a razão, e usa da sua voz para dizeres lindos. Se quer saber, até os dentes da
Beatriz começaram a forçar sorrisos o tempo todo.
Com o passar dos dias,
Beatriz passou a reagir por si só. Tudo começou a fazer efeito, como uma pílula que se toma pela boca e o corpo começa a digerir. E aos poucos ela foi digerindo a idéia, até que um dia se olhou no espelho e constatou que estava realmente apaixonada. Foi como a maior descida da montanha-russa, sem voltas, apenas uma queda cheia de borboletas batendo suas lindas asas coloridas dentro de sua barriga. Por falar em cores, elas ficaram muito mais vivas, os olhos passaram a enxergar a beleza em tudo.
Beatriz sentiu que com a outra garota do seu lado, tanto fazia o cenário, tudo era bom: uma mesa para dois, uma calçada, um gramado, parque, ruas, quartos, salas, pátios, lojas, bancos, filas, esconderijos, a puta que pariu! De repente, o tempo resolve passar mais rápido, os sonhos aumentam de tamanho, o futuro vira um quadro bonito na parede, e acordar faz mais sentido.
Há tantos motivos para o fim de uma paixão: o famoso prazo de três anos, a mesmisse ou rotina, distância, mentiras, covardia, pouco caso e desapreço, ciúmes, tempestades, brigas com direito a roupas pelo ar e móveis caindo pela janela, desamor, infidelidade, e etcétera, e etcétera, e etcétera. Para não escolher o etcétera, eu vou escolher a infidelidade, que nada mais é uma soma de muitas das coisas que citei a cima. Na verdade, a infidelidade escolheu a Beatriz.
Quando o novo deixou de ser novo, perdeu a cor, perdeu o que interessava e entediou. Beatriz entediava, envelheceu o amor da outra garota, que de velho, morreu. Coisas como essas não se podem prever, não se têm aviso prévio, chegam a qualquer hora e os olhos não podem acompanhar. Alguém chegou, chacoalhou a outra garota, e lhe roubou o coração. Sabe, alguém sempre ama mais, geralmente é sempre quem sofre mais. Corações não se trocam, se roubam. É tudo uma questão de quem é o ladrão. Beatriz perdeu o coração, e a garota de descuidada que era, deixo-o cair no chão, e quebrou.
Era novidade chorar assim. O cenário de qualquer um, passou para nenhum. O tempo parou. Os sonhos diminuíram. O futuro caiu da parede. Nada mais fazia sentido. E não se podia lavar a mente dos pensamentos, muito menos das lembranças. Era preciso lidar com isso. Então a razão quis voltar, mas seu lugar já estava ocupado. Apertando-se um pouco aqui e alí com os devaneios de Beatriz, pôde-se tomar seu posto empoeirado de volta, mas doía um pouquinho. Tá, doía para caralho!
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